sábado, 11 de abril de 2009

La Alhambra

Os nobres cavaleiros Abencerrages foram massacrados dentro do palácio La Alhambra, sob suspeita de traição. Eles negaram ter feito qualquer acordo com os cristãos mas submeteram-se à morte e até hoje simbolizam a honra da nobreza moura da Espanha.

Este é apenas um dos fatos da rica história de Granada, último reino mouro a ser tomado pelos cristãos, completando a unificação do país pelos Reis Católicos.

Boabdil, o último rei mouro de Granada, caiu em prantos ao deixar a cidade e ouviu da sua mãe uma frase que também ficou para sempre: “chora como uma mulher pelo que não soubeste defender como um homem”.

Leio nos jornais que está sendo editado um CD sobre a história de La Alhambra com a tradução dos versos que decoram suas paredes. O palácio é o mais importante monumento a lembrar a presença moura na Península Ibérica. Granada é bem definida por outra frase que por lá circula: “mulher, dá-lhe uma esmola, porque não há nada mais triste do que ser cego em Granada”.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Deolindo Tavares

Deolindo Tavares nasceu no Recife em 21 de dezembro de 1918 e morreu aos 24 anos, em 6 de maio de 1942. Foi redator do Diário de Pernambuco e estudante de Direito. Sua obra poética foi publicada postumamente numa edição crítica de Fausto Cunha, em 1955, reeditada em 1988. É dele este belo poema sobre o dia de hoje.

Procissão

O Cristo de lábios roxos e face lívida
vai ser crucificado novamente
para gozo dos eróticos místicos;
o Cristo de cabelos longos e mofados
vai mais uma vez ser exposto
à degradação dos eróticos místicos.
Vinde ver as chagas sangrentas,
vinde ver o Cristo amarrado
passar sob as vistas das sensuais mulheres
entre vitrines e reclames de gás neon
para gozo dos eróticos místicos;
vinde, o espetáculo nunca deixou de ser inédito.
Vinde ouvir velhas megeras predizerem a destruição do mundo

que elas próprias destruíram,
vinde ver anjos e arcanjos, pintados e cansados
conduzirem o Cristo.
O Cristo lívido e de lábios roxos
segue no ombro de homens de sobrepeliz
para que todos vejam bem e saboreiem a tragédia.
Vinde ver como somente as prostitutas, os pederastas e os ébrios

estão mudos e não querem a destruição do mundo
porque nele esperam a redenção
carregando cruzes mais pesadas, talvez,
do que a deste pobre Cristo exangue e insone
através de todos os caminhos do mundo, até à morte.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Proibido fumar


Quando hoje vejo fumantes acuados nas portas dos edifícios onde são proibidos de entrar, quando me lembro dos trepidantes anúncios de cigarros na TV e das coloridas fotos nas páginas nobres das revistas, ainda me surpreende a rápida derrocada do hábito de fumar.

Do símbolo de status e poder que exalava, do charme social que possuia, o cigarro foi reduzido em poucos anos a um vício mesquinho e doentio.

Quase todos os fumantes que ainda insistem nesse hábito pensam em deixá-lo mas sentem-se incapazes. A cada dia novas doenças são associadas ao fumo, além do câncer pulmonar sobre o qual parece não haver mais dúvidas. É o terror substituindo o charme.

Pergunto-me sobre o que restou dos quinhentos anos de prazer que o fumo trouxe à civilização, quando foi descoberto logo após a conquista do Novo Mundo. Apenas isso, o medo das doenças, a bronquite e o câncer?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Orthorexia


Os diagnósticos divergentes da medicina nos deixam a nós, os pacientes, atônitos e confusos. Parece que são os médicos americanos os mais volúveis em condenar ou absolver alimentos e sintomas, costumes e estilos de vida. O que antes era uma ameaça, de repente passa a ser vital, recomendável para a manutenção da saúde. E citam-se pesquisas e provas que sustentam as radicais afirmações contra ou a favor.

Testemunhamos a condenação do ovo e depois sua absolvição como um dos alimentos mais completos e capazes de ajudar na boa saúde. A carne vermelha passou de essencial para o equilíbrio das proteínas à vilania. A gordura foi durante anos uma ameaça à sobrevivência e passa agora a ser fundamental para o equilíbrio das dietas.

O colesterol, que alguns dizem ser gordura e outros um álcool, acaba de ser retirado do rol das condenações absolutas. Começa a ser visto como importante para a saúde geral.

O terror alimentício chega a tal ponto que o médico americano Steven Bratman, em seu livro Health Food Junkies (“ viciados em comida saudável ”}, diagnostica uma nova doença, que chamou orthorexia, nome tirado das palavras gregas orthós – correto – e oréxis, apetite. Diz ele que a obsessão por comer corretamente é uma enorme ameaça à saúde, pois acaba por privar o organismo de nutrientes indispensáveis, como vitaminas e minerais.

E o paciente morre de inanição.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Bancos


Uma pequisa do Instituto Nielsen que acaba de sair nos EUA revela que o público sente a falta de publicidade dos bancos e financeiras. Com a crise, essas empresas interromperam os seus programas de marketing, preferindo o silêncio, imaginando que no news, good news. Tinham medo do desprestígio que passaram a sofrer junto ao público com a recente quebradeira e estão com certa alergia à publicidade.

O Nielsen traz algumas notícias tranquilizadoras, como a de que 55 por cento das pessoas ainda têm confiança no sistema financeiro. Os analistas dizem que uma publicidade bem dirigida será importante para dizer quem vai ou não se salvar num futuro próximo.

Segundo a pesquisa, os fatores que aumentariam a confiança na saúde dos bancos, seguradoras e financeiras seriam “ver regularmente publicidade” (25%); “receber emails ou ofertas”(25%) e “ver ofertas ou publicidade da companhia na Web” (21%). A maior porcentagem, no entanto, é a de pessoas que prefeririram “ler notas positivas na imprensa”.

sábado, 4 de abril de 2009

Bacalhau com capote

Pelo estilo do texto, pode-se ver que se trata de uma receita vinda de Portugal. Pois foi de lá que me enviaram. É um belo prato para se fazer neste fim de semana. Como não possuo foto da receita pronta , escolhi esta do peixe inteiro, saído do mar.

Bacalhau com capote

Cozer o bacalhau, segundo a regra, e dividi-lo em lascas miudinhas; cozer batatas e cortá¬-las em lascas.

Pôr ao lume uma frigideira com azeite, deitar dentro do azeite um dente de alho inteiro e, em começando a aloirar, retirá-lo; pôr então no azeite duas cebolas grandes corta¬das em rodelas muito fininhas, e, em estas estando loiras juntar-lhes o bacalhau, as batatas e temperar com pimenta, salsa muito picada e sal, se precisar.
Noutra frigideira grande, deitar um bocado de manteiga; bater seis ovos como para omelete e deitá-los na manteiga, deixando-os estender por toda a frigideira.

Fazer com o bacalhau e as batatas um rolo que se põe dentro dos ovos e embrulhar de forma que estes tapem o bacalhau; em seguida tirar para uma travessa e cobrir com molho branco ou molho de tomate.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Maratona


Antes de me aparecer no joelho uma sequela com nome de vegetal, condromalacia, fui um corredor de cerca de 10 quilômetros por dia. Um treinamento diário que costumava alternar com duas voltas na Lagoa Rodrigo de Freitas, nos fins de semana. A corrida me dava prazer e a frequência do treino me permitiu correr quatro maratonas, inclusive a de Nova Iorque, com sua impecável organização e a capacidade de mobilizar toda a cidade em torno de um grande evento.

Corri em muitas cidades, pois levava na bagagem, para onde fosse, um par de tênis, calção e camiseta. Uma forma prazerosa de conhecer as ruas de Viena, Paris, São Francisco, Brasília, Areias, no interior da Paraiba, Toquio, Madri, Vitória ou Hong Kong. Correndo.

