terça-feira, 12 de agosto de 2014

Cães noturnos

Os cães da razão atacam a alma dos loucos nas madrugadas sombrias. Eles vagueiam nas noites enluaradas e partem nas viagens sem destino certo. Como peixes, buscam as águas mais profundas, separam-se para depois juntarem-se novamente em cardumes incertos e sem forma definida.

Encontrei este parágrafo escrito num papel deixado em cima da mesa do botequim. Depois perdi o papel e reconstituí o texto de memória, não tenho então certeza se as palavras são exatamente aquelas. O sentido – ou falta de sentido – está mantido e as imagens que evoca depende do leitor, como acontece com todos os textos enigmáticos.


O texto literário, principalmente o texto poético, depende tanto do autor quanto de quem lê, para ter sentido. O entendimento pode variar de uma para outra leitura, na dependência de quão misteriosas sejam as palavras escritas. Tenho pensado no que se passaria nas emoções do autor daquele parágrafo quando escreveu que a razão possui cães que avançam sobre a alma dos loucos. Eles preferem as madrugadas sombrias.

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