terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Le Bar du Centre

O Bar do Centro fica ao lado do mercado, o Halles de Cahors. La' não existe comida, apenas bebida. Sua freqüencia é a de trabalhadores no fim da jornada, alguns pés-inchados afogueados de vinho, gente sem qualificação maior senão a de bons bebedores. Silenciosos diante das canecas de cerveja - a Kronenburg forte, muito diferente das fracas cervejas brasileiras - olham com curiosidade o estrangeiro que pede o mesmo que estão bebendo.

Sobreviventes de outras eras, sinto-me bem entre eles.

Lalbenque, capital da trufa negra

Lalbenque, a 17 quilometros de Cahors, é a capital da produção e do comercio das trufas negras do Périgord. A cidadezinha é composta de apenas uma rua larga, que é a continuação da estrada, e um labirinto de outras seis, num confuso traçado que data da Idade Média. O mercado acontece todas as terças-feiras. Os produtores chegam silenciosos, com suas trufas bem guardadas em pequenas cestas cobertas com uma toalha quadriculada, e aguardam a discreta abordagem dos compradores. Hoje, o quilo da trufa chegou a bater mil euros, pelo que pude perceber. Mas às vezes superam este preço. Os compradores são os intermediarios que compram para a revenda em Toulouse, Paris e outras capitais da Europa, ou então os proprietarios de grandes restaurantes que preferem comprar, na origem, o valioso cogumelo. Dificil dizer o volume de dinheiro que circula nesse mercado discreto, onde ninguem grita, onde não existe a excitação das bolsas de valores mas que sustenta grande parte da economia desta região onde me encontro.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Monsieur Albert Résseguier

Almoço na casa de amigos em Luzech, a poucos quilometros de Cahors. M. Rességuier, que vai fazer 90 anos, me diz que até os 80 tudo é mais facil, a coisa começa mesmo a complicar é depois dessa idade. Procurava me confortar, depois que reclamei do cansaço de quem esta' ficando velho.

Os Rességuier são produtores de vinho ha' varias gerações e começaram a exportar agora para o Brasil sua marca Malbec de France. Houve uma bela degustação de bons vinhos e, ao fim do almoço,como digestivo, um gole da cachaça que eu lhe trouxe como presente.

M. Albert Résseguier ainda trabalha em suas vinhas. Agora, diz ele, tudo é mais facil porque, sentado num trator, a maquina faz todo o trabalho como se estivesse o conduzindo num passeio pela propriedade.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A neve e o potiron

Uma chuva muito fria e muito fina, hoje pela manhã, transformou-se em flocos de neve que aos poucos tornou as calçadas escorregadias e enfeitou as ruas de Cahors. Todos dizem que é muito raro nevar no mes de dezembro. Mas é muito raro, tambem, fazer frio no Rio de Janeiro, neste mesmo mes, o que de fato aconteceu, pelo menos nos primeiros quinze dias de dezembro. No dia de hoje, não sei qual a temperatura que faz no Rio, mas o normal seria muito calor. Se estiver chovendo e fazendo frio, é porque a teoria do aquecimento global e da confusão dos climas começa a se confirmar.

A memoria indelével que todos carregamos esta' ligada aos sabores. Nunca nos esquecemos do cheiro do que comemos e vivemos. Hoje, através do cheiro de uma pequena sopa de jerimun, que voces do Sul costumam chamar de abobora, tornei a vivenciar profunda recordação da infancia. O "velouté de potiron", no restaurante Le Marché, despertou essas lembranças. A pequena cidade de Cahors tem algo de João Pessoa dos anos 50. Porisso, talvez, traga esta névoa de nostalgia, junto com a neve que a cidade em que nasci jamais vira' a ver, a não ser que a confusão dos climas venha mesmo a surpreender

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O capão e o Rio Céle

Um galo castrado muito cedo em sua vida vem a se transformar no capão, ave que se encontra no vertice da piramide da gastronomia voltada aos bichos de pena. Minha experiencia com os capões remonta à infancia, mais precisamente à adolescencia em João Pessoa, pois não se costuma, no Sul do Brasil, capar os galos para torna'-los maiores e mais saborosos.