Nunca fui um corredor rápido, meu melhor tempo na maratona foi de pouco menos de quatro horas. Alberto Salazar, o cubano que venceu a corrida em Nova Iorque, em 1982, com 2 horas e 8 minutos, enquanto dava uma entrevista viu chegar o meu pelotão, a turma das quatro horas, e disse para o repórter “correr pra valer são esses caras. Como conseguem suportar quatro horas seguidas?!”

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Psicopatas


Perigosos, perversos e insensíveis, mas simpáticos, inteligentes e sedutores, eles estão entre nós. Destituidos de compaixão, culpa ou remorso, são capazes de fingirem amizade e amor e assim enganarem amigos, sócios, namorados e amantes, com o simples objetivo de ganhar alguma vantagem. Eles usam as outras pessoas para satisfazerem seu egoismo e seu instinto violento e predatório.

Os psicopatas formam quatro por cento da humanidade. Este é o contingente formado por vigaristas, pedófilos, assaltantes e enganadores de todo gênero. Podem chegar facilmente ao homicídio e são capazes de matar pais, irmãos, mulheres ou maridos, se julgarem que isto é necessário às suas intenções de riqueza ou de poder. Costumam se dar bem na política, nos negócios e em carreiras profissionais e passarem toda uma vida sem serem descobertos. São chefes autoritários, políticos corruptos, empresários inescrupulosos. Eles são o lixo da humanidade.

Ana Beatriz Barbosa Silva traça o perfil dos psicopatas em seu livro Mentes Perigosas. Alem de boa escritora, ela é psiquiatra e conhece o assunto.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Embriaguez


Desde a antiguidade o homem aprendeu a fermentar e depois a destilar frutos e plantas com o fim de alterar seu modo de ver o mundo. A bebida como fonte de embriaguez. As sociedades mais primitivas descobriram um modo de acelerar a fermentação mastigando os frutos e depois plantaram a vinha, que marcou um estágio mais avançado na civilização.

A bebida destilada significou o domínio da tecnologia que veio com a industrialização e o resultado foi a descoberta de um produto mais concentrado do que o vinho ou a cerveja e portanto mais forte, com maior quantidade de álcool, de resultado mais rápido. A descoberta de que o álcool penetra rapidamente na corrente sanguinea e é capaz de provocar a embriaguez sem muita demora.

Depois vieram as drogas e sua economia clandestina dirigindo o crime, a violência e a morte.

O homem, este animal estranho, descobriu um dia que havia uma maneira de mudar a percepção da realidade e fazê-la parecer melhor. Era uma forma de tentar fugir e ao mesmo tempo encarar o seu trágico destino.

terça-feira, 31 de março de 2009

Fraudes e crimes


Camargo Correa, Opportunity e Daslu são três nomes que andam presentes no noticiário por força de ações policiais. São três grandes empresas que movimentam, juntas, alguns milhões de reais. Ou de dólares, porque todas têm grandes negócios internacionais. No caso da Daslu, na importação de marcas famosas de produtos de luxo, objetos do desejo entre os ricos do país. Samuel Wainer, em Razão de Viver, seu livro de memórias, escreveu que, para se contar a história política do Brasil no século XX, ter-se-ia de ir atrás das empreiteiras. E os bancos de investimento, com seus enormes fundos, são a locomotiva da moderna produção capitalista.

O comportamento dessas empresas revela casos isolados de desvios de conduta ou reflete um padrão seguido por muitas outras que não foram investigadas e descobertas? Fica sempre uma suspeita sobre a ética empresarial, com tantos e sucessivos escândalos, no Brasil e também em outros países civilizados. Nestes últimos, destacam-se os casos da Enrow, WorldCom/MCI, Parmalat, Madoff, entre dezenas de outras fraudes e crimes financeiros.

E me vem à memória, mais uma vez, o desapontamento da esposa de um empresário brasileiro com as novelas da TV, que têm mania de criar personagens de pouca honestidade na pele de empresários.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fast Food


Uma indústria que começou há 30 anos no Sul da California produzindo cachorro-quente e hamburger penetrou fundo na sociedade americana. Hoje, representa um negócio de 120 bilhões de dólares, mais do que os americanos investem em educação, computadores e carros novos. A partir desta informação, Eric Schlosser escreveu um livro e, baseado nele, Richard Linklater fez um filme-denúncia que revela com brutal sinceridade o que está por trás do negócio do fast food: produtos contaminados, exploração de trabalhadores mexicanos ilegais e criminosa irresponsabilidade dos altos executivos que dirigem as grandes marcas desses produtos.

O título do filme é Fast Food Nation e no Brasil ganhou o subtítulo Rede de Corrupção.

O roteiro é da autoria de ambos – Schlosser e Linklater – e o livro foi escrito a partir das reportagens investigativas escritas pelo primeiro no jornal Rolling Stones. Virou best-seller e correu o mundo transformado em filme. As denúncias são graves mas a indústria do fast food, que virou sinônimo da pobre gastronomia da classe média americana, continua faturando alto.

Quem quiser ler uma amostra do livro, em inglês, basta seguir este link: http://tinyurl.com/cwwr9u.

E mais detalhes sobre o filme no IMDB.

sábado, 28 de março de 2009

Risoto de bacalhau


Ingredientes
300 grs de arroz arbório
400 grs de bacalhau demolhado
4 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de azeite
1/2 unidades de cebola ralada
1 folha de louro
1 copo de vinho branco seco
1 litro de caldo de peixe
3 unidades de tomate sem peles e sem sementes
50 grs de queijo ralado
quanto baste de salsinha picada
quanto baste de sal

Modo de preparo

Com um pouco de azeite, refogue o bacalhau, os tomates picados e reserve.
Aqueça metade da manteiga e o restante do azeite.
Refogue a cebola levemente.
Adicione a folha de louro.
Acrescente o arroz e refogue levemente.
Junte o vinho branco e deixe reduzir.
Vá acrescentando o caldo de peixe aos poucos e mexendo sempre.
Adicione o bacalhau refogado com o tomate.
Corrija o sal. Retire a folha de louro.
Desligue o fogo e junte o restante da manteiga e o queijo ralado. Mexa bem e sirva na hora

sexta-feira, 27 de março de 2009

Teus fantasmas


Eles acompanham tuas horas e estão a teu lado todo o tempo. Estão próximos da ventania e têm odor de chuva ou do próprio sopro que vem junto ao orvalho na madrugada. Não te surpreendem porque não têm medo da escuridão e dos raios nem das armadilhas que a existência expõe pelas estradas.

Cegos diante da claridade do sol, olhos abertos noite adentro, viajam pelos sonhos e pelas correntes do pensamento, nos tropeços que revelam a inconsciente percepção de um enigma que permanece indecifrado. Viajam através das vagas na travessia de um deserto branco, silencioso e diferente dos objetos que enfeitam as paisagens ocultas.

Sabem tantos discursos e no entanto permanecem mudos, sombras tardias dos viventes de mundos paralelos. Mistérios.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Taxis


Paris é a cidade com o pior serviço de taxis que conheço. Para conseguir um, é preciso procurar o ponto fixo em algum lugar onde ninguém sabe onde fica e esperar. E é muito raro o motorista saber onde está a rua para onde você precisa ir. Tem de consultar o guia. Pelo que me disseram, o problema vem da existência de um cartel que impede novas licenças e porisso faltam taxis na cidade.

Em Londres, os taxis são confortáveis e os motoristas educados. Em Nova Iorque, os yellow cabs estão sempre ocupados e os seus condutores são geralmente destuidos de humor. Mas em Vitória, no Espírito Santo, eles são os mais desonestos, piores até do que os argentinos, vigaristas eméritos com extrema destreza, capazes de transformar uma nota de 50 pesos numa de cinco e ainda lhe dizer que falta completar a corrida que custou sete. Em Recife, se você for homem viajando sózinho e entra num taxi no aeroporto, o motorista vai querer logo lhe vender um programa com alguma prostituta que ele conhece e recomenda.

