sábado, 31 de janeiro de 2009

O gazpacho de Vergé

Sábado. Com o calor que faz nesses dias, que tal ir para a cozinha e fazer o célebre gazpacho de Roger Vergé?

Vergé é um dos grandes da cozinha francesa. Reinou de 1969 a 2003 no Moulin de Mougins e, ao se aposentar, deixou em seu lugar um jovem chef, Alain Llorca, com a tarefa de manter no alto o nome da pequena cidade de Mougins, perto de Cannes, que deve sua fama ao Moulin de Vergé.

Gazpacho com seus frutos de rio e mar


Ingredientes para quatro pessoas
: 160g de filé de pintado ou surubim (no original, Vergé usa salmao fresco), 160g de filé de robalo ou badejo. Azeite de olivas. Suco de limão coado. Sal. Folhas frescas de cerefólio ou coentro. Doze tomates sem peles e sementes. Pimenta do reino em grãos, a se moer no momento de servir.

Modo de fazer: corte os filés de pintado ou de robalo em tiras de meio centímetro de largura por uns 5 de comprimento. Banhe com o azeite, o suco de limão e o sal. (Podem-se usar outros frutos de rio e mar, como os pitus, os camarões e os lagostins - o importante é que sejam dois e de coloracões diferentes, para a beleza do prato.) Deixe que marinem na mistura por uns 15 minutos. Paralelamente, bata os tomates num liquidificador ate obter um caldo fresco e espumoso, bem homogêneo, aquilo que se conhece por "coulis". Condimente o "colis" apenas com sal, algumas gotas de azeite e de limão, a fim de acentuar o sabor dos tomates frescos. No centro de cada prato, faça um arranjo arredondado com tiras de pintado e robalo. Em volta, despeje a sua porção respectiva do "coulis" de tomates. Enfeite com os verdes do coentro ou do cerefólio. Finalmente, polvilhe com a pimenta do reino.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Azeite



Na cozinha italiana reina o azeite de oliva, assim como em Portugal. Na França, a manteiga é usada sem parcimônia. Entre nós, por razões de preço alto em país pobre, predomina o óleo das mais diferentes fontes, com predomínio da soja. Pelo menos no Rio, observo nos restaurantes, bares e botequins, a clientela compensar o óleo da cozinha acrescentando generosamente azeite em tudo quanto são pratos, acepipes e tira-gostos. Azeite sobre feijão com arroz, churrascos, peixes, legumes, aves, massas e molhos. A comida bóia sobre azeite.

De onde vem esse fascínio pelo azeite? De onde vem esse desejo de unificar todos os sabores sob o manto do óleo de oliva? Alguns clientes, revoltados, chegam a alargar com garfos e até canivetes retirados do bolso os estreitos buracos abertos com cuidado pelo dono do estabelecimento e fechados com um palito. Nos botequins do Rio, qualquer prato é servido acompanhado de uma lata de azeite e um vidro de pimenta, em atendimento à obsessão pelo azeite e ao desejo de um tempero picante que desperte o paladar adormecido.

Não sei explicar este costume. Posso arriscar com a teoria da saudade dos desterrados portugueses em busca da memória dos sabores da pátria, que influenciou os hábitos alimentares do carioca, ou então com a constatação de que os paladares mais primitivos estão, inexoravelmente, condenados à incapacidade de diferenciar sabores sutis, preferindo o gosto único que o azeite proporciona a todos os pratos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Palavras sem fronteiras



Um livro muito interessante, fruto de paciente pesquisa feita pela embaixador Sergio Corrêa da Costa, Palavras sem fronteiras é um trabalho de linguística elaborado por quem não é linguista e o resultado é surpeendente. São 16 mil exemplos, retirados de 46 idiomas, de termos e expressões que significam a mesma coisa em quase todas as línguas do mundo.