Tornei a me encontrar com um capão hoje, aqui em Cahors, na "brasserie" Le Relais, pois nesta região é costume, como ainda no Nordeste brasileiro, cria'-los soltos para depois comercializa'-los com a denominação "chapon fermier", assegurando-se que foi criado solto e na fazenda. Nada parecido com os frangos de granja, criados prisioneiros e alimentados com o estresse de não saberem se é dia ou se é noite, pois uma lampada acesa permanentemente sobre suas cabeças lhes rouba o sono, para faze-los comer sem cessar uma ração insipida e engordarem no mais curto espaço de tempo.

Este reencontro com o capão se deu depois de uma visita a Marcillac-sur-Céle, cidadezinha a 45 quilometros daqui, na margem do rio Céle, de belissima paisagem. De acordo com a informação do escritorio de turismo local, é um dos mais belos rios da Europa. Não conheço todos os rios da Europa, mas o Céle, pequeno e tranquilo, deve estar mesmo entre os mais bonitos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Cahors

Ja' escrevi sobre Cahors no meu site. Leia aqui. Desta vez a pequena cidade de 20003 habitantes, capital do Quercy, esta' com grande claridade, frio de 4 graus acompanhado de um belo sol de inverno. Nesta epoca, o termometro costuma acusar temperaturas abaixo de zero. Não sei tambem explicar como eles calcularam que nos ultimos dez anos a população da cidade tenha aumentado de 20 mil para 20 mil e tres habitantes.

Os bares estão cheios, nesta vespera de Natal, e bebe-se uma cerveja estranha. Belga de origem, a Affligen apresenta, em edição especial, uma cerveja de Natal (bière de Nöel) feita com uma mistura de canela e açucar mascavo. Sabor estranho, doce, enjoativo. Mas não se observa nenhuma garrafa de Coca Cola sobre as mesas.

No Le Lamparo, comi uma "tete de veau", prato de resistencia da cozinha tradicional francesa: todos os ingredientes que contem a cabeça de uma vitela - miolos, lingua, orelha, etc. Os espiritos mais sensiveis costumam chamar de abominavel este prato, o que não chega a fazer com que deixe de ser uma bela e deliciosa experiencia.

Continuo a escrever com o - este sim, abominavel - teclado frances, que me impede uma melhor acentuação das palavras.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Toulouse

Escrevo sem alguns acentos e alguma pontuação, por culpa do teclado frances.

O Galeão esta' um lixo. Penso que as autoridades, antes de privatizarem algum serviço publico, primeiro o sucateiam para obter a opinião favoravel dos usuarios. Deve ser o que estão a fazer com o aeroporto, onde uma placa anuncia que, depois de reformas, sera' transformado num dos melhores do mundo. Esperemos.

Mas eu queria mesmo era falar de Toulouse, que ontem, preparada para o Natal, estava alegre e festiva, apesar do frio intenso. A feirinha da Place du Capitole, fervendo de tanta gente, faturava alto e a barraca de quentinhas de aligot, cuja receita ensinei num post anterior, dava volta quilometrica. Não houve tempo para o cassoulet, que demoraria meia hora de preparo no Bon Vivre, pequeno e bom restaurante da Place Wilson. Como a fome era muita, pedi andouillete, embutido feito com tripas, que tambem e' orgulho da região.

Toulouse foi apenas etapa na viagem para Cahors, capital do Sudoeste, onde acabo de chegar. Apenas uma hora de estrada. Amanhã falo daqui.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Cassoulet de Toulouse

O cassoulet é prato típico da região do Languedoc. Três cidades disputam a honra de tê-lo criado: Carcassone, Castelnaudary e Toulouse. Deixo aqui uma receita da versão de Toulouse, com pequenas adaptações. E parto direto para Toulouse.

