Ele havia sido um homem poderoso, entrou cedo na política
abençoado pelos senhores de engenho de Pernambuco. Gostava da boa vida, era inteligente,
sarcástico e divertido. Conheci-o já decadente mas seu talento era superior à
confusão intelectual que a bebida costuma cobrar de seus adoradores.
Foi um deputado ativo, reagiu ao golpe militar de 1964 e terminou
por ser cassado e perseguido. Quando o conheci era um bêbado lúcido, capaz de nos
fazer pensar sobre quase tudo o que dizia.
Fui hóspede em sua casa onde morava só. Acordou-me de manhã dizendo que era
preciso fazer café, comprar pão e fritar ovos. Mas o conhaque estava pronto.
Algo o fez desprezar uma vocação
talhada para a política, o saber e, principalmente, a literatura. Preferiu ignorar
o ponto de fuga que a arte pode proporcionar a quem deseja escapar do beco sem
saída que vida representa. Alguns resolvem enfrentar seus trágicos desígnios mas
sabem que não serão vitoriosos.
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