Mocassim é uma palavra do vocabulário dos indios da America e que significa a mesma coisa nas mais diversas línguas, assim como maiô e maquete, do francês; airbag e baby doll, do inglês; academia e agenda, do latim; adagio e baritono, do italiano; aficionado e bolero, do espanhol; aspirina e bunker, do alemão; balalaika e troika, do russo. É uma enorme quantidade de palavras que usamos e que não nos damos conta da sua origem porque já estão incorporadas ao nosso vocabulário. Até línguas já desaparecidas, as línguas mortas como o sânscrito, dão sua contribuição, como é o caso de avatar e carma.

O francês é a língua que deu maior contribuição a este acervo de palavras internacionalizadas, seguido do inglês. O embaixador observa que o francês prepondera na definição das coisas do espírito, das artes, e o inglês designando coisas práticas, tecnológicas.

O livro estampa em epígrafe uma advertência de Philippe Rossillon que nos conduz a alguma meditação sobre o futuro da nossa própria língua: É preciso ser míope como os políticos para não pressentir que a longo prazo as línguas mais nobres, mas não utilizadas na pesquisa, na documentação e no ensino científicos e técnicos, serão rebaixadas ao atual papel do hindi e, talvez, daqui a cem anos, do quíchua.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Super Bowl



O mundo do marketing dos Estados Unidos está agitado. Dia 1º de fevereiro é dia de Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, que bate recordes de audiência e de consumo, principalmente nos ramos de bebida e de comida. Este ano o comercial na TV está custando US$ 3 milhões e só a Anheuser Busch, fabricante da cerveja Budweiser e recentemente incorporada pela Inbev, comprou sete.

Todos os anunciantes no Super Bowl, como a própria Anheuser Busch, a coreana Hyundai e a alemã Audi, dizem que o investimento vale cada centavo pago porque retorna com toda segurança. Cada vez mais os anunciantes enfatizam em seus anúncios seus endereços on-line porque, dizem, o consumidor de hoje, antes de comprar, dá uma olhada no site do produto. Graças aos anúncios no Super Bowl do ano passado, a Audi teve um aumento de 200% de tráfego no seu site, a Hyundai afirma ter recebido 300 mil visitantes e vendido 25 mil carros e o site da Anheuser Busch teve 26 milhões de visitas na semana seguinte ao jogo.

Este ano, apesar da crise, os anunciantes estão confiantes nessa força para um desafogo em suas vendas.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Coronel Stauffenberg



Com falta de bons roteiros, apelando para as superproduções ancoradas em estrambólicos efeitos tecnológicos, procurando impressionar com a declaração “baseado em fatos reais” na abertura de filmes medíocres, admira-me que Hollywood não tenha descoberto antes a história de Claus von Stauffenberg. O mais jovem soldado alemão a ser promovido a coronel, veterano da campanha da África, onde perdeu um olho, um braço e dois dedos da outra mão, tentou matar Hitler com uma bomba e foi fuzilado porisso.
Stauffenberg tem todos os ingredientes para ser herói do cinema e seu nome vai ganhar as ruas com o sucesso que vem fazendo Operação Valkiria, dirigido por Bryan Singer e interpretado por Tom Cruise.

Em 2008 foi também produzido e lançado um documentário sobre Von Stauffenberg - Operation Valkyrie: The Stauffenberg Plot to Kill Hitler, dirigido por Jean-Pierre Isbouts, que não chegou ao Brasil. É a consagração, enfim, do jovem e desditoso coronel.

E por falar em cinema e Hollywood, fui ver O curioso caso de Benjamin Button, filme feito para ganhar Oscar, com tudo o que agrada à Academia: cuidadosa produção, história sentimental, grandes efeitos. Tinham me dito que se tratava de uma história de amor. Não é bem assim. Trata-se de um filme sobre a velhice e a morte.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Joelho de porco crocante



Porque hoje é sábado, vale a pena ir para a cozinha e preparar algum prato que dê sossego ao corpo e traga prazer ao espírito. O joelho de porco é um dos grandes pratos da cozinha alemã que aos poucos se difunde e se tropicaliza entre nós, como na receita que se segue:

Joelho de porco crocante


Ingredientes:
1 joelho de mais ou menos 700g
2 dentes de alho amassados
12 grãos de pimenta-do-reino preta
2 cravinhos da Índia
3 folhas de louro
1 cebola cortada em quatro
sal

