sábado, 27 de fevereiro de 2010

Arroz com costelinha de porco

Este é um fim de semana diferente dos outros mais recentes, pois o calor está mais civilizado, o que nos permite ir à cozinha e preparar um prato interessante. Dos botequins de Minas, trago esta receita. Vamos à cozinha?

Ingredientes:

Costelinha de porco
Bacon em pedacinhos
1/2 pimentão picadinho
1 cebola picadinha
Arroz (a quantidade você determina)
Cheiro verde

Preparo:

Numa panela de barro, fritar a costelinha de porco cortada em pedaços miúdos, refogar em alho e sal, mexer de vez em quando e deixar apurar bem. Quando estiver bem moreninha. retirar e separar na mesma panela.

Verificar a quantidade do óleo que se formou (para que o prato não fique muito gordo). Fritar então bacon em pedacinhos, separar no cantinho da panela, juntar então meio pimentão picadinho, uma cebola picadinha, esperar fritar um pouco, juntar o bacon e o arroz já lavado (a quantidade você determina).
Refogar com a costelinha que estava separada, juntar água quente o suficiente para cozinhar. Mexer de vez em quando para distribuir bem a costelinha. Provar o sal.

Depois de pronto, polvilhar bastante cheiro verde. Pode ser servido com uma salada verde bem temperada.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Intolerância


Os países europeus de tradição colonial pagam hoje a conta pela exploração que praticaram nos países da África e do Oriente Médio. Das antigas colônias que permanecem atrasadas e pobres e onde a injustiça social é parte do sistema do poder político, uma corrente migratória contínua se dirige para as antigas metrópoles.

França e Alemanha, Inglaterra, Espanha e Itália, sem esquecer até mesmo Portugal, são hoje países invadidos e multi-raciais. Em duas ou três gerações, serão tão mestiços quanto o Brasil.

Uma intensa discussão sobre os imigrantes, seus direitos e sua capacidade de integração cultural cresce na Europa. A classe média – sempre ela – manifesta forte intolerância contra esses estrangeiros negros e asiáticos que vêm em busca de emprego e sobrevivência e fazem filhos em suas filhas.

É sobre essa intolerância que o francês Philippe Lioret fez um bom filme, às vezes demasiadamente sentimental, mas mesmo assim muito bonito – Welcome, Bem-Vindo no título brasileiro. A história de um jovem curdo que veio do Iraque para a França. Impedido de entrar na Inglaterra, onde se encontra sua namorada, ele pretende atravessar a nado o Canal da Mancha.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O vôo do tempo

O trânsito pesado das ruas engarrafadas, ônibus e metrô lotados e as crianças entrando e saindo das escolas mostram que a cidade, enfim, começou o ano. Ao Natal e Ano Novo segue-se o carnaval, no calendário brasileiro. E o carnaval, no Rio, durou este ano de sexta até domingo da outra semana, inaugurando um novo e mais demorado período para a festa que mobiliza o povo.

Já estamos a um mês para o fim do primeiro trimestre de 2010, a quarta parte de um ano que promete, mais uma vez, passar muito rápido. A velocidade da passagem do ano aumenta com a nossa idade. Até os 15 anos, sentíamos o tempo demorar muito a passar e ansiávamos pela independência que os dezoito anos simbolizavam. E de repente estamos velhos.

O rítmo de trabalho dos nossos dias, toda a parafernália tecnológica em nosso entorno, a ansiedade que é a marca do nosso tempo, e mais a agitação de um ano de eleições, tudo se conjuga para que logo alí adiante já seja dezembro. A cidade vai parar, então. até o fim do próximo carnaval.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Turistas


O carnaval terminou mas muitos ainda ficaram por aqui. O calor os atrái e parece que eles preferem suar no Rio do que enfrentar o frio que faz este ano na Europa e em todo o hemisfério Norte. Por isso eles estão por aí de pele avermelhada e com as suas roupas diferentes que os identificam à distância.

A cidade recebeu, só durante o carnaval, 730 mil estrangeiros que, dizem, gastaram 500 milhões de euros e ocuparam todos os hotéis. Eles vieram atraidos pelo carnaval mas também porque o Rio tem uma estátua que foi considerada uma das sete maravilhas do mundo, foi eleito sede das Olimpíadas de 2016 e também o melhor destino gay. As universidades de Michigan e da California fizeram uma pesquisa e concluiram que o carioca é o povo mais cordial do mundo. Pronto: é o cenário ideal para um turista.

