segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ressurreição


Tolstoi escreveu Ressurreição, seu último romance, na virada do século XIX. O livro não é um dos mais citados desse escritor que, aos 82 anos, rico e famoso, fugiu da família e preferiu morrer como um miserável num vagão de terceira classe. Seu nome é imediatamente associado a Guerra e Paz e Anna Karenina, embora Ressurreição seja um desses livros que, apenas ele, justificaria toda a obra de um escritor.

O dilema de um homem que, na idade madura, procura redimir um erro cometido na juventude serve para Tolstoi exibir sua genialidade como artista mas também para nos provar que a estética não existe separada da ética e que, apesar de tudo, de todos os crimes cometidos e de todas as iniquidades, ainda pode haver grandeza no seres humanos. Um livro adequado ao nosso tempo sem esperanças.

Não resisto e transcrevo um dos primeiros parágrafos de Ressurreição:

«Em vão, centenas de milhares de homens, amontoados num pequeno espaço, se esforçavam por desfigurar a terra em que viviam. Em vão, a cobriam de pedras para que nada pudesse germinar; em vão arrancavam as ervas tenras que pugnavam por irromper; em vão impregnavam o ar de fumaça; em vão escorraçavam os animais e os pássaros - Em vão… Porque até na cidade, a Primavera é Primavera.»

3 comentários:

Eduardo Ramos disse...

Que jóia de parágrafo!

Roberto disse...

Essa cidade sabe resistir, nao? Parece ate' uma dessas cidades tropicais que a gente conhece tao bem... :-)

Obrigado pela transcricao, Celso. Vou comecar Tolstoi pelo fim e quem sabe, um dia desses, chego ao inicio.

Anônimo disse...

Gostaria muito de fazer um post no meu blog recomendando Palavra do Dia. Fiz questão de pedir pra você porque no email que recebo diariamente desde 04/2007 e que eu adoro fala "É proibida a reprodução por qualquer meio impresso, eletrônico ou digital". Estou querendo fazer esse post de recomendação a um tempão mas não quero esbarrar nos seus direitos. O crédito, é óbvio, será todo seu. Então vim pedir permissão. Posso? =)