quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um ano sombrio


Morte, destruição e tristeza são as marcas de um ano que começou com aquela tragédia na Região Serrana: mais de novecentos mortos e 400 desaparecidos. Gente que um dia antes estava a nosso lado. O dinheiro da ajuda perdido nas trevas da burocracia, parte dele roubado pelo prefeito de Teresópolis.

Doze crianças assassinadas numa escola de Realengo, o primeiro massacre desse tipo no Brasil; cinco pessoas mortas no acidente do bondinho de Santa Teresa, explosão de bueiros em ruas movimentadas. Um único cataclismo, no Japão, deixou mais de mil e trezentos mortos.

São apenas as primeiras lembranças que me ocorrem, ao pensar em 2011. O que me traz também à memória um quarteto que Vinícius teria escrito faz 43 anos:

Mil novecentos e sessenta e oito,
ano assim nunca se viu;
mil novecentos e sessenta e oito,
Vai pra puta que o pariu.

sábado, 17 de dezembro de 2011

À espera do verão


No botequim da esquina, os quatro velhinhos gays bebiam chope, hoje pela manhã. O sol que surgiu anunciando o verão trouxe consigo o desfile em direção da praia. Os velhinhos escaneavam a rua com ágeis olhares e examinavam com interesse os rapazes que vinham da estação do metrô.

Pareciam felizes, embora discutissem a decadência do bairro. O que se veste com maior apuro disse que Copacabana começou a se perder quando surgiu o primeiro café em pé. Não foi contestado pelos outros e acrescentou que, antes dessas aberrações de hoje, os cafés eram como os de Paris e como são até hoje os de Buenos Aires. As pessoas podiam sentar-se para um café e dali observar o mundo.

Depois baixaram a voz e, cochichando, desviaram o olhar para um jovem negro que atravessava a rua.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os velhos


Os prédios onde vivem parecem pombais. Eles olham das janelas para a rua, são como pombos abrigados em caixotes. Olham para fora na busca de ar, de mais espaço e de alguma paisagem para contemplar, mesmo que seja a da Barata Ribeiro, inundada de gás carbônico.

Estão sempre nas janelas mas também na filas do supermercado e do banco. Alguns sentam-se nos bares, olhando para a rua ou para lugar nenhum, com o ar distante de quem na verdade não está ali.

Os mais sociáveis se organizam em jogos de baralho, ocupam as mesas feitas de cimento nas praças quase desertas. Reunem-se para passar os dias, cada vez mais longos, de anos cada vez mais curtos.