Penso no amigo muito doente e na morte como o final do
processo da vida. A interrupção do ato de existir. A consciência da vida não vem
com o nascimento, mas quando começamos a observar o mundo e tentamos entendê-lo,
a seus sustos e seus tentáculos. De que fomos construídos, se na infância não
temos consciência da vida e tudo o que vivemos nessa época se transformará em
camadas de lembranças que se acumulam no território dos sonhos?
Podemos morrer doentes ou assassinados ou vítimas do acaso
dos acidentes. Mas a morte não vem com dignidade. Toda morte ao final é um
fracasso, escreveu Unamuno. Nela perdemos tudo o que fomos e deixam de existir também
a esperança e o futuro.
O sentido de viver existe quando pensamos com a consciência
do mundo que podemos imaginar. O sonho não é a vida, nem as alucinações, nem a escuridão
na qual mergulhamos inconscientes pouco antes de morrer. Não temos a
possibilidade de morrer felizes.
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