A vida, me disse Doka, se resume numa sucessão de armadilhas
que às vezes te surpreende e em outras
você consegue escapar. Mas ficam sempre dor, decepção e ódio, ele dizia. De
cigarro na mão, copo de cerveja e cotovelo no balcão do botequim, se divertia
me deixando atônito com suas frases, eu tinha dezoito anos.
O engano da vida, dizia, é que você pensa que pode domá-la
mas os acontecimentos têm um poder maior do que o teu e os acontecimentos se
sucedem em outros e todos eles acabam por te encurralar num canto qualquer, na
margem do tablado da vida.
Ele encontrava razões para beber. O aniversário de amigos e
o dele próprio, uma vitória do América mineiro, a celebração do mito da Paz que
nunca existiu. Doka me disse que em 1957 havia tomado um pileque pela primeira
vez na vida e desde então havia desistido da lucidez.
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