CASSOULET DE TOULOUSE
INGREDIENTES:
1 kg de feijão branco
250g de costelinhas de porco salgadas
500g de carne de carneiro s/ osso
400g de coxas de pato em confit (ou não, se tiver dificuldade em encontrar)
400g de carne de porco
350g de toucinho de porco
150g de bacon
150g de presunto cru (lombinho)
3 cebolas grandes
2 echalotes
12 dentes de alho
2 cenouras
1 bouquet-garni (salsa, coentro, aipo e cebolinha)
noz moscada
25cl de caldo de galinha ou carne
2 lingüiças portuguesas ou calabresas
200g de banha de porco (melhor se for de ganso)
sal e pimenta-do-reino moída

PREPARAÇÃO:

Coloque o feijão de molho de véspera, trocando a água várias vezes. Ponha as costelas salgadas de molho, trocando várias águas. Corte a carne de carneiro em pedaços médios. Ponha mais ou menos 50g de banha numa panela de fundo grosso, ponha a carne, tempere e deixe dourar. Acrescente 2 cebolas picadas e 2 dentes de alho fatiados. Ponha o caldo de galinha ou de carne e deixe cozinhar por 40 minutos em fogo brando. Corte as costelas de porco em lâminas, ponha numa caçarola com água fria, ferva por 10 minutos e escorra. Corte a carne de porco em cubos médios, o toucinho em pequenos cubos, o bacon picado, o presunto em fatias e as cenouras em rodelas. Pique 1 cebola e frite 50g de banha, mexendo e dourando ligeiramente. Tempere. Junte os feijões escorridos, as costeletas de porco, 8 dentes de alho fatiados, o bouquet-garni e uma pitada de noz moscada ralada. Verifique o tempero e cubra com água (3cm acima do feijão). Deixe cozinhar 45 minutos em fogo médio. Junte o carneiro e a ave, retirando o máximo da gordura acumulada. Misture e mexa durante o cozimento por 30 minutos. Corte a lingüiça em pedaços e frite na banha. Junte ao feijão e deixe cozinhar um pouco mais para incorporar todo o sabor. Sirva com um vinho de Cahors.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O Escondidinho

Tudo indica que o Escondidinho, de respeitável tradição na gastronomia carioca, reencontrou o caminho da cozinha brasileira de qualidade. Depois da morte de Dona Lourdes, cujo talento fez a fama e a história do lugar, o velho restaurante do Beco dos Barbeiros havia entrado em lenta agonia, mas parece que agora, com novos donos, ampliado e com nova sala no andar de cima, está em fase de recuperação.

A costela com feijão manteiga, um dos grandes pratos do cardápio, estava ontem como nos velhos tempos. Saboroso, denso, untuoso, generoso, servido por Ruço, o antigo garçon, hoje com 89 anos mas ágil entre as mesas cheias, embora ligeiramente surdo. Com uma única porção, comemos os quatro: Maldonado, Nilo, Humberto e eu. Mas deve-se considerar que Maldonado comeu pouco porque tinha uma tarde de trabalho pela frente e Humberto curtia uma ressaca.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sándor Márai

Sándor Márai é um escritor húngaro que suicidou-se em 1989, nos Estados Unidos. Foi banido de seu país pela ditadura instalada depois da Segunda Guerra, esquecido, e só recentemente voltou a ser reconhecido como grande artista que é. Seus livros voltaram a fazer o sucesso que lhes é devido.

Márai não faz concessões às fórmulas que garantem os best-sellers, mas seus romances trazem uma carga dramática poucas vezes alcançada na literatura. Os conflitos humanos ocorrem sob o véu de relações sociais aparentemente gentís e contidos pela boa educação burguesa, mas são conflitos profundos, inevitáveis, muitas vezes insondáveis.

Léa Maria me apresentou a este escritor e dele acabo de ler De Verdade, Divorcio em Buda, As Brasas e Veredicto em Canudos. Estou lendo sua auto-biografia, Confissões de um Burguês. São todos livros de altíssima qualidade literária, publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

De Verdade é uma obra-prima e Veredicto em Canudos foi escrito depois de Márai ter lido a tradução para o inglês de outra obra-prima, Canudos, de Euclides da Cunha. A história se passa no interior da Baia, após a queda do último baluarte dos resistentes de Canudos. Márai nunca esteve no Brasil, mas consegue recriar com precisão o que teria sido o cenário e os acontecimentos narrados no seu livro.

