A última
vez em que o vi ele estava sóbrio e dava para perceber que fazia esforço para
não beber. Estava morando sozinho num apartamento pequeno mas tinha esperança
de que a mulher o aceitasse de volta “por causa das crianças”, me disse. Pensei
para mim mesmo que as crianças já não eram hoje mais crianças. Almoçamos num
botequim da Rua da Bahia e não conversamos muito mais sobre nós mesmos.
Fomos
contemporâneos na universidade e depois colegas de trabalho numa agência de
publicidade. Sua visão do mundo bem-humorada o fazia encontrar sempre algo
divertido para dizer sobre as situações que enfrentava. Mas daquela vez me
deixou a impressão de que as coisas não iam bem na sua vida. Não nos víamos há algum
tempo, reparei nos seus dentes estragados, nos seus silêncios.
Falou algo
sobre os anos que passavam rápido, nas dificuldades de sobrevivência, na falta
de dinheiro que costuma acompanhar o final da vida das pessoas. Depois eu
viajei de volta e não tive mais notícias dele, até que me disseram que seu
corpo fora encontrado no pequeno apartamento em que morava sozinho. Precisaram
arrombar a porta, estava morto há alguns dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário