Este céu azul e a temperatura amena do outono tornam bons
estes dias em que o calor sufocante do verão ficou na memória. Talvez
prenunciem um inverno frio, pois vivemos a era dos extremos e tudo se
radicaliza. O tempo, as idéias, as temperaturas do clima. O horizonte político
do nosso entorno, eventos, protestos, tudo conspira para uma atmosfera pesada.
No ambiente de uma cidade de trânsito parado, com todas as
dificuldades previsíveis mas não evitadas, as ruas parecem dizer que as grandes
metrópoles fracassaram. Seus habitantes sofrem com a violência em todos os seus
significados e parecem conformados. Os protestos são apenas protestos, nada
propõem a não ser mais violência.
Marquinhos, o maluco da vizinhança, cuja face expressa
sempre aquela mistura de perplexidade, ódio, dor e compreensão de tudo, ouvia
hoje pela manhã o seu rádio que está sempre mudo. Olhava para o alto dos
edifícios, prendia a respiração e de vez em quando soltava um grito forte,
talvez de revolta, quem sabe de desespero ou mesmo de ironia.
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