quarta-feira, 4 de junho de 2014

Final de romance

Os gritos rasgaram a noite, os vizinhos chegavam às janelas procurando entender o que se passava.  A violenta discussão do casal provocava ecos no silêncio da rua e ouviam-se também o arrastar de móveis, o derrubar de cadeiras, o ódio escandido entre as sílabas dos insultos.

A voz aguda da mulher destacava-se, a voz rouca do homem fazia-lhe contraponto enquanto a raiva subia o tom das ofensas mútuas. Uma porta bateu, um grito histérico teve como resposta palavrões muito fortes e uma vez mais eles se agrediam num mesmo diapasão.


O ódio deixava transparecer sua enorme sombra nas vozes que devem um dia ter trocado palavras de amor que se traduziam, agora, em ressentimento e violenta agressão. A noite ainda exibia uma réstea de lua, os raros automóveis aceleravam na esquina e um último bater de porta devolveu o silêncio, a não ser pelo ressoar do que parecia soluços. Ou era só minha imaginação.

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