Entre tantas culpas que talvez me levem ao inferno, uma que de
vez em quando me assalta é a do dia em que matei uma pequena ave que pastava na
floresta às margens do Araguaia: uma galinhola, como a chamam na região, um inhambu,
como a chamavam os da minha terra. Uma violência contra uma ave tranquila.
Armado para a caçada, fiz o disparo fatal. E mais tarde a
comemos, nós os da expedição de pesca transformados por uma breve manhã em caçadores.
Pensei na cena em que ela foi morta – distraída e tranquila no meio da verde
vegetação da margem do rio. Mas o arrependimento não foi bastante para inibir o
prazer de saciar a fome com a sua carne.
Pois para isto fomos feitos, animais que sobrevivemos desde
o amanhecer da existência com a morte de outros seres vivos. Domesticamos aves
e bichos para devorá-los, dividimos sua carne em pedaços que não possuem sequer
a memória dos seus corpos. E amamos pensar que somos diferentes dos outros
predadores ferozes dessa estranha natureza que habitamos.
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