terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Sol de inverno



Nenhum sinal de nuvem no céu azul que se espalha no claro universo destas manhãs. Ontem foi dia das janeiradas e os grupos de cantores surgiram nas ruas espalhando as esperanças de um novo ano que se inicia. Passam as pessoas agasalhadas de um frio intenso, seco, penetrante e limpo. São poucos os passantes, pois a maioria prefere permanecer no interior dos edifícios.

A cidade parece continuar no sono da noite, a recusar o dia claro, a olhar para dentro de si mesma. No ar paira um desejo de descobertas, pois um novo ano traz consigo expectativas, curiosidade e esperanças. Procuro esquecer a tragédia política que ocorre no meu país.

Olho para o céu limpo, a rua quase vazia traz pensamentos confusos, correntes de angústia misturadas a certas formas difusas de alegria. O pensamento se distancia e a memória trabalha em coisas antigas e sem sentido. Vem de repente a lembrança dos meus mortos, a consciência de que tudo o que foi vivido não passou da fantasia de um sonho enlouquecido, “cheio de som e de fúria, sem qualquer significado”.