domingo, 27 de novembro de 2016

Utopia


Sem a utopia, o que é o homem? Talvez nem o cadáver ambulante que procria, como definiu Fernando Pessoa. Em sua miséria interior, na sua violência animal, desprezo pelos semelhantes, insegurança e atração pelo crime, o bicho humano sonha ao mesmo tempo com a transcendência, a virtude, a justiça e um mundo melhor. Em sua miséria e nas contradições da sua alma sombria, busca desesperadamente a redenção.

Há muito desistimos de um mundo perfeito mas não de sonhá-lo.  Os que ainda não desistiram procuram ecoar alguns valores que precisam ser constantemente veiculados para não se tornarem esquecidos: a tolerância, a busca da verdade, o direito humano ao fracasso, a solidariedade e a justiça.

Testemunhar a ferocidade dos homens leva à desesperança. Há quem desista para se lançar à margem do caminho. Outros, como dizia Paulo Mendes Campos,  resolvem não pensar mais na ferrovia, mas no homem que se consumiu na ferrovia. E concluir que, se multiplicou sua própria dor, multiplicou também sua esperança.

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