quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Salada verde

Sentado no restaurante, acompanho a corrida das crianças. As mães parecem cansadas e incapazes de reprimir a alegria infantil que corre por entre as mesas, esbarra nos garçons e grita de forma fina e estridente. Por que nossas crianças são tão mal educadas, pergunto para mim mesmo. E olho para um gordo que come uma salada de folhas verdes.

O gordo está triste, olhando as folhas verdes. Ele as corta, em pedaços pequenos, o alface, o brócoli e o agrião. Joga por cima uma boa quantidade de azeite, leva à boca uma garfada e me dá a impressão de que aumenta a sua tristeza. Dá-me uma certa vontade de consolá-lo dizendo-lhe que “o brócoli é um vegetal muito rico em Cálcio e Ferro, minerais importantes para a formação e manutenção de ossos e dentes e à integridade do sangue”, conforme li em algum lugar. Mas sei que isso não o consolaria.

Solidarizo-me intimamente com o gordo, com a sua tristeza olhando a salada verde e a sua impaciência ouvindo o alarido daquelas crianças de mães cansadas.

2 comentários:

Marcus Ulysses disse...

A cena do gordo comendo a salada verde é triste. Mas a outra da criançada fazendo algazarra me fez rir. Ótimo post.

heliojesuino disse...

Celso, sua observação sobre as crianças lembrou-me a justa indignação do saudoso Apicius, incomodado com a invasiva presença delas nos restaurantes.
As vêzes baixava nele um Herodes furioso que ocupava toda a coluna reclamando dos 'pequenos bárbaros'.
Era engraçadíssimo !
ps.: toda solidariedade á tristeza do gordo regimoso. Sei bem o que é isso ...