quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Viver

Temos um compromisso com a vida e procuramos nela permanecer, enfrentar os seus momentos, sobreviver. Lembro-me de um trecho de Saint-Exupéry em que seu personagem, perdido no deserto gelado dos Andes, conclui que nenhum bicho lutaria tanto pela vida, só um homem seria capaz de enfrentar tão grande desafio e sair vencedor.

Desde que nascemos, a partir do primeiro respirar e do primeiro pranto surge uma estranha ligação com o ato de viver. Uma simbiose entre o estar no mundo e o destino que se transfigura em tragédia e dor mas também nos toques de esperança: a constante possibilidade da vida, seu rítmo e seu diário amanhecer.


Doka, que foi meu amigo, um cético, me disse um dia que viver só valia a pena porque não havia alternativa. Não existia vida plena nem completamente feliz mas havia, sim, momentos que compensavam suas mala-aventuras. Estes momentos, dizia, raramente dependiam de nós mesmos. Dependiam do Outro e nisto coexistiam o prazer da vida e o seu inferno.

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