Dos que conheço por experiência, prefiro o serviço de taxis do Rio de Janeiro. A desorganização eterna da cidade distribuiu licenças sem critério e você não espera sequer um minuto para que um deles cruze a rua, numa diagonal que ameaça todo o trânsito, e pare na sua frente.

Já os motoristas cariocas, bem... essa é uma outra história.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Gran Torino


Com precisão e talento, ele já abordou quase todos os gêneros clássicos do cinema americano. Recriou o western, mergulhou nos conflitos das tramas policiais, dos romances de amor e dos dramas da guerra. Em todos os filmes que dirigiu, não deixou de lançar um olhar solidário sobre herois desiludidos, vivendo crise pessoal mas capazes de enfrentar, em situações extremas, as contradições e hostilidades do mundo que os confronta.

Seus mestres foram Sergio Leone e Don Siegel. Deles absorveu o cuidado com os detalhes da produção de um filme e um estilo capaz de agradar a todos e ao mesmo tempo surpreender o espectador, pela maneira criativa de narrar uma história.

Agora, aos 79 anos, Clint Eastwood nos traz uma dramática crônica sobre a velhice, a solidão e a dificuldade de aceitar o desaparecimento das referências pessoais num mundo em transição.

Gran Torino é um belo filme sobre a velhice e a redenção e sobre os valores capazes de justificar uma vida.

terça-feira, 24 de março de 2009

A nossa guerra


Dois helicópteros sobrevoam Copacabana e lembram uma cena do Apocalipse de Francis Coppola. Um é da polícia, outro me parece estar a serviço da cobertura jornalística da TV Globo. Carros da PM passam velozes pela Barata Ribeiro com as sirenes ligadas. Na esquina da Siqueira Campos, quatro soldados tensos abordam um motociclista com pistolas apontadas e prontas para atirar. Levantam sua camisa, mandam-lhe retirar o capacete, pedem os documentos da moto. Negro e pobre, pálido de medo, poderia ser um bandido. Ou não, apenas um motociclista a caminho do trabalho.

Desde sábado ouvem-se tiros disparados na favela da Ladeira dos Tabajaras. Rajadas, estampidos soltos que ecoam na madrugada. Experimento em Copacabana a mesma sensação dos habitantes de Beirute, durante a guerra civil, e de Bagdá sublevada.

Esta no entanto é a nossa guerra, que nos habituamos a ver na televisão e que a cada dia que passa chega mais perto de nós. A cada investida de um bando sobre outro, a cada intervenção da polícia, diante dos mortos e do medo das pessoas, nos perguntamos se esta guerra um dia terá fim. Penso que não, pelo menos enquanto as drogas, esta mercadoria valiosa e maldita, estiver sendo comercializada pelas associações criminosas criadas e nutridas nos guetos miseráveis da cidade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Marketing viral


As empresas estão deixando de gastar um bom dinheiro com a promoção dos seus produtos, usando o que se convencionou chamar de maketing viral. Basta produzir um comercial diferente, com cenas surpreendentes e enviá-lo para o Youtube e outros portais de vídeo. Os usuários da internet se encarregam de distribuí-lo, passando uns para os outros como se fosse um vírus.

O povo da internet ama os comerciais do Youtube, a ponto de enviá-los aos amigos, pelo simples fato de serem diferentes e mais criativos. Esta predileção traz prejuizos para a televisão comercial. Basta ver alguns anúncios de shampoo como estes aqui, veiculados de graça, com quase nenhum investimento dos fabricantes.

A Procter&Gamble, gigante americana de cosméticos e produtos de limpeza, há pouco lançou uma nova linha sem gastar um tostão. Um de seus executivos disse que, na TV, a campanha custaria algo em torno de cinco milhões de dólares.

sábado, 21 de março de 2009

Galinha ao molho pardo


Fim-de-semana, vamos novamente à cozinha. Hoje, trago a receita de uma galinha ou frango ao molho pardo, prato que relembra a condição carnívora da nossa espécie, grande apreciadora de pratos elaborados com sangue.

Eu poderia começar esta receita dizendo “mate uma galinha”, mas penso que os espíritos mais sensíveis devem encomendar a tarefa a quem não seja tão piedoso e pedir para colher o sangue, misturando-o a vinagre para não talhar. Reserve.

Corte a galinha aos pedaços.Tempere.

Frite os pedaços numa panela que você abandonará em seguida, mas transferindo um pouco da gordura para outra panela onde vai jogar, com ela já em fogo brando: tomate cortadinho, cebola picadinha, cheiros verdes, muito coentro, meio pimentão, pimenta ao gosto. Se quiser, ponha também uma lata de pomarolla. Um pouco de vinho tinto cairá bem. Deixe cozinhar uns 20 minutos. Quase na hora de servir, jogue por cima o sangue com vinagre e deixe ferver mais alguns minutos.

Sirva bem quente. Aproveite.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Gordos


Numa época em que se cultivam os magros, os gordos sentem-se excluídos. Ao contrário dos séculos passados, quando homens e mulheres exibiam corpos redondos e pesados e os magros, suspeitos de tísica, eram olhados com desconfiança.

Hoje, é difícil para os gordos encontrar o tamanho certo de roupa porque são raros os três X nas gôndolas das lojas, enquanto proliferam os talhes médio e pequeno, como se o mundo fosse habitado por adolescentes desnutridos.

As cadeiras são geralmente muito pequenas e se transformam em aparelhos de tortura nas longas viagens de avião, quando os cintos de segurança mostram que também foram imaginados para passageiros abaixo de um peso decente. E as companhias aéreas, ao mesmo tempo em que diminuíram o espaço entre as filas, aumentaram o número de cadeiras. As diminutas refeições atualmente servidas a bordo denunciam a conspiração destinada a manter os passageiros em condição de extrema magreza, de modo a que possam caber nas poltronas e nos banheiros das aeronaves.

Estas são injustiças menores, quando confrontadas com as que são cometidas pelos exames de sangue. As taxas indicadoras de perigo teimam em permanecer altas e os médicos, antes mesmo de examinar um gordo, dizem que ele precisa perder algum peso.

Todas estas são reflexões sombrias que povoam meus pensamentos enquanto me preparo emocionalmente para, mais uma vez, entrar numa dieta cruel e desumana.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Opinião Pública


Ela é temida e bajulada pelos poderosos. Governos, instituições, países, todos se rendem à sua força e a cortejam. Empresas foram criadas para tentar manejá-la, outras tantas para acompanhar os seus humores e oscilações e assim se formaram os grandes grupos mundiais de comunicação.

Poucos entenderam quando ela representa os consumidores ou os cidadãos, pois são as mesmas pessoas em momentos diferentes de estímulo emocional. Procuraram identificar aqueles que os institutos de pesquisas americanos chamaram de opinion leaders, ou opinion makers, aqueles que, gozando de grande credibilidade, influenciariam os outros, criando correntes favoráveis ou desfavoráveis a alguma coisa, idéia, produto, partido ou pessoa.

Ela é a opinião pública, estudada desde Platão mas que continua complexa e difícil de influenciar ou conduzir. Muitos pensam que a Mídia a constrói, mas a História conta como muitas campanhas orquestradas para conduzir a opinião pública foram tentativas vãs que obtiveram resultado contrário ao desejado.

Ela antecipa as grandes mudanças que ainda vão ocorrer numa sociedade ou mesmo em uma nação. Para que algo aconteça, é necessário que ela aprove e por isso é tão estudada, perquirida, acompanhada de perto.

