terça-feira, 3 de novembro de 2015

Atividade


Iniciou muito cedo a sua jornada e de repente apareceu com um beija-flor preso na boca. Consegui resgatá-lo depois de algum trabalho para convencê-la. A pequena ave, em minhas mãos, com o coração disparado, demorou um pouco a acreditar que estava de novo em liberdade até partir num voo confuso, sem rumo, desesperado. Como costuma ficar sempre por perto, acompanhando meus movimentos, pulou para a mesa do computador, desorganizou os objetos que estavam em cima, pouco depois conseguiu acionar o grampeador e cravar um grampo na pata dianteira, que removi com cuidado. Ela permitiu essa operação talvez dolorosa com tranquilidade embora um pouco trêmula.

Passou alguns minutos lambendo o local ferido, atividade interrompida pelo salto veloz na direção de um pombo que pousara no muro da varanda. O ataque falhou e mais uma vez seu miado de decepção prometia futuras retaliações contra qualquer outro pássaro que se arriscasse em seus domínios. Sobrou para um bem-te-vi descuidado que espantei com um grito e por muito pouco não teve o mesmo destino do beija-flor. Ela passou a me olhar com desprezo e algum ressentimento.


Aceitou as pazes depois de uma guloseima mas mesmo assim marcou seu protesto correndo na direção de qualquer coisa que se movesse, fosse pássaro, planta, inseto ou papéis tocados pelo vento. Deu algumas corridas, acompanhou com o olhar um ruidoso bando de maritacas que passou ao longe e, como eram apenas sete horas da manhã, acomodou-se em minha mesa de trabalho, fechou os olhos e fingiu que dormia, sem deixar de me vigiar. Acompanha o movimento dos dedos no teclado. Disfarça. Como um dos seus divertimentos é me pregar sustos, espera que eu me distraia. A qualquer momento vai atacar.

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