Não vejo a hora de começar a ler O legado de Eszter e Rebeldes, que já ví escondidos num canto da livraria.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os ricos vão sofrer mais

O investimento em publicidade vai ser menor em 2009, dizem as previsões da Zenith Optimidia, agência de mídia do Grupo Publicis, atualizadas neste mês de dezembro. A boa notícia é que, pelo menos na América Latina, esse investimento deve crescer.

No mundo, a publicidade vai diminuir 0,2% em relação a 2008. Nos Estados Unidos, epicentro do furacão, a perda vai ser de 5,7% e na Europa Ocidental de 1,0%. Ásia, Pacífico e o Centro e Leste Europeu devem crescer um pouco, diz o estudo, e a América Latina terá crescimento normal.

A internet vai continuar recebendo cada vez mais investimentos em publicidade e vai crescer 18% em 2009. Em 2011, será responsável por 15,6% do total e a televisão continuará na liderança, com 38,5%.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A arte imita a vida

A mulher de um grande empresário reclamou contra as novelas da televisão, que costumam apresentar os empresários sempre como escroques. Dizia ser um absurdo que homens de bem como o seu marido sejam tratados como sinônimo de falta de escrúpulos.

Fiquei calado diante do comentário mas íntimamente desfilei na memória a enorme quantidade de empresários ligados ao crime que os jornais noticiam. Em todos os escândalos de corrupção que estouram pelo mundo tem sempre um ou outro homem de negócios, como se dizia antigamente, posicionado no centro. A Polícia Federal vez por outra desenvolve operações para prender golpistas que são empresários. Agora mesmo, o ex-presidente da bolsa de valores americana Nasdaq revelou-se um fino vigarista.

Não entendi a revolta da jovem senhora. A arte imita a vida.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Assuntos campeões na internet

Interessantes as estatísticas do Google sobre os assuntos mais pesquisados em cada país.

Dá para fazer algumas deduções sobre o caráter de cada povo.

No Brasil, os três assuntos preferidos são, pela ordem, Orkut, jogos e fotos de mulher pelada.

Na França, são jogos, Youtube e Pages Jaunes, as Páginas Amarelas, com informações de endereço e telefone de práticamente toda a população.

Na Argentina, os campeões de consultas são jogos, fotos e vídeos. Os dois últimos, sou capaz de apostar, referem-se a mulher pelada.

Nos Estados Unidos, lideram as pesquisas letras de música, Yahoo e My Space. Na Alemanha, informações sobre Berlim, eBay (compras) e previsão do tempo.

Quem tiver curiosidade de investigar o que cada país procura na internet, basta ir a www.google.com/insights/search/#

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A sapatada em Bush, a ignorância americana

Conheci, no princípio dos anos 70, o professor de uma universidade americana que sabia tudo sobre literatura brasileira. Falava com intimidade, em fluente português, de todos os escritores, todos os poetas, todos os ensaistas brasileiros, vivos e mortos. Dava aulas sobre este assunto e sua turma contava naquele ano com 30 alunos, todos americanos. Perguntei-lhe a razão daquele interesse sobre a literatura do Brasil e ele me deu a explicação: depois da revolução cubana, o governo dos EUA ficou surpreso com a ignorância que tinha de Cuba e, por extensão, de toda a America Latina. A falta de conhecimento sobre a cultura dos paises abaixo do Rio Grande, me disse o professor, levou o governo a cometer erros políticos que afastavam de Washington os paises do sul e poderiam, perigosamente, levá-los para a esfera soviética. Eram os tempos da Guerra Fria.

Foi então que o governo resolveu financiar estudos mais profundos e formar especialistas para entender a alma de outros países e não correr o risco de perdê-los, como haviam perdido Cuba. Surgiram, nas universidades, os estudos, os cursos e a especialização em países diversos. E apareceram os brasilianistas como ele, o professor.

Tudo leva a crer, no entanto, que os americanos concentraram apenas em nós, os latinos do continente, o seu interesse intelectual. Porque vieram a mostrar que não entenderam o Vietnam. E ontem, com a sapatada no Bush e a confissão de que o projeto de reconstrução do Iraque havia fracassado, que também não entenderam o Iraque.

No Afeganistão, a nomeação e o apoio a um governo corrupto e desacreditado pelo povo provoca uma ressurreição dos talibãs.

