Hoje, sou mais velho do que
meu pai. E penso que também mais velho do que meu avô. Quando criança, sempre
os olhei como personagens de um mundo diferente do meu, o mundo dos adultos e,
mais do que isso, o mundo dos velhos.
Depois eles morreram e hoje cheguei a uma idade que eles não alcançaram. Sou
mais velho do que eles, meu pai e meu avô.
O momento em que tive a exata
noção de que o tempo passara e que
estava me aproximando da velhice eu vinha pela calçada da Praça Nossa Senhora
da Paz, em Ipanema, e uma bela moça que caminhava em sentido contrário me
olhava com atenção. Pensei “acho que estou agradando” e, quando nos encontramos
de frente um para o outro, ela perguntou “o senhor não é o pai da Fernanda? “ Trocamos
algumas palavras amáveis e continuamos nosso caminho mas uma nova consciência
me assaltava, a de que eu talvez não fosse mais o jóvem que atraia os olhares
pela aparência que tinha, o jeito de me comportar e a maneira dos gestos.
Eu tinha pouco mais de
quarenta anos.
(Trecho de depoimento escrito
para “Os Novos Velhos”, de Léa Maria Aarão Reis)
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