quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vicky Christina Barcelona

Fui ver ontem. Um pouco desconfiado, porque os últimos filmes de Woody Allen têm sido repetitivos e algumas vezes enfadonhos. Mas acho que a velhice está lhe fazendo bem, porque se trata de um filme maduro, contado em narrativa ágil, com afinado elenco, capaz de transmitir sutís nuances nas emoções de personagens complicadas.
O roteiro não é novo. A história de duas jóvens americanas em busca de romance num país latino não é diferente de tantas outras que Hollywood já explorou numa dezena de filmes. Mas o escritor/diretor/narrador prova que Joseph Campbell está correto na sua tese de que a história do heroi é sempre a mesma. O que muda é a maneira como é contada. Esse mesmo roteiro de Vicky Christina Barcelona poderia servir para uma comedia de costumes ou para um dramalhão derramado. Mas Woody Allen constrói com ele um filme equilibrado, bonito, diferente.
Barcelona - representada sempre por Gaudi, sempre pelas artes plásticas, como se este fosse o único talento catalão - é um belo cenário para um filme de amor e decepções, embora as tomadas feitas em Oviedo comprovem que as Astúrias podem ser tão ou mais belas que a Catalunha.
Woody Allen conseguiu fazer um filme sério e bom, como há tempos vem tentando, ao procurar se afastar das comedias espirituosas que fizeram a sua fama. Está bastante longe do jovem e ingênuo diretor de Bananas, de 1971, por exemplo. O Woody Allen de 2008 sabe mergulhar profundamente em seus personagens ao mesmo tempo em que se afasta cada vez mais da cultura do cinema americano e da sociedade "puritana e materialista", que é como o narrador de Vicky Christina Barcelona define a sociedade americana.

3 comentários:

Unknown disse...

Deu vontade de ver o filme. Parabéns pelo Blog e pela oportunidade de "conversar" sobre suas idéias e atividades.

Celso Japiassu disse...

Obrigado, amigo. Vá ver o filme que vale a pena.

Marcia Costa disse...

Já ouvi boas recomendações sobre este filme, as quais estão me motivando bastante a assistí-lo. Agora, com este seu texto, certamente, não vou perdê-lo.
Um beijo!