quarta-feira, 18 de junho de 2014

A vida, segundo Doka

A vida, me disse Doka, se resume numa sucessão de armadilhas que às vezes te surpreende e  em outras você consegue escapar. Mas ficam sempre dor, decepção e ódio, ele dizia. De cigarro na mão, copo de cerveja e cotovelo no balcão do botequim, se divertia me deixando atônito com suas frases, eu tinha dezoito anos.

O engano da vida, dizia, é que você pensa que pode domá-la mas os acontecimentos têm um poder maior do que o teu e os acontecimentos se sucedem em outros e todos eles acabam por te encurralar num canto qualquer, na margem do tablado da vida.


Ele encontrava razões para beber. O aniversário de amigos e o dele próprio, uma vitória do América mineiro, a celebração do mito da Paz que nunca existiu. Doka me disse que em 1957 havia tomado um pileque pela primeira vez na vida e desde então havia desistido da lucidez.

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