A moça na cadeira de rodas faz esforço para vencer os
ressaltos e fendas no calçamento de pedras portuguesas. Penso em como são
perfeitas as idênticas calçadas de Lisboa e como elas são precárias em
Copacabana. Passa de bicicleta, em velocidade, o homem com o gato amarelo
agarrado em suas costas. Ele e o outro, o que carrega um pássaro no dorso,
repetem o mesmo desfile todas as tardes.
O dia de primavera parece ser propício também ao
diversificado desfile das mulheres, algumas vestindo abrigos de frio, outras em
pequenos shorts anunciando o próximo verão. Marquinhos, o maluco, segue
discretamente com o olhar a moça de pernas bonitas que move os quadris num
rítmo suave e quase provocante.
Foi quando o automóvel cinza atropelou o viralatas amarelo
que tentava atravessar a rua. O cão ganiu, tentou levantar-se mas suas patas
não obedeceram. Outros automóveis passavam em velocidade, alguns desviavam-se
do cão atropelado, outros freiavam e Jorge, segurança do botequim, atirou-se no trânsito e conseguiu
arriscadamente trazer o animal nos braços. Foi um gesto pequeno mas suficiente como
testemunho da grandeza humana.
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