sexta-feira, 6 de março de 2015

Brumas

Penso no amigo muito doente e na morte como o final do processo da vida. A interrupção do ato de existir. A consciência da vida não vem com o nascimento, mas quando começamos a observar o mundo e tentamos entendê-lo, a seus sustos e seus tentáculos. De que fomos construídos, se na infância não temos consciência da vida e tudo o que vivemos nessa época se transformará em camadas de lembranças que se acumulam no território dos sonhos?

Podemos morrer doentes ou assassinados ou vítimas do acaso dos acidentes. Mas a morte não vem com dignidade. Toda morte ao final é um fracasso, escreveu Unamuno. Nela perdemos tudo o que fomos e deixam de existir também a esperança e o futuro.


O sentido de viver existe quando pensamos com a consciência do mundo que podemos imaginar. O sonho não é a vida, nem as alucinações, nem a escuridão na qual mergulhamos inconscientes pouco antes de morrer. Não temos a possibilidade de morrer felizes.

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