Os políticos mais poderosos são sempre aqueles que desenvolveram a intuição de perceber suas tendências e aprenderam a com ela dialogar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Como fazer um filme ruim


Junte um elenco de atores famosos como Juliette Binoche, John Torturro e Nick Nolte; escreva uma história sem pé nem cabeça mas que tenha conexões com a realidade, como o ataque às Torres Gêmeas; misture com espionagem, incesto e subliteratura e aí você fará um filme como Quelques jours en septembre, no Brasil Segredos de Estado, uma produção francesa dirigida pelo argentino Santiago Amigorena. Foi talvez o pior filme produzido no ano de 2006, quando estreou.

O assassino psicopata da CIA vivido por Torturro recita poemas de Homero enquanto degola suas vítimas. Binoche não sabe o que fazer e passa o tempo olhando de um lado para o outro exibindo expressões que nada têm a ver com a cena que representa. Seu olhar, que é miope, põe a câmera fora de foco durante grande parte das sequências, num recurso primário que o diretor argentino deve ter julgado de grande criatividade. Dois jovens irmãos, interpretados por Sarah Forestier e Tom Riley, atores perdidos em seus personagens indefinidos, brindam a platéia com um incesto sem culpa. Nick Nolte, numa ponta, salva-se do desastre geral.

É um filme pretensioso, lento, confuso, um emaranhado de citações gratuitas. Santiago Amigorena escreveu o roteiro e, não contente com o resultado medíocre, dirigiu o filme.

terça-feira, 17 de março de 2009

Ladrões


Três ventanistas em plena atividade foram presos esta semana. Um em Santa Tereza, outro no Leblon e um terceiro em Piratininga. Depois de escalarem a parede, entraram pela janela para furtar. O de Piratininga, cansado, resolveu se estender um pouco e foi encontrado dormindo no sofá. A seu lado, o que havia reunido para roubar: um televisor, um aparelho de DVD, uma bicicleta, algumas roupas e um cortador de grama.

Esse tipo de ladrão que entra pela janela – ventana – está ficando fora de moda, pois a facilidade de ter uma arma e a violência implantada na cultura das grandes cidades institucionalizou o assalto brutal e homicida. É mais fácil, dá menos trabalho tomar a bolsa das mulheres no sinal de trânsito, armado com um revólver, do que escalar uma parede.

Não existem mais nem os ladrões pobres que roubavam galinhas, nem os artistas batedores de carteira que investiam tempo em treinar os dedos para que ficassem sensíveis, leves e ligeiros.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Melhor idade


Os mecanismos de marketing, que andam sempre na busca de novos segmentos de consumo, inventaram a tola expressão melhor idade. Nos países ricos, pesquisas passaram a medir o poder de compra dos velhos para incorporá-los ao mercado, desenvolver produtos adequados a suas necessidades e explorar seu potencial de consumo. No Brasil, o governo criou empréstimos dedutíveis da folha de pagamento dos aposentados e muitos estão hoje atolados em dívidas que não podem pagar.

Descortina-se um projeto de logro e exploração. A criação de slogans publicitários tem o objetivo de levar os velhos a acreditarem que se encontram mesmo na melhor idade e, por isso, devem comprar mais e usar seu pouco dinheiro para adquirir mercadorias de valor conspícuo.

Glamurizar a velhice, tentar convencer os velhos de que eles se encontram na melhor idade é uma mistificação cruel.

sábado, 14 de março de 2009

Feijão tropeiro


Sábado. Vamos para a cozinha e a sugestão de hoje é feijão tropeiro, prato que fazia o prazer dos antigos condutores de tropas de burro nas duras viagens pelo interior das Gerais.

Cozinhe o feijão e reserve. Não deixe cozinhar demais. Quase na hora de servir, coloque numa panela: pedaços de toucinho, defumado ou não, frite os torresmos e reserve. Na mesma panela, frite pedaços de linguica. Acrescente 2 ou 3 ovos inteiros, bastante cebola, pimenta do reino, sal com alho e refogue o feijão - sem o caldo.

Deixe ferver um pouco para tomar gosto.

Prove. Se necessário, retempere.

Quase na hora de servir, adicione ao feijão um pouco de farinha de mandioca, aos poucos, para não ficar muito seco. Vá sacudindo a panela, para misturar bem. Por ultimo, junto os torresmos que já estarão fritos e sirva bem quente, acompanhado de arroz branco e couve picadinha e refogada.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Os melhores meses do ano


Uma cidade que vive para o verão mas que tem nos meses de maio e de setembro os seus mais belos dias. Metrópole construida nos trópicos, ampliada sobre aterros e terras roubadas ao mar, o Rio sofre com inundações, deslizamentos e o forte calor que faz de novembro até abril. Só em maio a temperatura ganha graus civilizados, amenizada pela brisa fresca, pelo céu azul e pelas marés claras e tranquilas.

Em setembro, novas ondas de claridade e brisa lembram que é primavera, apesar de as mudanças sazonais não serem tão marcadas em nosso hemisfério. Uma velha senhora, nascida na Alemanha, me disse que no Brasil não se tinha a noção verdadeira da passagem do tempo, porque não se notava a troca das estações. Ela tinha envelhecido e não percebera.

A cidade se despede do verão em maio e espera por ele em setembro, pois é no verão que vive e se agita, regurgita e recebe seus visitantes. Mas ela se mostra melhor na despedida e antes do reencontro com a estação que mais ama.

Penso em maio e em setembro, nesses dias de sofrimento com as selvagens temperaturas das últimas semanas.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Religiões


O momento de maior esplendor da Igreja em seus 2009 anos de história foi durante os séculos da Idade Média. Ela nomeava os reis, o Papa dispunha de exércitos e os povos da Terra submetiam-se a seu poder, movidos pela fé e pelo medo da excomunhão e do inferno. A Igreja queimava bruxas e hereges e quem mais desafiasse seus dogmas e seu poder. Não incorporou até hoje sequer uma prática democrática e sua organização é rigorosamente a mesma dos tempos medievais. O Sumo Pontífice reina em nome de Deus, como os reis reinavam por direito divino. E seu organograma é cheio de príncipes, condes e viscondes com os títulos de cardeais, arcebispos e bispos.

A separação da Igreja dos Estados modernos foi uma conquista que diminuiu o seu poder político e a liberdade de cultos reduziu a influência de uma única religião. Mas os novos cultos evangélicos, inspirados numa interpretação tendenciosa dos textos da Bíblia, são vetores de exploração dos humildes e do enriquecimento ilícito dos seus pastores. Em nosso país, avançam sobre a mídia e estão a se dar bem na política.

O sonho de todas as religiões é o poder político, no modelo de países como o Irã, o Afeganistão dos mujahidin e as outras repúblicas ou monarquias islâmicas.

As religiões amam o atraso.

terça-feira, 10 de março de 2009

É a guerra


Ontem, prometi falar de bebidas pesadas, mas hoje resolvi falar de refrigerantes e da guerra que travam entre si, no mercado americano, duas marcas de sabor cítrico. Uma, chamada Mountain Dew, pertence à Pepsi e a outra, com o nome de Vault, à Coca Cola. Mountain Dew tem 80% do segmento do sabor cítrico e Vault apenas 4% e porisso a Coca resolveu partir para o confronto: de agora até julho, quem comprar o refrigerante da Pepsi ganha um cupom que vale, gratuitamente, uma garrafa da marca da Coca Cola.

A Coca Cola, acostumada a liderar o mercado, não se conforma em levar uma goleada da sua arqui-rival e garante que a situação vai mudar quando os consumidores americanos, pressionados pela crise, provarem da sua marca sem precisar pagar nem um centavo. Frank Cooper, um executivo da Pepsi, diz que sua empresa está tranquila, pois quando o consumidor provar Vault, vai notar que Mountain Dew é melhor.

