quarta-feira, 22 de junho de 2011

O cão



O cão pertence a um mendigo mas costuma andar sozinho pelas ruas de Copacabana. Encontra-se com o dono já tarde da noite, quando ambos se abrigam embaixo da marquise de um edifício comercial da Barata Ribeiro.

O mendigo tem uma carroça carregada de sacos, embalagens usadas, panos velhos, latas, caixas vazias. Ele e o cão vivem segundo um acordo em que um protege o outro. O cão precisa de um dono e o mendigo precisa do cão para dormir tranquilo debaixo da marquise.

De aparência bem tratada, o pelo amarelado e brilhante, o cão se afasta durante o dia. Anda pela calçada com a determinação de quem vai a algum lugar. Desvia-se dos transeuntes, espera abrir o sinal para pedestres e só então atravessa a rua.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Corporações


À maneira dos cães, os homens possuem o instinto da matilha e se reunem para agir, sobreviver e lutar contra as ameaças. Desde as origens se juntou em tribos e as corporações são hoje a melhor expressão desse primitivo instinto.

As empresas procuram unir suas equipes sob o estímulo emocional dos sacerdotes da área de Recursos Humanos. No Japão, algumas companhias fazem seus empregados cantarem o hino da fábrica antes do trabalho e nos EUA as convenções anuais se assemelham a um culto religioso.

Como numa guerra de matilhas, as corporações, cada vez maiores, lançam seus produtos contra os concorrentes e bradam gritos de guerra na conquista de consumidores. Arreganham os dentes e lutam pela vitória.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Inverno


Numa visita que fez ao Rio no mês de junho, uma jornalista americana disse que a cidade hiberna para despertar no verão. As ruas ficam como que vazias durante os meses de inverno e o carioca veste casacos de lã quando bate menos de 20 graus. No hemisfério Norte, esta é uma marca de calor.

Desaparecem os engarrafamentos e a viagem de Copacabana ao centro dura menos de quinze minutos. O mar se agiganta em ressacas acompanhadas de chuva. À noite, as ruas vazias lembram antigos fantasmas, a solidão nas grandes metrópoles, abandono e ameaças sombrias.

Em breve chegará setembro num outono de sol ameno e céu muito azul, prenunciando o verão, quando chegam as meninas muito brancas que em dois dias estarão rosadas e começarão a trocar a pele. O Rio vive e regurgita é mesmo no verão e no calor. O inverno o acalma e o faz dormir.

domingo, 5 de junho de 2011

Políticos


Aos cinquenta e três anos de idade, o ator Alec Baldwin olhou para si mesmo, rememorou seu passado profissional e perscrutou o futuro. Concluiu que sua carreira não ia mesmo deslanchar e anunciou que vai entrar na política. Depois do sucesso de Ronald Reagan, que chegou à presidência, a política tem sido uma alternativa para os atores americanos.

Ao analisar o sucesso de outros artistas, Tiririca também percebeu que tinha chances e foi eleito deputado por uma massa de votos que o consagrou. Depois de aparecer num programa de grande audiência na classe média, o professor Jean Wyllys igualou-se aos artistas e se beneficiou da grande votação de Chico Alencar, seu companheiro de partido. Também se elegeu deputado.

Olaf Palmer, ex-Primeiro Ministro da Suécia, disse numa entrevista que, quando jóvem, havia sido um razoável ator e um dedicado boxeador. Mas compreendeu que tinha poucas chances nas duas atividades. Resolveu então tentar a política porque era a única carreira que lhe permitiria fazer uso das duas aptidões.