Até o século XIX as mães não amavam os filhos. A idealização
do amor materno é muito recente. Antes, as mulheres tinham muitas crias que
morriam ao nascer e elas procuravam se distanciar das sobreviventes. Seria
preferível mantê-las longe de si, às vezes pagando a uma ama de leite, do que
sofrer com sua morte precoce. As crianças morriam muito cedo numa época em que
uma vida longa não passava dos trinta anos.
As que não morriam cresciam solitárias, às vezes criadas por
mulheres sem os laços da maternidade, numa atmosfera propícia à infelicidade. Esta
solidão levou Freud a investigar o inconsciente e formular sua teoria, uma das
grandes construções da inteligência humana.
O desamor está na raiz do ódio, do desprezo profundo, do
sofrimento e da vingança cega. O bicho humano tinha desde sempre necessidade do
amor que lhe foi negado pela mãe, pois ela própria se defendia da dor de amar uma
criança que nascia estigmatizada e condenada à morte.