No botequim, enquanto Maria lhe servia de graça, como quase
todos os dias, café com leite e um pão, conversei com Marquinhos, o maluco da vizinhança.
Com o pensamento um pouco mais coordenado e os olhos mais tranquilos, ele falou
enquanto comia da quantidade de japoneses andando pelo bairro nessa Copa do
Mundo. Qualquer um que não fale a sua língua, para Marquimhos, é um japonês. Mas preferiu falar dos amigos
que morreram.
Sua fala é quase tão confusa como a de um surdo-mudo e me
contou que no bar em frente havia um homem bom que conhecia bem. Diabético,
morrera de tanto beber. O mesmo aconteceu com um amigo que tinha na esquina da
República do Peru, o garçon de uma lanchonete que saia de madrugada pelos bares
ainda abertos e que morreu também de tanto beber.
Perguntei se ele gostaria de beber. Olhou no fundo dos meus olhos
com seus olhos estrábicos - eu estava bebendo - e disse que ainda não queria
morrer. Acabou de comer o pão com café e voltou à rua ouvindo seu rádio que não
toca nada para assustar os turistas com a sua miséria, sua feiura e a dificuldade
dos loucos em entender a lucidez capaz de matar os que não são loucos.
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