O Concerto nº2 para trompete e
orquestra de Mozart me traz a lembrança de uma mulher. Desde adolescente eu
amava Mozart e as mulheres. Mas esta de quem falo dizia gostar dos clássicos mas
odiava Mozart. Dizia ser incapaz de ouvir este concerto sem perder o bom-humor.
O romance durou algum tempo e foi bom
porque juventude e paixão se acasalam na surpresa do amor. Depois comecei a
sentir saudades de Mozart, a quem tinha abandonado e às vezes ouvia escondido,
pois os fones de ouvido, naquela época, não eram tão bons. E comecei também a
imaginar por que alguém poderia detestar Mozart, especialmente este concerto.
Amor e sofrimento caminham de mãos
dadas e duas emoções contraditórias não podem conviver. Em nome do amor, eu
tinha abandonado Mozart. Mas é uma dor muito profunda a descoberta de que não
existe amor onde pensávamos existir. Ouço agora os concertos para trompa e orquestra. Mozart e o tempo acabaram por
compensar a perda daquela paixão.
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