Quem exerce uma atividade criativa, a literatura, por
exemplo, é perseguido por um pesadelo: o de secar e não ser capaz de voltar a escrever.
Todos os escritores escrevem porque sentem necessidade. Não é para ganhar a
vida, mas para dar-lhe um sentido, justificá-la e compreendê-la.
O medo de secar convive com outro que é permanente, a dúvida
sobre o que escreve. Será que é bom? Tem alguma qualidade? Mas assim mesmo inseguro
o escritor prossegue em seu ofício. É como disse o colombiano Juan Gabriel
Vásquez: um verdadeiro escritor seguirá escrevendo apesar da rejeição, da
incompreensão, da crítica destrutiva e de qualquer outro obstáculo porque não
pode não escrever.
Dizem que Hemingway matou-se ao sentir que não voltaria a
escrever, depois do grande esforço para terminar “O Velho e o Mar”, sua
obra-prima. Edgar Allan Poe, sem conseguir escrever, consumiu-se na bebida,
sobrevivendo dos trocados que ganhava declamando “O Corvo” nas tabernas
americanas. São dois, entre tantos, vítimas da maldição do destino que perdeu
seu sentido e a razão de ser.