A aurora já
nos encontrava no mar, a água tinha a cor metálica de chumbo. Batendo nas leves
ondulações, o barco avançava e o cheiro do motor a diesel invadia o espaço até que
ancorávamos na ponta do Cabo Frio. E começávamos a pescaria que se prolongava
até que o sol forte nos expulsasse com o calor e o incômodo da nossa pele em
brasa. O banho de mar nos devolveria o suave frescor da brisa que soprava a
partir do começo da tarde.
Trazíamos
peixes para o almoço, bebíamos e nos divertíamos na conversa à sombra do
terraço. A praia quase deserta se estendia por quilômetros de areia branca e se
perdia do olhar. Crianças corriam a beira mar, os pescadores cercavam com a
grande rede os cardumes avistados do morro da vigia. E os arrastavam até a
praia.
A noite era
curta porque já estávamos com sono, bêbados e cansados. O por de sol já havia
nos dado a quota diária de surpreendente beleza e às vezes o luar também
surpreendia. Até os dias chuvosos eram belos com o sentimento que traziam de nostálgica
solidão à beira mar. Nós éramos jovens e felizes e ninguém estava morto.