Temos um compromisso com a vida e procuramos nela
permanecer, enfrentar os seus momentos, sobreviver. Lembro-me de um trecho de
Saint-Exupéry em que seu personagem, perdido no deserto gelado dos Andes,
conclui que nenhum bicho lutaria tanto pela vida, só um homem seria capaz de
enfrentar tão grande desafio e sair vencedor.
Desde que nascemos, a partir do primeiro respirar e do
primeiro pranto surge uma estranha ligação com o ato de viver. Uma simbiose
entre o estar no mundo e o destino que se transfigura em tragédia e dor mas
também nos toques de esperança: a constante possibilidade da vida, seu rítmo e
seu diário amanhecer.
Doka, que foi meu amigo, um cético, me disse um dia que
viver só valia a pena porque não havia alternativa. Não existia vida plena nem
completamente feliz mas havia, sim, momentos que compensavam suas
mala-aventuras. Estes momentos, dizia, raramente dependiam de nós mesmos. Dependiam
do Outro e nisto coexistiam o prazer da vida e o seu inferno.
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