terça-feira, 9 de julho de 2019

Trevas




Afastado da poesia, o poeta cego mergulha na escuridão. Há ventos gelados e em volta tudo o leva a pensamentos suicidas. O som da guitarra o transporta ao tempo em que a música traduzia meditações, percepções e sentimentos do mundo.

Precisa do poema como o afogado preso no fundo do mar a quem lhe falta a respiração. Sufoca. Algo se move nos olhos além da íris mas são flocos de esquecimento. Compreende o olhar dos deserdados, o sofrimento do escritor obrigado a escrever e escrever significa dor, agudas setas que lhe ferem o que resta de sentimentos.

Compreende o álcool na vida de Hemingway, Dylan Thomas, tantos outros. A droga e a automutilação das emoções que atacam todos os viventes. Os ventos da depressão, emoções doentias, o desejo afastado da morte, a salvação na angústia de Beethoven e na alegria de Schiller, ambas presentes na mesma sinfonia.