quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Recife


Na última vez em que estive em Recife, fui passear à noite pelas ruas que frequentei quando estudante. Senti-me atônito com a miséria do centro. Era uma multidão de miseráveis ocupando as ruas da margem do Capibaribe, principalmente a Rua do Sol, que fica no lado oposto à Rua da Aurora, num simbolismo poético que nos encantava. Eramos adolescentes tomados pela poesia de uma cidade que julgavamos uma das mais belas do mundo, com seus rios e suas ilhas urbanas.

Mas aquela beleza não suportou o êxodo das populações muito pobres que vieram construir a miséria da cidade grande. A metrópole regional é para onde acorrem os sem nada, na esperança de viverem dos refugos e das sobras que podem ser encontrados no lixo dos abastados.

Nessa noite em que eu passeava no meio daquele mar de gente feia e doente, cenário humano da verdadeira miséria, onde a violência encontra o melhor ambiente para explodir, um homem estourou com uma pesada pedra a cabeça de um outro que dormia na calçada da Rua do Sol. Eu vi.

Essa lembrança me vem agora, quando acabo de ler no jornal que Recife vai sediar uma das próximas lojas da griffe de luxo Louis Vuitton. Entre outros produtos criados para os ricos do mundo, ela acaba de lançar a linha de diamantes Les Ardents, com lapidação exclusiva.

Um comentário:

Hugo Caldas disse...

Para vosmicê ver a quantas anda a cidade que um dia foi o nosso Recife.
Uma loucura, que não tenho idéia de quando aconteceu. Um belo texto o que não é nenhuma novidade. Meu abraço.
Hugo