Modo de preparar:

Lavar o joelho e temperar com o sal, o alho amassado, louro, a pimenta preta, os cravinhos da Índia, a cebola cortada e deixar nesse tempero por cerca de 2 horas.
Levar ao fogo, mantendo o tempero, cobrindo de água, em panela tampada e fogo lento.
Retirar quando estiver cozido, tomando cuidado para não desmanchar. Escorrer e, na hora de servir, fritar em gordura quente, para ficar crocante.
Pode servir acompanhado de cebolas fritas, chucrute ou feijão branco
Bom apetite.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O dia em que a Terra parou



Nos tempos da Guerra Fria, em 1951, quando a ameaça de uma catástofre atômica tirava o sono de muitos, Robert Wise dirigiu a primeira versão da história do alienígena que chega à Terra para advertir a humanidade sobre os perigos que ameaçavam o seu futuro. Mas ele vem com a firme idéia de que a humanidade não tem jeito e precisa ser destruida para salvar o planeta. No memorial de Lincoln, em Washington, lendo trechos dos seus mais famosos discursos, chega à conclusão de que os povos da Terra ainda poderiam ter salvação.

Na versão de 2008, que agora se exibe nos cinemas, Klaatu e seu indestrutível robot ainda continuam descrentes quanto à raça humana, mesmo com o perigo atômico por enquanto afastado. Começam mesmo a destruí-la mas acabam por concluir que ela ainda pode ter jeito, mesmo sem terem lido as palavras de Lincoln. Ví o filme ontem e confesso que não me lembro por que Klaatu resolveu poupar a humanidade.

Hollywood anda sofrendo de forte crise de criatividade. Faltam-lhe bons roteiristas. A maior prova disso são as refilmagens de sucessos antigos, transformados em repetições sem graça e sem o carisma original. Os estúdios apostam na tecnologia, capaz de produzir grandes efeitos mas incapaz de contar uma boa história.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O leitão da Bairrada



Um amigo me enviou texto que encontrou na internet, no blog Suspeitos do Costume, de Portugal, assinado por Rui Baptista. Trata-se de deliciosa crônica, não só pelo assunto que aborda, mas também pela qualidade da escrita, e menciona uma das minhas inúmeras viagens à Mealhada em busca do insuperável leitão da Bairrada.
Transcrevo:


Foi você que pediu uma sandes de leitão?


Rui Baptista

Quando andava a fazer alguma pesquisa para escrever este texto sobre o leitão da Bairrada, encontrei na Internet a história de Celso Japiassu. Brasileiro (com um nome destes, que outra nacionalidade podia ter?), Japiassu aterrou em Paris, deu uma espreitadela rápida ao Louvre e à Torre Eiffel, e depois alugou um carro e rumou a Portugal. Ao contrário do que é habitual com os seus compatriotas, Japiassu não foi em peregrinação a Fátima, nem andou por Lisboa a admirar o Mar da Palha e o Parque das Nações. Não foi sequer comprar pastéis de Belém, um "must" para qualquer turista.

Japiassu não perdeu tempo com "coisas menores"e foi direitinho à Mealhada para comer um suculento leitão assado. Regado com espumante da Bairrada e acompanhado de batatas fritas cortadas à rodelas, salada de alface, laranjas e pão de trigo.

Não conheço Celso Japiassu. Nunca falei com ele. Celso Japiassu não é meu amigo. Na Internet não havia nenhuma fotografia dele, por isso não sei dizer-vos se é alto ou baixo, gordo ou magro (embora suspeite que seja "largo de ossos"), branco ou negro. Mas devo confessar que sinto um enorme respeito por um homem como ele, que sabe quais são as suas prioridades na vida.

Ora reparem: um homem mete-se num avião, atravessa um oceano, vira as costas a uma das mais belas cidades do mundo, conduz sem parar durante um dia inteiro e acaba sentado à mesa do Pedro dos Leitões, na Mealhada, a devorar um bácoro. Homens desta têmpera, que sabem o que querem, são cada vez mais raros. Têm a dimensão trágica de um Ulisses e a gula de um Obélix.