Sergio Porto dizia, em seus artigos assinados como Stanislaw Ponte Preta, que o morador de uma cidade turística paga os preços que o turista não se importa em pagar. Em sua opinião, a cidade é preparada para o turismo e o nativo é um cidadão de segunda classe.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O pensador


De chapéu novo e roupas limpas, aparência de quem tinha tomado banho, Marquinhos encostava-se na lixeira, talvez para se refazer do calor, quem sabe para, simplesmente, meditar. Alheio ao movimento e ao ruído, compenetrado e com o olhar parado, pensava em silêncio.

Os grupos de turistas vinham da praia no fim da tarde, jovens estrangeiros brancos, vermelhos de tanto sol e olhavam desconfiados para ele. Algumas moças vestiam seus biquinis, o que as identificava como paulistas ou mineiras, pois as cariocas se recusam a desfilar em roupa de banho e usam, na rua, o que chamam uma saida de praia.

A quarta-feira de cinzas ainda cheirava a carnaval, um odor de excrementos e urina; um ou outro passante ainda usava na roupa ou na cabeça detalhes de fantasia.

Marquinhos mergulhava em seus pensamentos, encostado na lixeira da esquina da República do Peru. Ele andava sumido. Agora, com o fim da louca festa do carnaval, volta de banho tomado e na segunda-feira, quando o bairro retomar seu rítmo habitual, estará certamente comandando o trânsito e dirigindo insultos aos motoristas e a quem mais tiver o atrevimento de passar a seu lado.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Stieg Larsson


Stieg Larsson morreu jovem, em 2004, de um ataque do coração. Tinha apenas 50 anos mas deu importante contribuição à literatura policial com três romances deixados inéditos e que formam a trilogia conhecida por Millenium. Já vendeu 15 milhões de exemplares em todo o mundo e acaba de ser levada ao cinema em produções suecas.

No Brasil, os três livros tiveram como títulos Os homens que não amavam as mulheres, A Rainha do Castelo de Ar e A menina que brincava com fogo, publicados pela Companhia das Letras. Três histórias com os mesmos heróis: uma jóvem desajustada e talentosa e seu companheiro, um jornalista investigativo, sócio da revista Millenium, que empresta o nome à trilogia.

Os livros representam três bons momentos da literatura noir da Suécia e possúi os ingredientes dos bons policiais: mistério, ação, sensualidade e surpresa. A heroina Lisbeth Salander é um personagem marcante: hacker competente, bissexual, amante impetuosa e detetive com uma centelha de gênio. Uma bela leitura de carnaval para quem procura distância do carnaval.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Fim de tarde

Talvez tenham escolhido um bar tão movimentado como o Real Chopp, em plena Barata Ribeiro, para não tornar a conversa íntima demais. Ele falava, ela escutava e por sua vez rebatia algo que ele acabara de dizer; um detalhe da sua fala, algum argumento mal usado, um sentimento obscuro.

O fim da tarde, nas ruas internas de Copacabana, é marcado pelo barulho dos motores nos engarrafamentos da hora do rush. Talvez por isso, de vez em quando, um dos dois falava mais alto olhando diretamente para o rosto do outro. Depois ela baixava a cabeça e ele olhava para os lados sem saber o que procurava. Ficavam assim por um momento e depois retomavam a discussão.

Ela picava em pequenos pedaços o guardanapo de papel, ele mantinha as mãos nos bolsos. Havia tirado o paletó e a gravata e arregaçado as mangas da camisa para enfrentar o calor. Ela vestia uma saia simples, justa, com um paletó feminino, de acordo com a moda adotada pelas mulheres que exercem cargos executivos. Os dois copos de chope estavam quentes e sem espuma.

Em seguida ele pegou seu paletó e se levantou, deixou um dinheiro em cima da mesa junto com a conta que havia pedido ao garçon e foi embora pela Rua Paula Freitas na direção da praia. Ela ficou durante alguns momentos olhando os automóveis parados no engarrafamento. Então levantou-se, atravessou a rua e pegou um ônibus na direção do Jardim de Alah. O calor batia os 40 graus.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Rio versus Ada


O que já sentíamos no corpo foi confirmado pela ciência: a onda de calor que avassala o Rio foi considerada histórica, porque é a maior dos últimos 50 anos. A combinação de temperatura e umidade faz com que experimentemos uma temperatura mais alta do que a do deserto de Sahara.

Mais quente do que o Rio, nestes dias, só a cidade de Ada, em Gana, dizem os meteorologistas. Estamos, portanto, em segundo lugar no ranking mundial de calor.

Ada, a campeã, está apenas dois décimos acima de nós. Temos, portanto, chance de superá-la ainda neste verão. Esta pequena cidade no estuário do Rio Volta, na costa ocidental da África, é mencionada nos guias pelas belas praias do seu litoral.

