quarta-feira, 25 de junho de 2014

Encontro

No botequim, enquanto Maria lhe servia de graça, como quase todos os dias, café com leite e um pão, conversei com Marquinhos, o maluco da vizinhança. Com o pensamento um pouco mais coordenado e os olhos mais tranquilos, ele falou enquanto comia da quantidade de japoneses andando pelo bairro nessa Copa do Mundo. Qualquer um que não fale a sua língua, para Marquimhos,  é um japonês. Mas preferiu falar dos amigos que morreram.

Sua fala é quase tão confusa como a de um surdo-mudo e me contou que no bar em frente havia um homem bom que conhecia bem. Diabético, morrera de tanto beber. O mesmo aconteceu com um amigo que tinha na esquina da República do Peru, o garçon de uma lanchonete que saia de madrugada pelos bares ainda abertos e que morreu também de tanto beber.


Perguntei se ele gostaria de beber. Olhou no fundo dos meus olhos com seus olhos estrábicos - eu estava bebendo - e disse que ainda não queria morrer. Acabou de comer o pão com café e voltou à rua ouvindo seu rádio que não toca nada para assustar os turistas com a sua miséria, sua feiura e a dificuldade dos loucos em entender a lucidez capaz de matar os que não são loucos.

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