terça-feira, 30 de agosto de 2011

Escultores



Os turistas param, tiram fotos e se admiram com as formas femininas tão bem reproduzidas. Alguns deixam dinheiro e é assim que vivem os escultores da areia, artistas da praia que dela se sustentam.

Há poucos anos, em nome da ordem, um secretário da prefeitura destruiu com chutes essas frágeis esculturas. Mas as críticas que recebeu inibiu outros choques e os artistas refizeram suas obras.

Michelangelo esculpiu em mármore e suas estátuas são eternas. Os escultores da areia de Copacabana precisam continuamente refazer as suas. À noite, elas são destruidas pelo vandalismo e o simples prazer dos bêbados que percorrem drogados a madrugada. E os artistas recomeçam na manhã seguinte. Fazem um monte de areia, recolhem água do mar para umedecê-la e tornam a esculpir sua visão da cidade, das mulheres e do mundo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um jazigo


Em um pequeno cemitério de animais foi enterrado o amigo Leitão. É um lugar calmo, mais tranquilo do que o cemitério dos humanos. Lá não existem as multidões do Dia de Finados nem os cortejos que acompanham o enterro dos poderosos.

Para seu jazigo, que Fernanda escolheu e organizou, fiz uma tradução livre do poema de Lord Byron na morte do seu cão Boatswain:

Aqui estão os restos de quem
tinha beleza sem vaidade,
força sem insolência,
coragem sem ferocidade
e todas as virtudes dos humanos
sem os seus defeitos.


Há um ditado galego que diz “quem a seu cão abandona, nem da própria mãe merece ter reverência”.

sábado, 6 de agosto de 2011

Uma cidade


A noite começava na Rua da Aurora, separada da Rua do Sol pelo Capibaribe, em cujas margens esperávamos o nascer do dia. O pouco dinheiro era bastante. A madrugada era uma festa e nós vivíamos na madrugada.

Havia os bares e seus habitantes, o calor da tarde e a brisa, o chope do Bar Savoy. O mar era distante, existiam apenas os dois rios que fazem o desenho de uma cidade das águas. E tinha os sobrados e os bares da ilha onde ficava o porto e onde a boemia celebrava a vida em um bairro que parecia deserto.

Quem teve a sorte de viver em Recife quando muito jovem, como aconteceu com Hemingway em relação a Paris, para onde for levará consigo uma festa em movimento. Pelo o resto da vida.