terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pertencimento


Entre as palavras em moda, pertencimento é de formação erudita, não surgiu espontaneamente da linguagem viva, falada pelo povo e consagrada pelo uso. Por isso é tão feia, arrogante e de feição esnobe. Mas define adequadamente um sentimento humano que está presente em nossos tempos conflagrados. Há um desejo angustiado de pertencer a um grupamento maior do que o próprio indivíduo, de não ficar à margem dos outros, de fazer parte da festa ou do gesto coletivo.

As grandes torcidas de futebol que se unem em torno de um time tem origem na necessidade individual de fazer parte daquele grupo que sofre unido com as derrotas e comemora as vitórias. Assim como nos exércitos, nas manifestações e nas competições de desfiles de carnaval. Ficar à margem, recusado pelos outros ou pela incapacidade de pertencer ao grupo, provoca sofrimento e revolta.


O ressentimento dos marginais leva à condenação do grupo que os recusou. Cresce então o sentimento de vingança, do ódio capaz de levar ao paroxismo do massacre de inocentes, do gesto terrorista de explodir a si mesmo para também matar o maior número possível de circunstantes. O marginalizado une-se a outros, passa a pertencer a núcleos inspirados pela ideologia ou pela fé. O objetivo é a vingança difusa, encarniçada, insana, que procura simbolizar-se nas grandes tragédias sem sentido.

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