Os cães da razão
atacam a alma dos loucos nas madrugadas sombrias. Eles vagueiam nas noites
enluaradas e partem nas viagens sem destino certo. Como peixes, buscam as águas
mais profundas, separam-se para depois juntarem-se novamente em cardumes incertos
e sem forma definida.
Encontrei este parágrafo escrito num papel deixado em cima da
mesa do botequim. Depois perdi o papel e reconstituí o texto de memória, não
tenho então certeza se as palavras são exatamente aquelas. O sentido – ou falta
de sentido – está mantido e as imagens que evoca depende do leitor, como
acontece com todos os textos enigmáticos.
O texto literário, principalmente o texto poético, depende
tanto do autor quanto de quem lê, para ter sentido. O entendimento pode variar
de uma para outra leitura, na dependência de quão misteriosas sejam as palavras
escritas. Tenho pensado no que se passaria nas emoções do autor daquele
parágrafo quando escreveu que a razão possui cães que avançam sobre a alma dos
loucos. Eles preferem as madrugadas sombrias.
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