Quando o conheci ele já estava bem velho e morava há mais de
trinta anos em Paris. Tinha sido um homem poderoso e rico que um dia resolveu
mudar de vida, transformou o que tinha em dinheiro e saiu do Brasil. Comprou um
apartamento na Ile de Saint Louis, no meio do Rio Sena, e passou a usufruir a
cidade.
Tomou a decisão quando tinha pouco mais de cinquenta anos. Calculou
o tempo que ainda esperava viver e concluiu: o que tinha lhe assegurava uma
vida despreocupada. Nenhuma das decisões humanas, no entanto, está garantida
contra as armadilhas do tempo. Quando o encontrei, o dinheiro tinha acabado,
estava muito velho e não havia futuro.
Bebemos juntos algumas noites pelos cafés e cervejarias da
Ile de Saint Louis. Já não existia o apartamento, ele morava de favor e estava
em dívida nos bares da vizinhança. Certa noite o gerente de um deles me
perguntou discretamente se aquele velho tinha sido mesmo presidente do Brasil.
Percebi que usava essa farsa para ter crédito nos bares da pequena ilha.
Confirmei. Assegurei também que ele tinha sido um dos grandes presidentes da
História do Brasil.
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