O leitão assado à moda da Bairrada é assim: não deixa ninguém indiferente. Japiassu não resistiu à pele estaladiça, à carne macia e perfumada do bicho, ao molho que mistura de forma deliciosamente letal alho, pimenta. salsa, banha, louro. Quem o pode censurar? Sim, porque Japiassu não foi o primeiro nem será o último a sucumbir aos encantos do bácoro criado a leite de mama. Gente mais importante, mais conhecida, mais mediática, tombou de joelhos perante os encantos do leitão da Bairrada. A rainha de Inglaterra, por exemplo. Sim, sua majestade encomenda de tempos a tempos meia-duzia de leitões da Bairrada ao restaurante Vidal, de Aguada de Baixo (Águeda). Os bichos são assados com esmero e depois transportados até Londres, com o maior cuidado, nos portões da transportadora aérea nacional do Reino Unido. Aliás, os britânicos são grandes apreciadores de leitão da Bairrada, e o actor Roger Moore (que interpretou os papéis de 007 e de "O Santo") e o cantor Cliff Richard ("sir" Cliff Richard, que é para manter o assunto em domínios aristocráticos) eram vistos com frequência à mesa dos restaurantes da Mealhada.

O que é bom para a Rainha ou para o 007 é bom para qualquer Japiassu deste mundo. É bom para mim também, claro. Mas acontece que eu, em matéria de leitão assado, levo uma vantagem considerável sobre a Rainha Isabel, sobre "sir" Cliff e sobre o "Santo", apesar das minhas raízes mais modestas, . Eu nasci junto à Bairrada, cresci com o cheiro do bácoro assado e fui alimentado a sandes de leitão desde tenra idade. Sou um privilegiado, eu sei. E os protectores dos animais que me perdoem, mas subscrevo inteiramente a posição de um grande amigo meu: não há melhor animal de estimação que o leitão da Bairrada.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

As religiões



Windows, Mac, Ubuntu, Linux, são os nomes de alguns times, outros preferem dizer religiões, no mundo da tecnologia e da internet. Os aficionados de um desses times defendem sua preferência como se fossem torcedores fanáticos, hooligans enraivecidos prontos para a destruição dos adversários. Existem sub-espécies, os times representados pelos browsers, num terreno onde as tribos se dividem entre os fanáticos do Internet Explorer contra os do Firefox, os adoradores do Chrome ou do Safari.

A grande divisão, a cisão definitiva dá-se, no entanto, na preferência entre PC ou Mac. São campos opostos porém se movem, na medida em que a Apple aumenta sua participação no mercado com o lançamento de produtos inovadores, de sofisticado design que representam ameaça concreta à hegemonia da Microsoft. Os novos usuários, como cristãos novos, transformam-se em macmaníacos, com a robusta crença de que estão do lado certo da Força.

É uma prova a mais da diversidade entre os homens e da inexistência de verdades absolutas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um romance sobre o tédio



Alguns dias de viagem pela França me estimulam a procurar algum livro publicado recentemente, de preferência ficção, com o objetivo de reacostumar o ouvido e o pensamento à língua francesa. A opção por um romance foi motivada pela necessidade de enfrentar as esperas de aeroporto e a longa duração dos vôos com uma leitura que pudesse me absorver a atenção e ajudasse a vencer o tédio da viagem. Depois de pesquisar o balcão das livrarias, a escolha recaiu sobre La derniere conférence, de Marc Bressant, que ostentava uma faixa vermelha promovendo o livro com a informação de que ganhara em 2008 o Grande Prêmio de romance da Academia Francesa.

