Em momento de forte depressão, tangido por tristeza intensa,
o músico desabafou: como é bom saber tocar um instrumento. E assim resumiu o
que tem sido um dos papéis desempenhados pela arte, o de purgar as emoções. Um
amigo escritor me dizia que a arte pode ser de alegria, mas supera-se quando
reflete os negros porões da vida.
A morte na alma é sublimada na expressão da arte, queria
dizer o músico que, embora mergulhado na tristeza, confiava no poder da música
que ele próprio sabia tocar. Apenas com seu instrumento, poderia libertar-se
dos abismos que o ameaçavam.
O caos imenso das emoções pode melhorar a qualidade da arte praticada
pelo artista. Mas não é arte em si mesmo. Pode ser matéria prima, algo que, sob controle do artista, venha a se transformar na percepção única de um momento
de beleza sublime ou danação desesperada.
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