Num dia qualquer do mês de abril de 1970 eu viajava de carro
entre Paris e Lisboa e decidi pernoitar em Cahors, cansado dos 500 quilômetros
na direção. À noite, vagueei um pouco
pela cidade, vi a paisagem noturna do rio Lot em sua contagiosa tranquilidade,
sentei ao lado de uma fonte e prometi a mim mesmo algum dia voltar.
Cumpri minha promessa alguns anos depois e desde então, sempre
que posso, tenho visitado estas paragens. Cahors é uma cidade muito antiga, na
sua vizinhança os gauleses perderam a última batalha para Julio César. Em suas
terras surgiu a uva que dá nome ao vinho Malbec, conhecido no passado como um
tipo de Bordeaux, depois entrou em decadência e hoje começa a recuperar o
prestígio de antigamente.
A cidade é um dos pontos referenciais dos peregrinos que
desde a Idade Média percorrem os caminhos para Santiago de Compostela. Talvez
por isso exista aqui um certo misticismo plantado pelos viajantes em busca de
Deus. Tocado por esta aura, não tive a sorte de descobrir a divindade mas tenho
a impressão de que encontrei a luz existente nas sombrias vielas medievais, nas
igrejas, nos tortuosos caminhos e nos bares que conduzem à contemplação do
tempo e suas velhíssimas lembranças.
Um comentário:
Que texto lindo, gostoso e que nos leva a Cahors.
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