quarta-feira, 18 de março de 2015

O velho

Quando o conheci ele já estava bem velho e morava há mais de trinta anos em Paris. Tinha sido um homem poderoso e rico que um dia resolveu mudar de vida, transformou o que tinha em dinheiro e saiu do Brasil. Comprou um apartamento na Ile de Saint Louis, no meio do Rio Sena, e passou a usufruir a cidade.

Tomou a decisão quando tinha pouco mais de cinquenta anos. Calculou o tempo que ainda esperava viver e concluiu: o que tinha lhe assegurava uma vida despreocupada. Nenhuma das decisões humanas, no entanto, está garantida contra as armadilhas do tempo. Quando o encontrei, o dinheiro tinha acabado, estava muito velho e não havia futuro.


Bebemos juntos algumas noites pelos cafés e cervejarias da Ile de Saint Louis. Já não existia o apartamento, ele morava de favor e estava em dívida nos bares da vizinhança. Certa noite o gerente de um deles me perguntou discretamente se aquele velho tinha sido mesmo presidente do Brasil. Percebi que usava essa farsa para ter crédito nos bares da pequena ilha. Confirmei. Assegurei também que ele tinha sido um dos grandes presidentes da História do Brasil.

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