sábado, 26 de maio de 2012

O mês das noivas


O mês de maio traz consigo os ares do outono em nosso hemisfério. Ao norte, a primavera redescobre a vida com o florescer das plantas, depois do inverno em que secaram pela ação do frio. É o mês das noivas, preferido para a celebração dos casamentos.

Vem de longe o prestígio de maio entre os nubentes. Tem origem nos tempos medievais, pois marcava o primeiro banho que na Europa se tomava desde o outono do ano anterior. Uma forma de evitar que o cheiro acre dos corpos perturbasse o desejo no leito nupcial.

Na tradição brasileira de pelo menos um banho por dia, herança indígena, parece estranho. Mas era assim. O buquê das noivas, carregado por elas diante das partes pudendas da geração, no dizer dos cronistas da antiguidade, tinha também o ofício de perfumá-las. E assim equilibrar as exalações às vezes excitantes, muitas vezes não.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Minha Felicidade



O título – Minha Felicidade – pode enganar o espectador, como as duas velhinhas que foram embora depois de vinte minutos de filme. Não suportaram a história contada pelo ucraniano Sergei Loznitsa, crua e sem qualquer sombra de esperança. Uma história de corrupção, miséria e desumanidade.

Um país mergulhado em crise profunda não tem possibilidade de futuro, parece nos dizer Loznitsa. Num tom realista que muitas vezes parece um documentário, a saga vivida pelo camioneiro Georgy se cruza com outras histórias igualmente tristes e violentas. Nelas não há espaço para nada parecido com solidariedade, compaixão e muito menos felicidade. O homem é o lobo do homem.

A ironia do título violentou a sensibilidade das duas velhinhas, que talvez esperassem uma comédia romântica açucarada à moda de Hollywood. Mas o filme expõe o contrário, sem qualquer concessão. Este é o mundo, diz. E esta é a felicidade possível.

domingo, 13 de maio de 2012

Um companheiro distante


Já não sabia dele há algum tempo, tive notícia da sua atividade profissional longe do circuito São Paulo-Rio. Duvidei do seu nível de felicidade. Pensei que talvez fosse difícil para uma estrela, acostumada aos grandes palcos, conformar-se em atuar num time  regional.
Quando se aceita a crença de aplaudir o sucesso a qualquer custo e que não reconhece o direito ao fracasso, é impossível conviver com as limitações humanas e as regras de um sistema impiedoso. Neste outono, ele  fez check-in num hotel francês de Joinville e deu um tiro na boca.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Judt


Tony Judt morreu em 2010 e deixou como legado uma bela obra de historiador. Entre seus livros, o festejado Pós-Guerra, volume de quase mil páginas com a história da Europa depois de 1945. Em Ill fares  the land, traduzido como  O mal ronda a Terra, lança uma visão pessimista sobre os tempos que estamos vivendo.

Embora diga que a pobreza é uma abstração, até mesmo para os pobres, ele vê sintomas do empobrecimento nas estradas precárias, cidades falidas, pontes arruinadas, escolas decadentes, desempregados, subempregados, desamparados, tudo isso sugerindo um fracasso coletivo da força de vontade. O mundo, pensa, já teria sido melhor.