Marc Bressant é o pseudônimo literário de Patrick Imhaus, ex-embaixador da França na Suécia e ex-presidente da cadeia TV5-Europe. Um diplomata especialista em questões de mídia, portanto. O livro deixa isto muito claro e aproveita a biogafia do autor pois trata de uma conferência diplomática internacional sobre informação e comunicação durante os dias confusos da queda do muro de Berlim e da grande crise russa e dos países da Europa do leste. O leitor ainda ganha, de quebra, as fofocas do mundo diplomático, o que se passa nos bastidores de uma longa conferência internacional, os conflitos e, para não deixar de falar de sexo, os casos amorosos que ocorrem entre diplomatas à margem de uma reunião como aquela.

O leitmotiv do romance é o tédio. O tédio da diplomacia, o tédio da conferência, o tédio do narrador, embaixador francês numa tediosa crise profissional e pessoal.

Há muito que não leio um bom romance francês contemporâneo. Por onde anda a descendência de Flaubert, Camus, Gide, Genet, Sartre, Exupéry, Roger Martin du Gard e outros gigantes do romance francês?

sábado, 17 de janeiro de 2009

O Pavão Azul

Os mortos muitas vezes influenciam ou dirigem as nossas ações. Foi a lembrança de dois amigos mortos que me levou ao Pavão Azul, na esquina de Hilario de Gouveia com Barata Ribeiro, bem em frente à 12a Delegacia Policial. É o único prédio policial a não possuir portas. Porisso está, literal e permanentemente, de portas abertas.

O Pavão ocupa uma pequena loja, muito estreita, e parte da calçada. São cerca de cinco mesas dentro da loja e outras cinco ou seis na calçada. Ontem, exibia no quadro-negro um belo cardápio: feijoada, frango assado, filé de linguado, risoto de camarão – na verdade, arroz com camarão, mas de grande beleza – bife à milanesa, filé de frango, carne assada. Estava lotado.

Conseguí uma mesa espremida contra o balcão, garantí uma feijoada e, um pouco antes das três da tarde, Dona Vera, a proprietária, anunciou “a feijoada acabou”. E veio pequeno, doloroso e decepcionado alarido de várias mesas recém chegadas: óóóó!Eles perderam, realmente, uma bela feijoada.

O Pavão Azul é um botequim de grande qualidade, um bistrô à la ancienne, como diriam os sofisticados franceses.

João Antonio estava certo, Mario Rubens tinha razão.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O cozido

O pot au feu é um prato que existe em todas as culturas, em todas as regiões. Trata-se do aproveitamento dos produtos existentes no entorno do homem postos numa panela e cozidos. Existem formas diferentes de pot au feu, dependendo da abundância ou carência de cada região. A feijoada é um pot au feu, como é também o cassoulet, o irish stew e todos os outros pratos que juntam os produtos de uma região numa panela ao fogo.

O nosso tradicional cozido é um deles. E como amanhã é sábado, vai abaixo uma receita de cozido à brasileira, de modo a que você possa comprar ainda hoje o que for necessário para fazê-lo, amanhã mesmo ou no domingo.Lembre-se apenas de que é um prato indicado para muitos convivas, pois é impossível fazê-lo em pequena quantidade. Chame os amigos.

Cozido à brasileira

Ingredientes

1 k de peito de vaca - 3 paios - 1/2 k de linguiça defumada, previamente aferventada e cortada em pedaços grandes - 100 grs. de toucinho defumado – 1 pé de porco – 1 orelha – ½ k de costelinha - 1 pimentão - 2 tomates - 1 cebola - 1 pimenta malagueta - 4 a 6 batatas inglesas - 2 espigas de milho - 4 cenouras raspadas - 1 mandioca - 2 carás - 1 batata doce - 4 bananas - 1/2 abobora moranga - 2 chuchus - repolho - folhas de couve - cebola - ovos.

