Os gritos rasgaram a noite, os vizinhos chegavam às janelas procurando
entender o que se passava. A violenta discussão
do casal provocava ecos no silêncio da rua e ouviam-se também o arrastar de
móveis, o derrubar de cadeiras, o ódio escandido entre as sílabas dos insultos.
A voz aguda da mulher destacava-se, a voz rouca do homem
fazia-lhe contraponto enquanto a raiva subia o tom das ofensas mútuas. Uma
porta bateu, um grito histérico teve como resposta palavrões muito fortes e uma
vez mais eles se agrediam num mesmo diapasão.
O ódio deixava transparecer sua enorme sombra nas vozes que
devem um dia ter trocado palavras de amor que se traduziam, agora, em
ressentimento e violenta agressão. A noite ainda exibia uma réstea de lua, os
raros automóveis aceleravam na esquina e um último bater de porta devolveu o
silêncio, a não ser pelo ressoar do que parecia soluços. Ou era só minha
imaginação.
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