quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Uma paisagem


Ao amanhecer, uma brisa suave lembrava o sopro de coisas mortas, como se fosse uma lembrança antiga da vida que ali tinha existido. De tão leve, era incapaz de levantar a poeira finíssima que quase cobria os móveis e os objetos de uma casa que um dia fora ameaçada pela ventania. Depois, na calma que viera, nada se movia, apenas o pó suspenso pelo ar das frestas obscuras.

Nessas paragens quietas, insetos lembravam gotas d’água, viam-se nuvens construindo um céu de chumbo e a pouca luz montava uma moldura de retratos improváveis. A sombra esmaecia restos de luz sem brilho, breve claridade fria como o vento de um país gelado.


Lá, nessas paragens estranhas, uma criança crescia e olhava em sua volta, procurava ver alem desse horizonte de chumbo e descansava a cabeça numa pedra escurecida. Como se fosse apenas um reflexo, uma réstia dessa luz perdida que se pode encontrar em paredes desenhadas pelo tempo.

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