quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O leitão da Bairrada



Um amigo me enviou texto que encontrou na internet, no blog Suspeitos do Costume, de Portugal, assinado por Rui Baptista. Trata-se de deliciosa crônica, não só pelo assunto que aborda, mas também pela qualidade da escrita, e menciona uma das minhas inúmeras viagens à Mealhada em busca do insuperável leitão da Bairrada.
Transcrevo:


Foi você que pediu uma sandes de leitão?


Rui Baptista

Quando andava a fazer alguma pesquisa para escrever este texto sobre o leitão da Bairrada, encontrei na Internet a história de Celso Japiassu. Brasileiro (com um nome destes, que outra nacionalidade podia ter?), Japiassu aterrou em Paris, deu uma espreitadela rápida ao Louvre e à Torre Eiffel, e depois alugou um carro e rumou a Portugal. Ao contrário do que é habitual com os seus compatriotas, Japiassu não foi em peregrinação a Fátima, nem andou por Lisboa a admirar o Mar da Palha e o Parque das Nações. Não foi sequer comprar pastéis de Belém, um "must" para qualquer turista.

Japiassu não perdeu tempo com "coisas menores"e foi direitinho à Mealhada para comer um suculento leitão assado. Regado com espumante da Bairrada e acompanhado de batatas fritas cortadas à rodelas, salada de alface, laranjas e pão de trigo.

Não conheço Celso Japiassu. Nunca falei com ele. Celso Japiassu não é meu amigo. Na Internet não havia nenhuma fotografia dele, por isso não sei dizer-vos se é alto ou baixo, gordo ou magro (embora suspeite que seja "largo de ossos"), branco ou negro. Mas devo confessar que sinto um enorme respeito por um homem como ele, que sabe quais são as suas prioridades na vida.

Ora reparem: um homem mete-se num avião, atravessa um oceano, vira as costas a uma das mais belas cidades do mundo, conduz sem parar durante um dia inteiro e acaba sentado à mesa do Pedro dos Leitões, na Mealhada, a devorar um bácoro. Homens desta têmpera, que sabem o que querem, são cada vez mais raros. Têm a dimensão trágica de um Ulisses e a gula de um Obélix.

O leitão assado à moda da Bairrada é assim: não deixa ninguém indiferente. Japiassu não resistiu à pele estaladiça, à carne macia e perfumada do bicho, ao molho que mistura de forma deliciosamente letal alho, pimenta. salsa, banha, louro. Quem o pode censurar? Sim, porque Japiassu não foi o primeiro nem será o último a sucumbir aos encantos do bácoro criado a leite de mama. Gente mais importante, mais conhecida, mais mediática, tombou de joelhos perante os encantos do leitão da Bairrada. A rainha de Inglaterra, por exemplo. Sim, sua majestade encomenda de tempos a tempos meia-duzia de leitões da Bairrada ao restaurante Vidal, de Aguada de Baixo (Águeda). Os bichos são assados com esmero e depois transportados até Londres, com o maior cuidado, nos portões da transportadora aérea nacional do Reino Unido. Aliás, os britânicos são grandes apreciadores de leitão da Bairrada, e o actor Roger Moore (que interpretou os papéis de 007 e de "O Santo") e o cantor Cliff Richard ("sir" Cliff Richard, que é para manter o assunto em domínios aristocráticos) eram vistos com frequência à mesa dos restaurantes da Mealhada.

O que é bom para a Rainha ou para o 007 é bom para qualquer Japiassu deste mundo. É bom para mim também, claro. Mas acontece que eu, em matéria de leitão assado, levo uma vantagem considerável sobre a Rainha Isabel, sobre "sir" Cliff e sobre o "Santo", apesar das minhas raízes mais modestas, . Eu nasci junto à Bairrada, cresci com o cheiro do bácoro assado e fui alimentado a sandes de leitão desde tenra idade. Sou um privilegiado, eu sei. E os protectores dos animais que me perdoem, mas subscrevo inteiramente a posição de um grande amigo meu: não há melhor animal de estimação que o leitão da Bairrada.

6 comentários:

Benjamin Buclet disse...

Belo Homenagem, Ulisse!!
abraços

Nanda Japi disse...

Pai, "largo de osso" é muito bom. mesmo não te conhecendo ele achou a melhor definição pra vc. Realmente uma delícia de crônica. Vc merece.

Bill Falcão disse...

Atravessar um oceano pra comer um leitão é mesmo missão para poucos, manovéio!

walter disse...

Celso meu irmão "largo de ossos",

Não sabem da missa a metade...
Quantas vilegiaturas, quantos moinhos derrubados em busca da receita perfeita.
Há muito ainda para viajar.
Espero ser, em ocasião próxima, seu cúmplice e comensal. Como nos bons tempos (como, do verbo...)
Com todo o meu respeito e apetite,meus abraços,
Walter

Celso Japiassu disse...

Amigo Walter:
Que prazer vê-lo por aqui!
Precisamos nos encontrar ao vivo e reeditar uma das antigas aventuras.

Unknown disse...

Muito legal , heim pai...!!! Sorte a minha que ja tive o imenso prazer de saborear o meu em companhia do meu véi Japi...