A Pepsi toma um gole da própria receita, pois foi ela que, nos anos 80, lançou uma campanha com o tema O desafio Pepsi, que promovia nas ruas testes de sabor comparando o seu com o da Coca Cola e dizia que, em todos os testes, saía ganhando.

Agora, é esperar para ver. Esse tipo de promoção, muito agressiva e direta, não é permitido no Brasil, porque cita sem subterfúgios o nome do concorrente. Somos um povo que se julga muito cordial, incapaz de falar mal dos outros.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vinho, cerveja, uísque, cachaça


O amigo Marcus Ulysses reclama do Blog, que não tem mulheres e bebidas. Ele tem razão, pois o hedonismo não inventou nada melhor do que o slogan Sex, drugs and rock-and-roll. Como poderia responder-lhe? Mulheres? O que diriam a dele e a minha? Rock-and-roll? Não dispomos mais de preparo físico para dançá-lo, embora ele, bem mais jóvem, até que poderia fazer sucesso numa pista de dança.

Restam as bebidas. La liberté par l’ivresse. Vou dedicar algum tempo a refletir sobre a bebida, o que ela tem representado para a humanidade desde o dia em que Noé, bêbado de vinho, violentou as filhas. Noé não mereceu a bebida que bebeu e o vinho da sua época certamente era de má qualidade. Pior, talvez, do que o vinho que alguns comerciantes franceses de pouco escrúpulo nos mandam com o rótulo de Bordeaux.

É provável que eu venha a falar de vinhos, de cerveja, de uísque e de cachaça, duas bebidas fermentadas, duas destiladas, todas elas capazes de representar esta núvem de escapismo que os homens descobriram para olhar para o mundo e serem capazes de entendê-lo.

sábado, 7 de março de 2009

Fritada de siri que não leva siri

Fim de semana, vamos para a cozinha. É bom aproveitar o sábado, pois o calor melhorou. Muito pouco, mas melhorou: 29graus em Copacabana. A receita é de uma fritada de siri em que o siri foi substituído por repolho e coco ralado. E o resultado é muito bom.

Ingredientes
.1 repolho de 1 kg
.10 ovos
.1 colher de sopa de manteiga
.1/4 de xícara de azeite .
.1 coco médio ralado
.2 cebolas grandes batidinhas
.3 dentes de alho socados
.3 tomates picadinhos sem peles e sementes
.2 pimentões vermelhos picadinhos
.4 colheres de sopa de coentro picadinho
.4 colheres de sopa de queijo ralado
.Sal
.Pimenta do reino
.Azeitonas verdes para enfeitar

Modo de fazer

1a. Etapa - Desfolhe o repolho, retire os talos duros e corte bem fininho. Afervente e escorra bem. Ponha em uma tábua e bata com faca até que fique inteiramente desfeito.

2a. Etapa - Doure no azeite e na manteiga todos os temperos. Junte o repolho, refogue bem, acrescente os cheiros verdes e torne a refogar. Adicione o coco ralado e duas colheres de queijo parmesão ralado. Misture bem, tempere a gosto. Cubra com os ovos temperados com um pouco de sal. Polvilhe com queijo e enfeite com rodelas de tomate e azeitonas inteiras. Asse em forno quente. Pode ser servido, também, como acompanhamento de peixes e carnes.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Mutações


Cada época da história humana tem seu jeito de ser. Com seus costumes próprios, sua moral, a moda do momento, a mentalidade vigente. Vai se alterando a forma de pensar, de olhar o outro, e o próprio comportamento individual sofre grandes mudanças. Quem nasceu em 1900 viveu num outro mundo quando atingiu a maturidade nos anos 50. Passou a infância com bondes puxados a burro e, adulto, viajava em aviões e se locomovia em rápidos automóveis.

Muda também a forma de pensar e a maneira de conviver. Quanta diferença entre como pensava, no Ocidente, o homem medieval e como pensa hoje quem vive no nosso século. Frisei no Ocidente porque a humanidade não evolui de forma homogênea e existem, ainda hoje, sociedades que se encontram em plena Idade Média, a exemplo de alguns países árabes. Outras que ainda não sairam da pré-história, como é o caso de algumas tribos indígenas insuladas.

Penso que essas contradições não significam que as pessoas sejam mais ou menos infelizes, em cada um dos estágios da evolução social. Mas a diferença da mentalidade vigente em cada época é muito grande. As características do pensamento moral de cada século provavelmente levaria em direção à loucura um homem do século XIX que, de súbito, se visse em pleno século XXI.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A invenção de Orfeu


Há muitos anos, há distantes, longos anos, o poeta Luiz Carlos Guimarães me emprestou Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, uma obra-prima que era então lançada em sua primeira edição. Trata-se de um raro momento da grande poesia em língua portuguesa e nós éramos dois adolescentes embriagados de poesia na pequena cidade onde vivíamos. Um dia Luiz Carlos voltou para sua terra e esqueceu o livro em minhas mãos. Foi ser juiz de direito no Rio Grande do Norte e escrever sua própria e bela poesia.

A Invenção de Orfeu, com seus sonetos que chegam muito perto da perfeição, acompanhou-me pela vida afora. Não foi perdido durante as mudanças enfrentadas, não se misturou com as coisas que se ganha e que se perde na vida.

Tornamos a nos encontrar, Luiz Carlos e eu, já maduros, ele já aposentado da profissão de juiz, sem sabermos que estávamos próximos da sua morte. Ele não quis o livro de volta e escreveu na página de rosto a dedicatória tardia – “para Celso, cinquenta anos depois”.

terça-feira, 3 de março de 2009

Calor do verão


É o principal assunto a iniciar as conversas, esta semana no Rio de Janeiro. Antes mesmo da saudação, do bom-dia ou, mais ainda, do boa-tarde, vem a exclamação “que calor!” A cara das pessoas na rua não deixa lugar para a dúvida. Está fazendo mesmo muito calor, a temperatura não baixou dos trinta graus nos últimos dias e tem andado na direção dos 40, a marca tradicional da cidade no seu típico verão.

Os serviços de meteorologia informam que uma massa tropical estacionada sobre a região Sudeste impede a entrada das frentes frias e o carioca se sente em dúvidas. Gostaria que chovesse como no Sul do país, onde as tempestades realizam grandes estragos, ou continuar sob esta canícula senegalesca? Talvez seja melhor deixar como está, pois afinal de contas está dando praia.

A previsão dos próximos dias é de mais calor, embora não se possa confiar muito, pois o hemisfério Sul é traiçoeiro e as condições climáticas mudam sem aviso prévio. Pode ser que chova, mas é bom lembrar da força avassaladora das águas de março fechando o verão.

domingo, 1 de março de 2009

O medo


O medo transformado em terror virou um gênero do cinema e alimenta os fantasmas existentes no inconsciente das crianças e dos adolescentes. Mas antes do cinema a literatura do medo e do susto fez sucesso a partir do século XIX. Frankestein ou o moderno Prometeu, de Mary Shelley, é de 1816; Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, é de 1885 e Drácula, de Bram Stocker, é de 1897. Esses três livros, juntos, já renderam mais de 200 filmes.

Antes mesmo de virar tema na literatura e no cinema, o medo sempre existiu no coração dos homens. Lendas antigas, desde a Odisséia com seus monstros horríveis ameaçando os marinheiros de Ulisses, já revelam a expressão do terror. Os demônios estiveram sempre presentes na lendas medievais. Mitos sombrios como a alma que vem reclamar o sepultamento dos seus ossos, o homem lobo, a presença da Morte com a sua impiedosa foice, o inferno usado pela Igreja para amedrontar e submeter os seus rebanhos.

Os políticos fazem uso do medo para construírem as bases do seu poder, como nos mostra o documentário O Poder dos Pesadelos, produzido pela BBC. Veja aqui a primeira parte.

