“Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.”
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.”
Quando Augusto dos Anjos escreveu estes versos, o mundo da literatura
estava nas mãos dos poetas simbolistas e dos parnasianos, liderados por Olavo Bilac,
eleito então o príncipe dos poetas. A inspiração da poesia pertencia às
estrelas ou aos salões da alta sociedade. “Eu e outras poesias”, de Augusto, publicado
em 1912, foi ignorado e sobre ele recaiu o silêncio.
Recebeu avaliações negativas dos críticos que lhe dedicaram um mínimo de
atenção e dos outros poetas que só entendiam o poema como canto de amor e de
amizade. Quando disse que o amor é uma mentira, Augusto quebrou os vitrais da
catedral onde a poesia era definida como “o sorriso da sociedade”.
Augusto dos Anjos e sua poesia sairam do esquecimento pela consagração
do povo e não pelo “establishment” literário. Foram as pessoas comuns,
impressionadas com o poder das palavras, recriadas por um poeta diferente de
todos os outros, que o consagraram e que ainda hoje se espantam com versos como
estes:
“Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.”