terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Voyerismo
Na mesa ao lado, discutia-se o paredão e meu pensamento voltou a 1959, há cinquenta anos, portanto, quando a revolucão cubana entrou vitoriosa em Havana. Iniciaram-se os julgamentos públicos e criminosos do regime anterior foram justiçados por fuzilamento contra um largo muro. No estádio onde se davam os julgamentos, o povo gritava como se fora a torcida de um time de futebol: Paredon! Paredon! pedindo justiça rápida.
Demorou pouco para que eu percebesse que o paredão de que tratava a conversa entre quatro homens adultos era o do Big Brother, medíocre programa de televisão cujo título foi tirado de um célebre romance de George Orwell.
Nos anos 70, assisti em Nova Iorque à palestra do diretor de Mídia da Ted Bates, importante agência de publicidade que desapareceu no meio das várias fusões e incorporações ocorridas durante o processo de concentração do negócio publicitário. Não me lembro do seu nome, mas da essência da sua palestra: nos próximos anos, iríamos assistir ao fortalecimento das publicações e dos programas dirigidos ao voyerismo do público. A classe média, dizia, quer saber como vivem os ricos na intimidade e há um desejo latente na audiência em geral de acompanhar o que se passa entre quatro paredes. Ele previa um maior emburrecimento da mídia, acompanhando a alienação do público, com o sucesso de uma revista como Caras e de um programa como o Big Brother.
Os quatro homens bebiam cerveja, esta cerveja que se fabrica no Brasil com matéria prima de segunda classe, como arroz e milho, porque, dizem os fabricantes, o mercado não tem condições de pagar o preço de um produto de melhor qualidade, feito com a quantidade indicada de malte e lúpulo importados.
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