O medo nos cerca e nos oprime. No passado, ele se originava nas ameaças da natureza mas hoje são os homens que aterrorizam os outros homens. Em muitas cidades do mundo, as pessoas têm medo das crianças que encontram na rua.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

As mulheres de Picasso


Das mulheres que teve em sua longa vida, só uma o acompanhou desde criança.

Amélie Lang ele a conheceu em 1905, quando tinha 23 anos de idade. Olga Khokhlova, uma bailarina russa, ele a encontrou e se apaixonou por ela em 1918, até o dia, em 1927, em que veio a conhecer Marie-Thérese Walter, com quem teve a filha Maya e que veio a se matar muitos anos depois, em 1977.

Henriette Theodora Markovitch, uma mulher bela e triste, nascida na Croácia, entrou na sua vida em 1936. Ele a deixou em 1943, quando já tinha 60 anos e se apaixonou por Françoise Gilot, de 21, que lhe deu dois filhos – Claude e Paloma – e que o abandonou dez anos depois.

Jacqueline Rocque, sua última companheira oficial, ele a conheceu em 1954 e viveu com ela até a morte, na cidade de Mougins, em 1973. Jacqueline também se matou com um tiro na cabeça treze anos depois da morte de Picasso.

Quando tinha noventa anos, Pablo Picasso disse numa entrevista que pensava na morte desde a infância. Ela, declarou na ocasião, havia sido a única mulher que o acompanhara durante toda a vida.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ecos do carnaval


O fim do carnaval traz uma certa atmosfera de paz à cidade que tanto se agitou durante quatro dias seguidos. Pelo que fiquei sabendo, o carnaval de rua reaparece aos poucos e a festa, no Rio de Janeiro, não fica mais restrita à Marquês de Sapucaí. O desfile das escolas de samba é uma exibição elitizada, comandada pelos chefões do jogo-do-bicho onde se misturam crime, governo e sociedade numa união promíscua que exigiria uma certa reflexão.

Por falar em elitização do carnaval, no de Salvador um abadá – mortalha de luxo exigida de quem pretende acompanhar um bloco – chegou a custar, este ano, R$840. Por dia.

Aqui em Copacabana, passaram pela rua muitos blocos puxados por carros de som, formados por foliões pobres, maltrapilhos de verdade, não era fantasia, junto com alguns turistas muito brancos, avermelhados de sol.

Enfim, acabou a festa. E eu continuo pensando no que faz uma pessoa animar-se toda, dar um salto e sair pulando ao ouvir os primeiros acordes de “Mamãe eu quero mamar”.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Recife


Na última vez em que estive em Recife, fui passear à noite pelas ruas que frequentei quando estudante. Senti-me atônito com a miséria do centro. Era uma multidão de miseráveis ocupando as ruas da margem do Capibaribe, principalmente a Rua do Sol, que fica no lado oposto à Rua da Aurora, num simbolismo poético que nos encantava. Eramos adolescentes tomados pela poesia de uma cidade que julgavamos uma das mais belas do mundo, com seus rios e suas ilhas urbanas.

Mas aquela beleza não suportou o êxodo das populações muito pobres que vieram construir a miséria da cidade grande. A metrópole regional é para onde acorrem os sem nada, na esperança de viverem dos refugos e das sobras que podem ser encontrados no lixo dos abastados.

Nessa noite em que eu passeava no meio daquele mar de gente feia e doente, cenário humano da verdadeira miséria, onde a violência encontra o melhor ambiente para explodir, um homem estourou com uma pesada pedra a cabeça de um outro que dormia na calçada da Rua do Sol. Eu vi.

Essa lembrança me vem agora, quando acabo de ler no jornal que Recife vai sediar uma das próximas lojas da griffe de luxo Louis Vuitton. Entre outros produtos criados para os ricos do mundo, ela acaba de lançar a linha de diamantes Les Ardents, com lapidação exclusiva.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Farenheit


O livro de Ray Bradbury é de 1953, o filme de François Truffaut é de 1966 e o de Michel Moore, de 2004. Truffaut filmou a história contada no livro de Bradbury, Farenheit 451, cujo título é uma referência à temperatura em que arde o papel, pois se passa num futuro próximo em que os livros são impiedosamene queimados. O conteúdo divulgado por eles não é desejado por uma ditadura. Toda ditadura tem medo de livros.

Já Farenheit 9/11, de Michel Moore, é uma alusão à data do ataque e à temperatura em que arderia a liberdade, na concepção simbólica deste poderoso documentário sobre os acontecimentos que se seguiram à derrubada das Torres Gêmeas. Este é um assunto que, por mais discutidas que sejam suas causas e consequências, permanecerá sempre com algum sentido obscuro: o governo americano sabia, antecipadamente, que haveria o ataque? O que tinha a ver o Iraque, em guerra até hoje, com aquele acontecimento? Quais as verdadeiras causas da invasão do Afeganistão e do Iraque, cujos governos, em tempos recentes, haviam sido aliados do governo americano?

As perguntas são muitas e vão permanecer, junto a outros equívocos e suspeitas, como um triste legado do segundo governo dos neoconservadores americanos. O primeiro foi o de Ronald Reagan.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A mulher ao lado

A mulher na mesa ao lado jura que é fiel. Ela é feia. O homem que a escuta também é feio. Ela fala sem parar e o homem escuta calado. Ela diz que tem o hábito da fidelidade e afirma que é fiel a sua geladeira e ao seu micro-ondas. A meu marido, ela diz, “sou fiel até debaixo d’água”. Penso no que faria uma pessoa ser fiel a uma geladeira e a um micro-ondas ou ser fiel ao marido debaixo d’água.

Estou almoçando sozinho, tento retirar minha atenção da mesa ao lado e não consigo. Ela fala alto, a voz é desagradável, de modo que continuo a acompanhar a sua vida. Não gosta de cebola, não consegue entender por que botam cebola na salada, chama o garçon e manda que retirem a cebola da salada, diz que não sei quem do Big Brother é mau caráter, vai passar o carnaval em Araruama e sua irmã, aquela piranha, vai sair numa escola de samba.

Ela continua falando, o homem feio escuta, consigo me desligar da sua conversa pensando em outras coisas e só agora me lembrei da sua voz desagradável e me pergunto se ela estava tentando impressionar o homem sentado a sua frente. Ou se ele era o marido a quem ela era fiel até debaixo d’água.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Semana pré-carnavalesca


A cidade se agita em datas de festas. Natal e Carnaval são os picos desse entusiasmo coletivo que se mistura ao calor do verão para resultar no confuso tempo de compras e de alegria, ambas obrigatórias. Compras obrigatórias no Natal, alegria obrigatória no Carnaval. Num, o comercio festeja vendas récordes, no outro a indústria de bebidas e de outras drogas menos santas superam suas próprias previsões. A indústria de preservativos também festeja o carnaval.

Nesta semana pré-carnavalesca, o trânsito pesado reflete o estado de espírito da cidade. As pessoas saem à rua e se transformam em povo e o povo se transforma em blocos que exalam odor de suor e de cerveja. Cada bairro tem mais de um desses grandes aglomerados humanos inquietos que arrastam multidões em cortejos absurdos. O ruido produzido por um desses blocos é superior em volume ao estrondo de um trovão sobre nossa cabeça, só que não é passageiro como um trovão.

Suvaco do Cristo, Vem ni mim que sou facinha, Xupa mas não baba, Imprensa que eu gamo, Mulheres de Chico, Se não quer me dar…me empresta, Cutucano atrás, Se me der eu como, Rola preguiçosa, Que merda é essa?, Spanta neném, Berro da viuva, Eu sou eu e jacaré é bicho d’água, Bengalafumenga, Nem muda nem sai de cima, Gargalhada e do babaçu abunda e cerveja também, Bafo da onça, Bloco dos cachaças, Bagunça meu coreto, Meu bem volto já, Concentra mas não sai, Empurra que pega, Barangal e Senta que eu empurro são alguns dos comportados e barulhentos blocos que desfilam esta semana.

