terça-feira, 24 de março de 2009
A nossa guerra
Dois helicópteros sobrevoam Copacabana e lembram uma cena do Apocalipse de Francis Coppola. Um é da polícia, outro me parece estar a serviço da cobertura jornalística da TV Globo. Carros da PM passam velozes pela Barata Ribeiro com as sirenes ligadas. Na esquina da Siqueira Campos, quatro soldados tensos abordam um motociclista com pistolas apontadas e prontas para atirar. Levantam sua camisa, mandam-lhe retirar o capacete, pedem os documentos da moto. Negro e pobre, pálido de medo, poderia ser um bandido. Ou não, apenas um motociclista a caminho do trabalho.
Desde sábado ouvem-se tiros disparados na favela da Ladeira dos Tabajaras. Rajadas, estampidos soltos que ecoam na madrugada. Experimento em Copacabana a mesma sensação dos habitantes de Beirute, durante a guerra civil, e de Bagdá sublevada.
Esta no entanto é a nossa guerra, que nos habituamos a ver na televisão e que a cada dia que passa chega mais perto de nós. A cada investida de um bando sobre outro, a cada intervenção da polícia, diante dos mortos e do medo das pessoas, nos perguntamos se esta guerra um dia terá fim. Penso que não, pelo menos enquanto as drogas, esta mercadoria valiosa e maldita, estiver sendo comercializada pelas associações criminosas criadas e nutridas nos guetos miseráveis da cidade.
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