domingo, 3 de maio de 2009

Futebol


Com o jogo que decide o campeonato estadual, hoje à tarde, entre o Flamengo e o Botafogo, preparo-me para ouvir o alarido de Copacabana, caso o Flamengo faça gol. É impressionante o barulho que faz o povo deste bairro diante dos gols marcados pelo Flamengo. Dá a impressão de que é o grito de toda a sua população, pois o estertor aproxima-se em ondas originadas no Posto Seis e vai até Leme. Um frêmito, uma algazarra de ruídos vocais sincronizados.

De onde vem, de que recônditos da alma humana vem essa paixão que o futebol desperta em nosso povo? Ser torcedor de um time equivale a doar a vontade à mística das cores de um símbolo que identifica um grupo de atletas de cujos pés depende a euforia de um momento que libera a força de emoções reprimidas.

Os gritos em plena rua, a alegria dos torcedores vitoriosos têm seu contraponto na tristeza profunda dos que viram seu time perder um jogo decisivo. Acho que é isso: o futebol permite a liberação das emoções primitivas que habitam o coração dos homens: alegria e ódio, amor e frustração.

2 comentários:

Unknown disse...

É isso mesmo, consideradíssimo irmão, o futebol libera as emoções primitivas. Quanto ao impressionante alarido da Zona Sul com as vitórias do Flamengo, a explicação está na história do clube, que nasceu de uma cisão no aristocrático Fluminense de 1911. O Flamengo levou parte da torcida do outro e também conquistou a classe média emergente. Na equipe rubronegra campeã carioca de 1914, havia 9 (nove) estudantes de medicina.

Numa tarde de domingo, início dos anos 60, saí de carona no fusca de um amigo, de Copacabana ao Maracanã para ver um Vasco X Flamengo. Durante todo o emgarrafadíssimo trajeto, nos vimos cercados de bandeiras do Flamengo; não havia nenhuma do Vasco. Pois quando nos aproximamos do estádio, chegou o trem do subúrbio e a torcida vascaína tomou conta do cenário. Lá dentro, o setor das arquibancadas estava rigorosamente dividido ao meio; e a mundiça, a patuléia, a canalha que espichava o pescoço na geral era toda nossa; aquele espaço desprezado pelos flamenguistas estava enfeitado pelas camisas, bandeiras e alegorias de mão daquele clube nascido longe da Princesinha do Mar e que se fez grande ao abrir as portas para todos os negros que tivessem alguma intimidade com a bola.

Portanto, quando o Vasco é campeão (demora, mas acontece), você dorme sossegado aí em Copacabana porque o povão, a massa, comemora bem longe e estremece a paisagem que também viu o samba nascer.

Celso Japiassu disse...

Neste belo texto, Moacir prova que, embora longe de Copacabana,localizada no subúrbio e na periferia, a torcida do Vasco é bem maior que a do Flamengo.