segunda-feira, 29 de junho de 2009

Marquinhos

Marquinhos é um maluco que ouve um velho rádio de pilha que não toca nada. Mas apesar do silêncio do rádio, ele dança assim mesmo. Balança as pernas, olha através dos edifícios para algum lugar do infinito e a expressão do rosto não denota qualquer prazer. Pelo contrário, a testa franzida demonstra mau-humor permanente.

Quando não está ouvindo o rádio encostado na orelha e dançando, xinga os passantes. Dirige a quem passa impropérios terríveis e impossíveis de se compreender, pois são proferidos numa algaravia complexa e não articulada. Mas o som e o olhar arregalado e raivoso em que são proferidas, não deixam qualquer dúvida de que são palavras que estão abaixo do baixo calão.

Marquinhos não respeita ninguém e, de um lado da Barata Ribeiro, esculhamba quem passa na outra calçada. As vítimas dificilmente percebem que estão sendo atacadas numa linguagem falada em outra dimensão porque o barulho do trânsito abafa os outros sons da rua.

Há dias que não vejo o Marquinhos, alí entre a Paula Freitas e a República do Peru.

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