Apesar do dinheiro que gastaram e gastam, parece que os americanos demoram a entender.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Rede de Mentiras

Ridley Scott é um bom diretor de filmes de ação. Mesmo seus filmes ruins e maniqueistas, como este Rede de Mentiras (Body of Lies), de 2008, tem um rítmo frenético que segura a atenção do espectador. Filmado no Marrocos, é mais uma produção da atual safra hollywoodiana que explora o filão do terrorismo árabe. É também mais um dos inúmeros filmes recentes a demonizar a CIA. Impressionante como o cinema americano morre de amores e de ódio contra essa famigerada agência.

O melhor filme que Ridley fez, Blade Runner, de 1982, foi também o seu maior fracasso financeiro, depois do sucesso de público alcançado por Alien, em 1979. Só muito tempo depois é que Blade Runner veio a se transformar num cult. Talvez por causa desse fracasso ele tenha resolvido nunca mais se arriscar e dedicou-se, a partir daí, a produções e super-produções, como Gladiador (Gladiator), de 2000, com poucas chances de dar errado na bilheteria.

Seu estilo de narração e edição é o de cenas com grande intensidade e violência, entrecortado às vezes por momentos suaves logo seguidos por outras cenas de impacto. Os melhores exemplos são Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down), de 2001, que passa a toda hora no Telecine, e o excelene Thelma e Louise, de 1991.

Dois bons atores, Leonardo DiCaprio e Russell Crowe, sustentam o elenco de Rede de Mentiras. Di Caprio mostra mais uma vez que os atores americanos só melhoram na medida em que envelhecem.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Rabada com agrião

Hoje, sábado, é dia de comer bem. Embora eu esteja me preparando para fazer uma feijoada na casa de um amigo, para ele e outros amigos, deixo aqui uma receita de rabada com agrião. Se você estiver em boa disposição, vá ao açougue e depois para a cozinha. O investimento em trabalho rende altos dividendos em prazer.

A receita está calculada para oito pessoas

Ingredientes: 2 rabadas grandes; 2 limões; 1 garrafa de vinho branco seco; 1 quilo de tomates grandes e maduros, sem peles nem sementes; 2 cebolas grandes; 2 dentes de alho; 2 folhas de louro; 1 colher de café de tomilho; 150 gramas de toucinho defumado magro; 1 colher de chá de caldo de pimenta, 2 colheres de sopa de óleo; farinha de mandioca crua que baste; 6 molhos grandes de agrião; sal e pimenta.

Antes de tudo, limpe a rabada já cortada pelos nós, de modo a retirar qualquer vestígio de sebo ou gordura. Depois lave em água com o caldo dos limões. Faça uma vinha d’alhos misturando o vinho com 1 cebola picada, 1 dente de alho amassado, 1 folha de louro, o tomilho, sal e pimenta.

Deixe a rabada de molho nessa vinha d’alhos por 4 horas. Frite o toucinho picado no óleo. Misture com 1 cebola batidinha e com 1 dente de alho amassado e espere alourar.

Refogue a rabada escorrida até que comece a frigir e tostar. Misture com os tomates amassados e molhe com a vinha d’alhos coada.

Deixe ferver por dois minutos, abaixe o fogo, junte 2 copos de água quente, tampe e deixe cozinhando em fogo brando, acrescentando mais água na medida do necessário.

Escume de vez em quando, para retirar o excesso de gordura. A rabada deve ficar com bastante caldo. Quando estiver quase no ponto, misture com o agrião limpo e grosseiramente picado. Prove o sal e tempere com o caldo de pimenta.

Retire quase todo o caldo da rabada para outra panela e vá juntando farinha de mandioca em chuva, sempre mexendo com colher de pau até obter um pirão não muito duro. Bata bem, para que fique fofo e transparente. Despeja a rabada com agrião numa terrina e tampe. Sirva o pirão em separado.


O Pirão de farinha de mesa pode ser substituído por polenta.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Novidades do front americano

Para continuar falando sobre marketing, antes de entrar em assuntos mais leves no fim de semana: o relatório anual Global Marketers, do AdAge, publicou a lista dos 100 maiores anunciantes mundiais em 2007, responsáveis por um investimento da órdem de 108 bilhões de dólares.