Modo de Fazer

Tempere muito bem o peito de vaca, aos pedaços grandes, deixe por algum tempo ou de um dia para o outro. Leve ao fogo um caldeirão grande com um pouco de óleo e frite o toucinho defumado, bem picadinho. Acrescente um pimentão em tiras, 2 tomates sem as peles, 1 cebola inteira, primenta do reino, alho e os pedaços de carne. Deixe refogar bem, adicione o paio, a linguiça, o pé, a orelha e a costelinha devidamente dessalgados, algum outro tipo de carne que lhe inspirar apetite e coloque uns 3 litros de água. Deixe ferver até que a carne fique cozida. Prove o sal. Se necessário, retempere. Acrescente uma pimenta malagueta ou mais, se voce for adepto da comida apimentada. Uns 40 minutos antes de servir o prato, retire as carnes do caldeirão e reserve em outra panela, com algumas conchas do caldo. Coloque no caldo que ficou no caldeirão, ainda no fogo: 4 a 6 batatas inglesas, descascadas e inteiras; 2 espigas de milho partidas ao meio, bem tenras; 4 cenourinhas raspadas; pedaços grandes de mandioca; 2 ou 3 carás inteiros.

Deixe ferver até que fiquem bem cozidos. Verifique o caldo, se necessário acrescente mais água. Prove o sal novamente. À parte, cozinhe uma batata-doce grande e algumas bananas (marmelo ou caturra) com a casca. Reserve. Acrescente ao caldo fervendo: pedaços grandes de abóbora moranga; dois chuchus partidos ao meio, sem o miolo; folhas inteiras de repolho; folhas de couve, sem o talo.

Depois de tudo muito bem cozido, arme numa travessa bem grande, dispondo os legumes para um lado e as carnes para o outro. Coloque em cima das carnes cebola crua em rodelas bem finas, rodelas de ovo cozido e azeitonas.Regue com azeite. Sirva bem quente com pirão.

Faca o pirão assim: no caldo em que foram cozidos as carnes e os legumes, adicione, aos pouquinhos, farinha de mandioca até engrossar um pouco. Enquanto joga a farinha, mexa vigorosamente com a colher de pau, para não encaroçar. Não deixe endurecer. Sirva com o cozido e arroz branco, tudo muito bem quentinho.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O cãozinho robot

Os aeroportos estão acima da sua capacidade, em todo o mundo, principalmente nos países da Europa, apesar da crise. São necessários mais investimentos em terminais e pistas para que o tráfego de 1,5 bilhão de passageiros previsto para 2020 seja atendido, os padrões de segurança mantidos e o cáos seja evitado.

Os 29 maiores aeroportos europeus estão saturados. Para ampliação ou construção de novas pistas existem impedimentos geográficos e ambientais, segundo a Eurocontrol, organização belga encarregada da segurança aérea. Serão necessários 100 bilhões de euros, em 10 anos, para enfrentar essa crise. A recomendação feita à indústria é a de construir aviões maiores, com capacidade de transportar mais passageiros, para que se possa aproveitar a infraestrutura existente com menor investimento.

O resultado disso tudo é atraso e cancelamento de vôos, bagagens perdidas e longas esperas.

Acrescente-se a isso o medo de ataques terroristas, com medidas de segurança que quase obrigam cada passageiro a se despir para ser examinado. No aeroporto de Norfolk, na Virginia, quando um passageiro inglês passava pela revista com um cachorro robot, o brinquedo peidou e assustou os oficiais de segurança que pensaram estar diante de uma bomba. O FBI evacuou o aeroporto até finalmente se esclarecer que se tratava do Tekno L1 Robot Puppy, um brinquedinho que imita um cãozinho com a capacidade de dar peidos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O frio

Depois de vários dias exposto ao frio, o corpo começa a mostrar sua pouca adaptação às baixas temperaturas e a sentir falta do ambiente tropical em que se criou e se desenvolveu. A pele, ressecada pela falta de umidade e pelos ambientes aquecidos por calefação a gás ou eletricidade, começa a apresentar escamas, pequenas erupções e coceira. Desconfio que o tratamento dado à água, com excesso de cloro, e o hábito do banho diário ajudem a provocar essas reações na epiderme.

Dá para compreender porque, a nossos olhos, os povos da Europa sejam pouco fanáticos com relação ao banho de cada dia. Os brasileiros, recebemos este hábito de nossa herança indígena. Nossos índios, acostumados a banharem-se várias vezes ao dia, acabaram por influenciar os colonizadores portugueses e seus descendentes.