Evoé, Baco!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O banquete

Epicuro de Samos, no século IV a.C, não entendia por que o animal humano se esconde para exercer as funções excretoras e come despudoradamente em público, junto aos outros humanos. Comer é um ato social, o homem não ama comer sozinho e o faz de maneira ritual, em horas marcadas, com os mesmos gestos e da mesma forma, todos os dias, repetidamente.

Estes pensamentos me ocorreram ontem, quando fui assistir Operação Valquiria, no Shopping Botafogo, sessão das 13:30 hs. O filme é ruim, não vou comentá-lo, mas me chamou a atenção a multidão que comia na praça de alimentação, por onde se passa para ir ao cinema. Fiz, com o celular, a foto acima. Calculo algo em torno de 400 pessoas sentadas, mastigando a comida comprada em dezenas de restaurantes que circundam as mesas.

Submetidos à escravidão das horas, ruminantes apressados, a sós ou em grupos, os convivas daquele insólito banquete formavam um comportado rebanho que se alimentava em comunhão diária, dentro de um templo de consumo ruidoso e entediante.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O velho Charles


O amigo Carlos Cordeiro me envia um filme em que Charles Aznavour canta Hier encore na companhia de duas lindas moças que participavam de um concurso de jovens cantoras. Elas o acompanham e lhe fazem coro na melancólica canção. Veja aqui.

A saudade da juventude costuma atacar os velhos e por isso é interessante e contraditório ver as duas garotas, recém saídas da adolescência, ajudá-lo a entoar a triste canção de um tempo perdido.

A juventude se esgota de maneira fugaz. Ela foi definida por Joseph Conrad, em seu conto Youth, como um instante de força e romance, algo que, enquanto lançamos um olhar ansioso para fora da vida, enquanto esperamos, já passou. Um rápido raio de sol (a flash of sunshine) sobre uma estranha praia, assim ele a descreve.

Aznavour é um artista de grande fôlego. Atuou em mais de 60 filmes e compôs 850 canções. Além do francês, criou muitas em inglês, italiano, espanhol e alemão. Sua voz de tenor muitas vezes é modulada para baixo e ele consegue o tom de um barítono. Por ter apenas 1,60mts., compensou a pequena estatura desenvolvendo uma enorme presença no palco.

Está com 85 anos e sua voz permanece poderosa. Continua a cantar.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Frango assado com farofa


Para este fim-de-semana, segue uma inspirada receita de frango assado com farofa, prato que se encontra entre as grandes criações da cozinha brasileira.

Ingredientes: 1 frango de cerca de 1 ½ quilo; 1 limão; 1 cebola média; 100 gramas de toucinho defumado; 1 folha de louro; 1 colher de sopa de óleo; 2 ½ colheres de sopa de manteiga; 3 xícaras de chá de farinha de mesa tostadinha; 4 ovos; ½ xícara de chá de azeitonas pretas picadas; 1 colher de sopa cheia de salsa picada; sal e pimenta.

Limpe o frango, lave e tempere com caldo de limão, sal e pimenta. Escorra e recheie com ½ cebola em rodelas, a folha de louro e metade do toucinho. Cruze as patas e amarre. Dobre as asas para trás e acomode numa assadeira untada com o óleo. Besunte todo o frango com 1 colher de sopa de manteiga. Leve ao forno regular e pré-aquecido por cerca de 45 minutos. Quando começar a frigir, molhe com ½ copo de água quente e vá virando para que toste por igual, sem esquecer de regar o frango com o próprio molho. Pique o restante do toucinho e frite em 1 colher de sopa de manteiga. Misture os torresmos com ½ cebola batidinha e espere alourar. Refogue os miúdos limpos, lavados e picadinhos, até que comecem a frigir. Molhe com um copo de água e cozinhe em fogo brando até que estejam macios e quase sem molho. Prepare os ovos mexidos em ponto mole, em ½ colher de sopa de manteiga. Misture com os miúdos e com a farinha de mesa e mexa bem, em fogo brando. Desmanche o fundo da assadeira com um pouquinho de água e misture o molho à farofa, tornando a mexer bem. Por último, acrescente a salsinha. Corte o frango em pedaços grandes e arrume sobre a farofa.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Chuvas



Como as tempestades de neve nos países europeus durante o inverno e os seus periódicos cataclismos, a chuva perturba o Rio nos meses de verão. Relatos desde o século XVI trazem notícias de cíclicas enchentes e avalanches destruidoras. Os habitantes das favelas implantadas nos morros entram em pânico a cada chuva forte, pois as consequências podem ser a perda da casa onde vivem e dos bens conquistados a custa de sacrifício, sem contar o risco da própria vida.

O trágico se faz presente no Rio e em outros pontos do país, durante o verão. A natureza cobra o seu tributo pelos aterros, o entupimento dos rios assoreados pelo lixo e a ocupação desordenada das encostas.

Numa das últimas dessas grandes inundações, fiquei ilhado no Catete e me refugiei no Bar do Getúlio, em frente ao Palácio. As águas subiram, cobriram a rua e em pouco tempo chegaram quase ao nível do assento das cadeiras. Com os pés sobre a mesa, esperei a passagem das horas e a melhora do tempo.

Fiz a foto acima nessa ocasião, fazendo uso do celular. Ainda bem que o intrépido garçom continuou a servir o chope, amenizando a desagradável espera.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Belinha



Faz algum tempo, escrevi um artigo sobre gatos. Está em http://www.umacoisaeoutra.com.br/cultura/gatos.htm . Os gatos são criaturas misteriosas e belas, selvagens e gentis. Como todos os seres vivos, adoecem e morrem. E, como acontece com os homens, há um trabalho constante pela sua saúde e para evitar a morte precoce, pois a vida está sempre ameaçada pela morte.

Na semana passada, Belinha, uma gata saudável, inteligente e alegre – dedicamos um ao outro, ela e eu, grande amizade – apareceu com vômitos de sangue. Levada a uma clínica veterinária, foram diagnosticadas gastrite crônica, inflamação hepática e a presença de corpos estranhos nos intestinos. Foi recomendada uma cirurgia de urgência para a retirada desses corpos estranhos A operação não foi realizada imediatamente porque o anestesista não foi localizado. Ficou para o dia seguinte. E para o outro, quando foi mais uma vez adiada. No quarto dia, ela foi retirada da clínica e entregue aos cuidados de uma médica veterinária, que a tratou de uma forte intoxicação.

Belinha passa bem. Parece que escapou de uma perigosa intervenção cirúrgica porque o anestesista desapareceu em recantos insondáveis.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Atores



Foi Luiz Augusto Candau quem me chamou a atenção para o fato de que o ator americano só aprende mesmo a ser ator quando envelhece. Enquanto jovem, é apenas um rosto bonito ou diferente, um modelo que a indústria do cinema aproveita para seus produtos. São raros os bons atores jovens, como Marlon Brando o foi desde seu primeiro sucesso, Um bonde chamado desejo, de Elia Kazan, em 1951. Ele tinha então 27 anos.

Clint Eastwood, que foi um ator de segunda nos falsos westerns italianos, encontra-se hoje no primeiro time hollyoodiano e transformou-se num festejado diretor. Seu talento despontou com a experiência da idade.