Os cinco primeiros lugares são ocupados pela Procter&Gamble , com US$9,4 bilhões, seguida de Unilever (5,3 bilhões), L’Oréal (3,5 bilhões), General Motors (3,3 bilhões) e Toyota (3,2 bilhões).

A GM caiu de terceiro para quinto lugar, trocando de posição com a L’Oréal. Todos os comentaristas de marketing na imprensa americana prevêem alterações drásticas nessa lista para 2009, numa visão pessimista influenciada pela crise.

No caso da GM, como também da Chrysler e da Ford, tudo vai depender das decisões do super-executivo que será nomeado para sanear o setor com a ajuda dos US$15 bilhões que serão liberados pelo governo. Este super-funcionário, que se reportará ao Congresso, vai administrar um orçamento de marketing maior do que o da Procter & Gamble e a imprensa já o chama de czar dos automóveis (em inglês, car czar). Os nomes falados para este belo e complicado emprego são os de Paul Volker, ex-chairman do Federal Reserve e Kenneth Feinberg, que administrou os fundos federais de ajuda às vítimas do ataque às torres gêmeas.

E chega de marketing. Amanhã, vamos falar de comida.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vender para os pobres

Será moralmente licito avançar sobre o bolso dos pobres? Essa questão surgiu esta semana com o anúncio do lançamento de uma subsidiária da McCann Erickson (Interpublic Group), chamada Barrio, que pretende especializar-se em propaganda e marketing para as classes C e D da America Latina.

A agência terá escritórios em São Paulo, Santiago do Chile, Cidade do México, Bogotá e Costa Rica. Depois vai se expandir para Buenos Aires, Quito e Panamá.

Matthew Creamer, do jornal especializado Advertising Age, foi quem iniciou a polêmica na segunda-feira passada, num artigo em que aborda o que chamou de dilema ético. Recebeu algumas criticas de publicitários americanos, para quem vender desodorantes, por exemplo, aos quase miseráveis, vai aumentar sua auto-estima.

Embora a defesa seja discutível, o certo é que o grupo Interpublic resolveu vender aos anunciantes uma agência especializada no mercado formado pelos pobres da America Latina. No Brasil, este mercado é formado por 80 milhões de pessoas com renda inferior a 10 salários mínimos, que pertencem, no linguajar do marketing, às classes C, D e E - o chamado mercado de baixa renda.

Responsável por um consumo da ordem de R$180 bilhões por ano em produtos populares, os pobres brasileiros representam um mercado maior do que o dos ricos das classes A e B1, estimado em R$118 bilhões.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pugliese

Oswaldo Pugliese, maestro argentino, deixou o seu legado na história do tango e recebeu bela homenagem no centenário do seu nascimento, em 2005, com a edição pela EMI, de Buenos Aires, de um album com o título Edición de Aniversário.

Pugliese, assim como Anibal Troilo, compreendeu como poucos a forma elegante, bela e apaixonada de combinar os sons do piano, das cordas, dos bandoneones e da voz de grandes cantores de tango para um resultado único.

Esta coleção, em quatro CDs, traz práticamente toda a obra do maestro e me faz pensar que os buenoairenses têm razão quando dizem que, se existe algo que o tango não cantou, é porque não existiu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O sufôco dos jornais

A midia impressa começa a dar sinais de cansaço. Circula hoje a notícia da concordata do grupo Tribune, que edita o Los Angeles Times, e da decisão do The New York Times de hipotecar o prédio que ocupa na Oitava Avenida.

Em 2006, em Dresden, na Alemanha, a professora Yunjae Cheong, da Universidade do Alabama, apresentou um trabalho na reunião anual da International Communication Association (http://tinyurl.com/5e6meq) em que analisa o retorno da publicidade em jornais, radio, tv e internet. As duas últimas – tv e internet – dão muito melhor resultado ao anunciante, é o que comprova o cuidadoso trabalho da professora.

Nos últimos anos, crescem os anúncios na internet, que já ultrapassou radio e out-door e avança na direção do mercado da mídia impressa.

