A cidade onde nasci não existe mais. Enormes edifícios
construíram uma muralha, ao lado dela largas avenidas rasgam o que restou de
paisagem. As estatísticas de violência urbana cresceram sufocando a paz em que foram vividas infância e
adolescência. Já não pertenço mais à
amena província onde cresci.
Também não sou daqui, desta cidade onde vivo, porque as
raízes não se fincaram no chão. Existe uma atmosfera de gazes e de sons
estrangeiros, diversos modos de falar e de entender o mundo, parcos
cumprimentos, uma guerra nos bairros da periferia. A morte espreita a vida.
À noite sopram ventos sem origem, peixes morrem fora d’água,
nuvens constroem um céu de chumbo e os homens avançam em luta contra a
natureza. É uma cidade de mitos cultivados, crenças difusas, tempestades
perfeitas. Habitada pelo medo, onde grupos de crianças andando na rua podem
significar uma ameaça sombria.
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