quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Azeite



Na cozinha italiana reina o azeite de oliva, assim como em Portugal. Na França, a manteiga é usada sem parcimônia. Entre nós, por razões de preço alto em país pobre, predomina o óleo das mais diferentes fontes, com predomínio da soja. Pelo menos no Rio, observo nos restaurantes, bares e botequins, a clientela compensar o óleo da cozinha acrescentando generosamente azeite em tudo quanto são pratos, acepipes e tira-gostos. Azeite sobre feijão com arroz, churrascos, peixes, legumes, aves, massas e molhos. A comida bóia sobre azeite.

De onde vem esse fascínio pelo azeite? De onde vem esse desejo de unificar todos os sabores sob o manto do óleo de oliva? Alguns clientes, revoltados, chegam a alargar com garfos e até canivetes retirados do bolso os estreitos buracos abertos com cuidado pelo dono do estabelecimento e fechados com um palito. Nos botequins do Rio, qualquer prato é servido acompanhado de uma lata de azeite e um vidro de pimenta, em atendimento à obsessão pelo azeite e ao desejo de um tempero picante que desperte o paladar adormecido.

Não sei explicar este costume. Posso arriscar com a teoria da saudade dos desterrados portugueses em busca da memória dos sabores da pátria, que influenciou os hábitos alimentares do carioca, ou então com a constatação de que os paladares mais primitivos estão, inexoravelmente, condenados à incapacidade de diferenciar sabores sutis, preferindo o gosto único que o azeite proporciona a todos os pratos.

3 comentários:

Nada disse...

O azeite é um dos símbolos do Espírito Santo (um aspecto da Mãe Divina).
O que há no fundo da "saudade" que você se refere, é que no passado a iluminação necessária para as leituras noturnas vinha principalmente das lamparinas movidas a azeite. Assim o "alimento" contido nos livros só se tornava acessível através da luz do azeite, e seus significados profundos e anímicos só poderiam ser intuitivamente acessados através de uma luz mais profunda, a Luz do Espírito Santo.
A Oliveira é um símbolo para a Sabedoria, assim a Luz-Inteligência da Mãe conduz ao Amor-Sabedoria do Filho, (a Pomba com o galho de Oliveira no bico).
Legal também você usar o termo "manto de oliva" que nos remete para o "Manto da Compaixão".

Agora, numa época sem geladeiras a pimenta era mais usada para disfarçar o sabor de alimentos que já estavam em processo de decomposição. O que simboliza querer dar uma aparência viva à aquilo que já está morto.
A vida vêm do espírito, é um Fogo, uma Ardência que vêm dos níveis mais altos, o Reino ou a Natureza Superior, onde existe a imortalidade.
Nesse sentido quando se diz que a pimenta "abre o apetite", está se referindo a um estímulo que ela fornece, que é como se estivesse "abrindo um Portal" para que acessemos com mais facilidade os níveis profundos do alimento, não apenas as suas calorias que engordam o corpo físico, mas as "vitaminas" ainda desconhecidas da ciência, a parte etérica e alquímica dele, pois precisamos também alimentar os nossos corpos sutis. Os alimentos tem outras dimensões e nós também.
Essa visão se torna especialmente importante numa época de fastfood, de bolachas e refrigerantes. Assim é preciso mastigar melhor e principalmente desenvolver uma nova atitude diante de um prato de comida, como se estivéssemos diante de algo muito sagrado. Há mais vida nele do que suspeitamos e é importante não desperdiça-la.

O azeite e a pimenta precisam ser usados com sabedoria, os furinhos pequenos são prá gente se lembrar disso. Senão eles perdem o seu valor simbólico e espiritual.

Sou muito grato pela sua pesquisa e carinho contidos nos seus envios da "palavra do dia".

Um abraço luz,
Nelson

Celso Japiassu disse...

Um belo texto, Nelson.
Apareça sempre.

heliojesuino disse...

caramba!!! nunca tinha me ocorrido que azeite e a pimenta retessem tanta metafísica ... doravante vou consumi-los com mais atenção.