Tudo indica que é uma questão de tempo: a internet vai engolir todas – ou quase todas - as outras mídias.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Gomorra

Gomorra ganhou o premio de melhor filme do Festival de Cinema Europeu e trouxe novamente à baila o drama vivido por Roberto Saviano, autor do livro com o mesmo título, que deu origem ao filme. Saviano, um jovem escritor napolitano de 29 anos, teve a coragem de denunciar a Camorra, violenta sociedade criminosa que domina a cidade de Nápoles. Condenado à morte pela Camorra, Saviano vive cercado de guardas-costas da Polícia e, na Itália, aposta-se no quanto lhe resta de vida.

O drama da população de Nápoles, exibido pelo escritor, é o mesmo das populações das favelas cariocas, reféns das associações criminosas que nada ficam a dever à Camorra. Talvez sejam até mais violentas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Aligot

Hoje é domingo e, se você estiver disposto ou disposta a ir para a cozinha, eis aqui uma receita de aligot, que pode acompanhar qualquer prato que você vier a fazer, de preferência carnes.

O Aligot é um prato típico de Auvergne, uma das 26 regiões administrativas da França. Fica bem no centro do pais e sua gastronomia é de pratos fortes e generosos.

Você precisa de 500g de batatas, 100g de creme de leite, 1 dente de alho e 200g de queijo mussarela. Pode ser também 150g de mussarela e 50g de queijo minas meia cura. Sal a gosto. Em Auvergne é usado o queijo Tomme.

Descasque as batatas e o alho. Corte as batatas em pedaços grandes e cozinhe em água fervente e sal junto com o alho até ficarem macias. Enquanto as batatas cozinham, corte o queijo em lascas finas. Retire e descarte o alho, passe as batatas pelo espremedor. Coloque o purê de volta na panela, junte o creme de leite e leve novamente ao fogo até aquecer bem, junte o queijo, batendo energicamente com colher de pau até formar longos fios. Sirva imediatamente.

Os monges de Auvergne, por onde passava um dos vários caminhos de Santiago, faziam aligot com pão, para alimentar os peregrinos. A batata substituiu o pão quando foi levada da América para a Europa após os Descobrimentos.

Bon appetit

sábado, 6 de dezembro de 2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Duas dicas de botequim

A comida típica carioca é a do botequim. Já disse isso em artigo que escrevi para o site (http://www.umacoisaeoutra.com.br/viagem/boteco.htm) e torno a repetir que o botequim do Rio só tem concorrente em Belo Horizonte. Os de lá são extraordinários botecos. Fazem até um festival por ano e já publicaram um sofisticado livro de receitas.

Mas os do Rio têm seu caráter particular e mais personalidade do que, por exemplo, os restaurantes da orla de Copacabana. Dou aqui a dica de dois novos conhecidos que me foram apresentados por Nilo Pereira, emérito conhecedor dos botequins cariocas.

Na esquina de Gomes Freire com Riachuelo, na Lapa, o Boteco do Gomes chamava-se, antes de uma cuidadosa reforma, Made in Ceará. Numa oportuna crise de identidade, abandonou o nome anglo-cearense quando deixou de ser um pé sujo e sofisticou as instalações. Recomendo a costelinha com feijão branco, a lingüiça frita, o pernil assado e a rabada com polenta e agrião.

O outro fica na rua Teófilo Otoni, entre Uruguaiana e Miguel Couto, numa falsa esquina no meio do quarteirão. Acho que não tem nome. Mas tem qualidade. O cozido servido às quarta-feiras é inspirado. A rabada e a fritada de bacalhau merecem elogios.

Em ambos a cerveja é geladíssima, como deve ser a cerveja num clima como o nosso. E a coleção de diferentes cachaças abre o apetite.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ainda Vicky Christina Barcelona

Bebendo uns goles com o meu médico e também amigo Luiz Augusto Candau, ontem no fim da tarde, depois de uma consulta, ele me disse não ter gostado de Vicky Christina Barcelona. Achou que os personagens são estereotipados e que a personagem feita por Javier Bardem não convence como um tipo abrutalhado e ao mesmo tempo sensível e amoroso.

Argumentei que toda ficção assenta-se sobre tipos simbólicos e que a arte imita a vida, como disse Wilde, mas não é a vida. Os estereótipos estariam presentes em toda história que envolve tipos humanos. Não há como sair disso.