Alguns turistas europeus em busca de calor costumam aportar nas praias de Ada e desconfio que devem ser os mesmos que, a esta altura trocando a segunda pele, desfilam pelas ruas de Copacabana.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carnaval e calor


Os blocos improvisados já começaram a desfilar pela Barata Ribeiro e criam o clima de carnaval em Copacabana. São formados por um carro com alto-falante onde instala-se um cantor, seguido por uma orquestra pobre de uns três instrumentos desafinados. E pelo séquito de uma pequena multidão em que se destacam algumas meninas que desceram das favelas do bairro. Elas vestem seus biquinis e os curtos shorts que constituem sua marca particular de elegância e sensualidade.

O cantor repete as marchinhas que fizeram sucesso nos carnavais dos anos 50. Ele canta fora do rítmo e com a voz cansada de quem já perdeu a noção das palavras exaustas de tanta repetição. As meninas seminuas procuram acompanhá-lo com suas vozes finas, esganiçadas, algumas senhoras idosas abanam-se e também tentam acompanhar o cantor.

Ninguém dança, alguns ensaiam uns poucos passos, balançam o corpo mas interrompem o movimento. O calor não anima o bloco. O trânsito está engarrafado, as pessoas chegam às janelas dos apartamentos para assistir ao desfile que se dirige, lentamente, ao Posto Seis.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A escuridão


Diante do humilhante calor de 41 graus com sensação de 50 que fez ontem no Rio, me refugiei no cinema sem olhar que filme estaria sendo exibido. Entrei na sessão que estava a começar e assisti a O Fim da Escuridão (The Edge of Darkness), de Martin Campbell, que já fez filmes de 007 e já dirigiu, para a TV americana, uma minisérie com a mesma história.

É um drama policial misturado a uma conspiração atômica. Mel Gibson faz o papel principal. Ele é um ator de formação clássica. Já foi dirigido por Franco Zefirelli, em Hamlet, e dedicou muitos anos ao teatro. Mas optou por fazer carreira no cinema comercial. Deu-se bem, dirigiu alguns filmes razoáveis e deve ter ficado rico.

Aos 54 anos, ele parece envelhecido e sua aparência deve refletir os problemas recentes em sua vida pessoal. Fervoroso católico, políticamente aliado à Direita, separou-se da mulher, dirigiu alguns insultos aos judeus pelos quais teve de pedir desculpas e confessou problemas com o alcoolismo.

Depois de algum tempo parado, parece que voltou a beber.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O metrô


Quem usa o metrô do Rio está reclamando. Aumentou o número das estações, expandiram a rede, foi criado um novo trajeto de Botafogo à Pavuna e se manteve o mesmo número de trens. Diminuiram os vagões em cada composição. O resultado deve ter sido o esperado: atrasos e superlotação. É difícil entender o que se passa na cabeça dos engenheiros. Ou dos homens de governo.

É provável que as autoridades tenham sentido a necessidade da realização de grandes obras e expandiram o sistema sem calcular os riscos. É também possível que tenham imaginado que, com o aumento do preço da passagem, a procura iria diminuir.

O povo do Rio tinha um certo orgulho do metrô da cidade e os viajados diziam que ele era melhor do que o de Londres, de Nova Iorque ou de Paris. Era mais limpo, tinha ar-condicionado, melhor organização e não atrasava. Algo aconteceu e a maldição dos transportes caiu sobre o metrô.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Avatar


Desde as primeiras experiências dos irmãos Lumiére com o cinematógrafo, a vocação do cinema inclinou-se para o espetáculo e a diversão. A lanterna mágica provocou emoções de espanto diante de uma tecnologia que despontava e que no futuro encantaria milhões de espectadores em todo o mundo. O cinema de arte, profundo, humano e reflexivo, foi consequência da apropriação do novo meio de expressão por alguns artistas que descobriram sua linguagem e exploraram os seus limites.

Embora aparente preocupações ecológicas e pacifistas, Avatar é um filme ingênuo. Cada uma das sequências que o compõem já foram vistas mais de uma vez em outros filmes. O espectador antecipa o que vai acontecer, pois a luta entre o mal e o bem é um dos temas recorrentes do cinema, cujo maniqueismo é uma das pedras angulares dos seus roteiros. A indústria do entretenimento sabe que o público prefere assistir sempre as mesmas histórias

Resta a tecnologia para compensar a pobreza de um filme feito para crianças. Os efeitos visuais e a exibição em 3D são os verdadeiros protagonistas.