Dá também para entender porque turistas dos gélidos países europeus amam o calor, estendem-se felizes nas areias quentes das nossas praias e acabam por desfilar, suados e com intensa alegria, sob o calor de fevereiro, nas alas das escolas de samba.

sábado, 10 de janeiro de 2009

A rue de Levis


A rue de Levis, no 17éme arrondissement, começa na Tocqueville e termina no Boulevard des Batignolles, mas é nos seus dois últimos quarteirões que se desenrola uma festa da gastronomia francesa. Dezenas de barracas e pequenas lojas de grandes portas abertas formam uma feira popular de rua em que pontificam os pratos prontos e a fazer: chucrutes fumegando na atmosfera do inverno, leitões assados, capões e patos, gansos, embutidos, rilletes e patês, enfim, tudo o que a cozinha francesa imaginou. O prazer de olhar a exposição permanente de extraordinárias iguarias pode se transformar em tortura se você passar por aquela rua com fome.

Os grandes supermercados existentes em Paris, a maioria estabelecida nos subúrbios, numa acertada política de proteger o pequeno comércio dos bairros, são especialistas na esmerada exposição de produtos, mas não se comparam às feiras livres e aos mercados permanentes a céu aberto, como este da Rue de Levis. O Quartier Montorgueil e a Rue Saint Antoine rivalizam com a Rue de Levis como festa gastronômica para se comer com os olhos, mas perdem na quantidade e diversidade da oferta, e também no tamanho das filas em frente a cada barraca, principalmente nos fins de semana, formadas pela classe media parisiense, cujo maior programa é o prazer de comer.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O marinheiro Popeye



Popeye agora pertence a todos, pelo menos na Europa, onde uma lei da União Européia restringe os direitos autorais a 60 anos depois da morte do autor. O velho marinheiro de punhos largos e poderosos foi criado pelo roteirista e desenhista americano Elsie Crisler Segar, que morreu em 1938. Isto significa que, a partir de agora, qualquer um pode usar a figura de Popeye, seja em histórias em quadrinhos, em camisetas ou projetos de marketing, sem necessitar de autorização.

O King Features Syndicate, filial do antigo império de mídia Hearst, proprietário dos direitos com a garantia da lei americana até 1995, promete lutar com unhas e dentes contra a nova situação nos paises da Europa. Nos Estados Unidos, o copyright, diferente do direito autoral, é protegido por 95 anos a contar da data da criação de um personagem. Popeye nasceu em 1929, o que garante o copyright até 2024.

O forte marujo, capaz de fazer um inimigo voar pelos ares com um soco, é tão popular no mundo quanto o seu patrício Mickey Mouse. Sua marca e sua imagem são responsáveis por negócios da órdem de 1,5 bilhão de dólares, a maior parte correspondente à comercialização de marcas de espinafre.

Popeye foi consagrado com uma estátua em Crystal City, no Texas, conhecida como a capital do espinafre.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Australia

Neve na rua, calçadas escorregadias, entro no cinema para ver Australia, de Baz Luhrman, com Nicole Kidman e Hugh Jackman nos papéis principais. Como se trata de uma trupe toda formada de australianos, mesmo que Nicole tenha nascido em Honolulu, pensei que se tratava de um épico sobre a Australia, cuja história é marcada de lances heroicos e grandes crimes cometidos contra a população aborígene. Enganei-me.

Trata-se de um faroeste sobre a disputa de fazendeiros de gado pelo mercado de carne que surgia com a Segunda Guerra Mundial. Esse Baz Luhrman, que fez o feérico Moulin Rouge, gosta de ambiciosas produções e desta vez realizou um filme caro, com locação no belo e rude cenário natural do interior da Austrália. Mas é um filme abaixo do medíocre, a história é tola, Jackman é um canastrão e a bela Nicole Kidman, normalmente boa atriz, perde-se e não chega a convencer como a viúva decidida a levar avante o negócio do marido morto. A pieguice fica por conta do relacionamento dela com um menino aborígene e a presença de um preto velho que se dedica a certas feitiçarias.