Mas fiquei com a impressão de que Candau tem uma certa razão. As personagens de Woody Allen, em todos os seus filmes, tendem a estereótipos, o que não diminui o interesse por Vicky Christina Barcelona.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vicky Christina Barcelona

Fui ver ontem. Um pouco desconfiado, porque os últimos filmes de Woody Allen têm sido repetitivos e algumas vezes enfadonhos. Mas acho que a velhice está lhe fazendo bem, porque se trata de um filme maduro, contado em narrativa ágil, com afinado elenco, capaz de transmitir sutís nuances nas emoções de personagens complicadas.
O roteiro não é novo. A história de duas jóvens americanas em busca de romance num país latino não é diferente de tantas outras que Hollywood já explorou numa dezena de filmes. Mas o escritor/diretor/narrador prova que Joseph Campbell está correto na sua tese de que a história do heroi é sempre a mesma. O que muda é a maneira como é contada. Esse mesmo roteiro de Vicky Christina Barcelona poderia servir para uma comedia de costumes ou para um dramalhão derramado. Mas Woody Allen constrói com ele um filme equilibrado, bonito, diferente.
Barcelona - representada sempre por Gaudi, sempre pelas artes plásticas, como se este fosse o único talento catalão - é um belo cenário para um filme de amor e decepções, embora as tomadas feitas em Oviedo comprovem que as Astúrias podem ser tão ou mais belas que a Catalunha.
Woody Allen conseguiu fazer um filme sério e bom, como há tempos vem tentando, ao procurar se afastar das comedias espirituosas que fizeram a sua fama. Está bastante longe do jovem e ingênuo diretor de Bananas, de 1971, por exemplo. O Woody Allen de 2008 sabe mergulhar profundamente em seus personagens ao mesmo tempo em que se afasta cada vez mais da cultura do cinema americano e da sociedade "puritana e materialista", que é como o narrador de Vicky Christina Barcelona define a sociedade americana.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cotas para negros

Confesso que demorei um pouco a definir o que penso, nesse debate público sobre se devem ou não existir cotas para estudantes negros nas universidades. As posições como sempre se extremam e surgem os desvios ideológicos. A opinião conservadora, a Direita, como sempre, é contra. Alguns fundamentam sua posição na dificuldade de definir quem é ou não negro. Mas há que considerar o fato de que a população descendente de escravos, chamada pelo modismo cuidadoso de ‘afro-brasileira’, ou 'afro-descendente', tem sido marginalizada desde 1888, quando a lei abolicionista lhe devolveu a liberdade e a jogou nos guetos das cidades.
As oportunidades de progresso social para os negros do Brasil foram retiradas pelo preconceito que, ao contrario do que se diz e às vezes se pensa, é muito forte no Brasil. Há 120 anos o negro é tratado como cidadão de segunda classe. Está na hora de mudar esse quadro. As cotas representam um passo importante.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A programação cultural do Ano da França no Brasil

A França pretende fazer bonito em 2009, quando vai se comemorar o Ano da França no Brasil. Seis grandes exposições estão marcadas:

• O Louvre vai comparecer com a exibição de 19 retratos esculpidos por Houdon, no Museu Histórico Nacional.
• O Musée du Dessin et de l’estampe originale, de Gravelines, vai trazer duas exposições: Os triunfos do carnaval e Estampas contemporâneas da França, para o Museu Histórico Nacional, no Rio, o Museu de Artes do Espírito Santo, em Vitória e para o Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte.
• Em O Brasil, a França e o Mar, no Museu Naval, no Rio, será contada a história da Marinha brasileira e as suas ligações com a Marinha francesa.
O olhar do viajante Francês, em Belo Horizonte, e também na internet, vai mostrar a impressão que o Brasil deixava nos europeus que aqui chegavam, desde os primeiros tempos, chegando à fundação da Escola de Minas de Ouro Preto por Claude Henri Gorceix.
• Em De Eckhout aos nossos dias, no Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte e no Museu Histórico Nacional, serão exibidas as obras-primas em tapeçaria da coleção Gobelins.

Penso que o Brasil nunca teve uma programação cultural tão intensa como essa.