Marilyn Monroe jamais foi reconhecida como atriz e fez um enorme esforço nesse sentido. Procurou intelectualizar-se, matriculou-se no Actors Studio e tentou dar um salto para fugir do star system, que a obrigou a fazer, sempre, o mesmo papel de loura alienada. A tragédia da sua vida pessoal interrompeu, aos 36 anos, toda a sua busca pela nobreza da profissão.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sonhos



Quando sonhamos, dá-se o despertar da nossa vida inconsciente. Quando conseguimos nos lembrar do que sonhamos, nem sempre a lembrança é de conteúdo lógico, que possua um desenrolar capaz de ser contado, algo que tenha começo, meio e fim. São sensações, visões e emoções encadeadas que formam estranho painel refletindo essa misteriosa vida que existe por baixo da nossa vida consciente. Não há tempo nem espaço definidos, só vivências interiores, longas e extraordinárias, que podem ocorrer durante o cochilo que dura apenas um segundo, o tempo de um cabecear, mas onde se sucedem experiências que parecem prolongadas num tempo infinito.

Parece que sonhamos durante o sono mais leve, aquele que surge logo que adormecemos e que retorna pouco antes do despertar. Do sonho do sono profundo, nada fica em nossa memória consciente. Mas desconfio que muitas das nossas reações espontâneas, os rápidos reflexos que às vezes possuimos diante da vida, muitas das resoluções que nos ocorrem diante de problemas complicados, são todos construidos pelas vivências que sonhamos, em sua linguagem irracional e fora do mundo lógico.

Penso que se todos os nossos sonhos durante o sono profundo fossem lembrados, seríamos levados a confundir a realidade com o mundo onírico. Não é isto o que ocorre com os loucos?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Arroz de Braga



Sábado, dia de ir para a cozinha, e aqui vai bela receita do arroz que fez famosa a culinária de Braga.

Arroz de Braga

Ingredientes
2 xícaras de caldo de carne, 2 xícaras de água a ferver, 150g. de linguiça, 1 paio,100g de toucinho defumado picado, 2 colheres de óleo, 4 sobrecoxas de frango,1 cebola picada,2 xícaras de chá de arroz, ½ repolho pequeno, 1 tomate picado, sal a gosto.

Modo de fazer
Corte a linguiça e o paio em rodelas e reserve. Aqueça o óleo, frite nele o toucinho e junte o frango, fritando até ficar bem dourado. Acrescente o paio e a linguiça e frite mais um pouco. Junte o arroz previamente lavado e seco e deixe refogar durante alguns minutos. Despeje o caldo e a água a ferver e, quando levantar fervura, acrescente o repolho cortado em pedaços grandes e o tomate. Diminua o fogo e deixe cozinhar durante aproximadamente 15 minutos, até que a superfície apareça seca. Abafe a panela embrulhando-a em jornais e deixe descansar 10 minutos antes de servir.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Calor



A temperatura alta do verão carioca, a umidade do ar e o sol forte desses dias me fazem lembrar um texto de Borges que fala da humilhação do calor. Acho que é isso: o calor humilha as pessoas, a roupa se cola ao corpo e o suor desce pelo rosto, o seu e o dos passantes. Você se sente como se carregasse bolas de ferro amarradas aos tornozelos. Todos reclamam do calor, uma mulher se abana de maneira nervosa e um camelô vende leques na calçada.

Uma amiga que nasceu e vive na Europa me disse um dia que a lembrança mais forte dos dias que passou no Rio, durante um mês de fevereiro, era a de uma gota de suor que lhe escorria, permanentemente, espinha abaixo. No calor europeu do mês de junho, não há suor. A baixa umidade do ar provoca um calor seco e sufocante.

O Rio é uma cidade que vive o verão. É quando ela mostra sua face verdadeira, regurgita, festeja e, literalmente, põe o bloco na rua em desfiles carnavalescos que começam desde janeiro. De abril a setembro, a cidade hiberna, esperando estes meses quentes de praias cheias, asfalto amolecido, bares com todas as mesas ocupadas, mulheres seminuas, samba e calor humilhante.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Claro enigma



Dizem que Hipolito Irigoyen, que foi presidente da Argentina duas vezes (de 1916 a 1922 e de 1928 a 1930), reuniu a família logo depois de ter sido eleito para pedir que todos passassem a economizar e gastar menos porque, dali em diante, ele iria ganhar muito pouco na presidência da República. O salário era muito baixo.

Este episódio me ocorreu depois que li nos jornais que um ex-governador de Minas foi acusado pela ex-mulher de possuir um patrimonio que ela diz ser de R$3 bilhões e que ele próprio afirmou ser bem maior do que isso. Entre centenas de propriedades, é dono do hotel Résidences des Halles, em Paris. Ele era um homem pobre quando entrou na política.

Não conheço nenhum político brasileiro que tenha chegado pobre ao fim de um mandato. Um político ganha bem no Brasil. Como? De que forma? Os salários aqui também são baixos nos cargos públicos mas um mandato de quatro anos é capaz de amealhar uma fortuna que necessita de mais de uma geração para ser acumulada num trabalho empresarial produtivo.

Trata-se de um claro enigma.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Voyerismo



Na mesa ao lado, discutia-se o paredão e meu pensamento voltou a 1959, há cinquenta anos, portanto, quando a revolucão cubana entrou vitoriosa em Havana. Iniciaram-se os julgamentos públicos e criminosos do regime anterior foram justiçados por fuzilamento contra um largo muro. No estádio onde se davam os julgamentos, o povo gritava como se fora a torcida de um time de futebol: Paredon! Paredon! pedindo justiça rápida.

Demorou pouco para que eu percebesse que o paredão de que tratava a conversa entre quatro homens adultos era o do Big Brother, medíocre programa de televisão cujo título foi tirado de um célebre romance de George Orwell.

Nos anos 70, assisti em Nova Iorque à palestra do diretor de Mídia da Ted Bates, importante agência de publicidade que desapareceu no meio das várias fusões e incorporações ocorridas durante o processo de concentração do negócio publicitário. Não me lembro do seu nome, mas da essência da sua palestra: nos próximos anos, iríamos assistir ao fortalecimento das publicações e dos programas dirigidos ao voyerismo do público. A classe média, dizia, quer saber como vivem os ricos na intimidade e há um desejo latente na audiência em geral de acompanhar o que se passa entre quatro paredes. Ele previa um maior emburrecimento da mídia, acompanhando a alienação do público, com o sucesso de uma revista como Caras e de um programa como o Big Brother.

Os quatro homens bebiam cerveja, esta cerveja que se fabrica no Brasil com matéria prima de segunda classe, como arroz e milho, porque, dizem os fabricantes, o mercado não tem condições de pagar o preço de um produto de melhor qualidade, feito com a quantidade indicada de malte e lúpulo importados.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Malvada



Bette Davis foi uma grande atriz, com 121 filmes numa carreira que durou mais de cinquenta anos. Ganhou dois Oscars de mellhor atriz, o que é pouco como reconhecimento ao seu talento. Dizem que foi ela quem batizou o premio da Academia com o nome de Oscar, inspirando-se no nome do seu primeiro marido.

Vi ontem na TV A Malvada (All about Eve), de 1950, pelo qual recebeu uma indicação para outro Oscar. Dirigida por Joseph L. Mankievicz, faz uma extraordinária performance. Mankievicz foi um dos poucos diretores americanos daquela época com liberdade para fazer um filme como A Malvada, do qual foi roteirista e diretor.

Mesmo na limitada tela de um televisor, é impossível ao espectador desgrudar os olhos dela, no papel de uma atriz madura que sofre a traição de uma aspirante a atriz que vem a tomar o seu lugar, interpretada por Anne Baxter, outra grande estrela da Hollywood dos anos 40 e 50. Também indicada para o Oscar de melhor atriz pelo mesmo filme, Baxter não chega a conseguir a mesma força de expressão da colega com quem contracena.

Bette Davis não foi uma mulher bonita. Seus olhos redondos, meio que saltando das órbitas, davam-lhe um ar de cansaço e envelhecimento. Mas esses olhos feios, que perscrutam os rostos presentes em cena e atraem a câmera, são eles que refletem a intensidade dos sentimentos interiores de Margo Channing, a personagem a quem Bette dá vida e de quem expressa a frustração, ódio, orgulho e decepção.