Perto do meio-dia, encontro Marquinhos, o maluco da
vizinhança, no botequim onde costumam lhe dar um pão e um copo de café. Com sua
voz confusa me diz que estava vindo do enterro de um amigo. De longe, disse, tinha
visto quando haviam jogado terra sobre o caixão do amigo.
Ele estava agitado, Marquinhos. Engasgava com o café,
tossia. O rosto se tornava vermelho e os olhos se esbugalhavam. Disse que o
amigo era diabético – tive muita dificuldade de entender esta palavra – mas não
havia morrido disso. E apontou para o copo onde eu bebia, como a dizer que
tinha sido aquela a causa da morte do amigo.
Enquanto apontava para meu copo, olhava diretamente em meus
olhos, como a me provocar uma reflexão sobre o que eu fazia. Deu um prolongado
gole no café quente, engasgou novamente, tossiu, cuspiu, me olhou fundo e foi
embora andando rápido pela calçada, assustando os transeuntes que não o
conhecem com a sua figura feia, estranha, mal vestida, e que nos faz pensar um
pouco em nossa própria loucura.
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