Melhor do que Australia foi o almoço no La Grille (50, rue Montorgueil), um bistro simpatico, barato, onde um “Os à moelle”, ou seja um osso com tutano, vale dez vezes mais do que assistir a um filme ruim como aquele.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Picasso e Kurosawa

Entre dezenas de outras exposições de grandes mestres, três delas estão dedicadas ao gênio de Picasso, neste frio janeiro de Paris. No Grand Palais,Picasso e os Mestres, com 210 obras emprestadas por coleções do mundo inteiro, públicas e particulares, mostra o desenvolvimento do seu trabalho através do tempo. Suas rupturas com estilos antigos e suas propostas revolucionárias.

Em Picasso/Manet, Le dejeuner sur l’herbe, no Museu d’Orsay, 40 quadros, desenhos, gravuras e maquetes inspirados no famoso quadro de Manet, todos realizados entre 1954 e 1962.

Em Picasso poete, no Museu dos Correios (Musée de la Poste), os poemas que ele escreveu, recriou em litogravuras ou escreveu sobre envelopes.

Outra exposição que vale a visita é a de outro gênio criativo, este do cinema, que é Akira Kurosawa. No Museu de Belas Artes da Cidade de Paris (Petit Palais), estão em exibição até 11 de janeiro os desenhos do mestre japonês, provando que ao lado do grande cineasta conviveu um grande desenhista.

Antes de rodá-los, Kurosawa desenhava cada plano dos seus grandes filmes e com isso deixou um legado de obras que seriam importantes mesmo se não tivessem sido elaboradas com a intenção de apenas orientar as filmagens.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Paris

De Cahors a Paris são 575 quilômetros de autoestrada e porisso vale a pena a parada para pernoite em Argenton-sur-Creuse, pequena e charmosa cidade do Limousin. A chegada a Paris num sábado é tranqüila porque o trânsito é mais civilizado do que nos dias de semana. O frio, um pouco abaixo de zero, é intenso; a sensação é de mais frio, por conta da umidade natural da cidade.

Mas assim mesmo o movimento é grande, neste princípio de janeiro castigado por um inverno rigoroso e pela crise econômica enfatizada pelo discurso de Sarkozy e que preocupa os franceses. As ruas fervem de turistas e Paris é sempre Paris.

A menina que é fã da Eliana

A menina portuguesa vive em Cahors e trabalha como faxineira. Muitos portugueses vivem na região e ocupam os sub-empregos que os franceses desprezam. O objetivo deles é fazer alguma economia, guardar dinheiro e voltar para uma vida melhor em sua aldeia no Norte de Portugal. Ao saber que somos brasileiros, a menina nos diz que vê diariamente a TV Record e que adora o programa da Eliana, aos domingos.

A Record é a única estação brasileira que penetra em toda a França. Penso no poder econômico e na força de comunicação que se concentram nas mãos de uma igreja que se pretende universal, que se dirige aos mais pobres e mais simples do mundo, mas cujos propósitos evangelizadores são por demais obscuros.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O reveillon da crise

O salão do Le Balandre, restaurante onde passei o reveillon dos ultimos cinco anos, estava com metade das mesas desocupadas, ontem à noite. Poderia ter sido um triste passar de ano, se não fosse a companhia animada de Monique e Valentin, um casal que vive em Saint Cirq de la Popie, pequena e historica cidade aqui perto de Cahors. São novos amigos, feitos desde o reveillon do ano passado, quando nos encontramos neste mesmo Le Balandre numa noite festiva, um pouco diferente da de ontem.

A causa desta queda na animaçao da ultima noite do ano e da primeira madrugada do ano novo é que os franceses estao se sentindo desanimados diante do noticiario sobre a crise economica e as perdas de parte das suas economias na cotaçao das açoes. O discurso de Sakorzy, na rede de TV ontem à noite, pareceu a fala de um coveiro. Uma dissertaçao pessimista, preparando o espirito do povo para dias sombrios em 2009. O presidente contribuiu para a falta de alegria no salão do Le Balandre.