terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O banquete

Epicuro de Samos, no século IV a.C, não entendia por que o animal humano se esconde para exercer as funções excretoras e come despudoradamente em público, junto aos outros humanos. Comer é um ato social, o homem não ama comer sozinho e o faz de maneira ritual, em horas marcadas, com os mesmos gestos e da mesma forma, todos os dias, repetidamente.

Estes pensamentos me ocorreram ontem, quando fui assistir Operação Valquiria, no Shopping Botafogo, sessão das 13:30 hs. O filme é ruim, não vou comentá-lo, mas me chamou a atenção a multidão que comia na praça de alimentação, por onde se passa para ir ao cinema. Fiz, com o celular, a foto acima. Calculo algo em torno de 400 pessoas sentadas, mastigando a comida comprada em dezenas de restaurantes que circundam as mesas.

Submetidos à escravidão das horas, ruminantes apressados, a sós ou em grupos, os convivas daquele insólito banquete formavam um comportado rebanho que se alimentava em comunhão diária, dentro de um templo de consumo ruidoso e entediante.

Um comentário:

heliojesuino disse...

quem sabe, o estranhamento de Epicuro deSamos não tenha sido o que levou Buñuel a criar uma das mais inusitadas cenas de sua obra ( o pário é duro, e a concorrência fortíssima ...), não me lembro se no fantasma da liberdade ou no charme discreto:
Numa ambiente chique um casal recebe os amigos e conversam animadamente em volta de uma mesa. Anfitriões e convidados elegantemente vestidos estão sentados em latrinas fazendo suas necessidades. Um deles pede licença, levanta-se e entra num reservado. Ali, longe da vista dos outros, faz uma refeição ligeira, escova os dentes e retorna à sala de cagar ...