quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Ausência

Faz tempo que não os vejo juntos, os quatro velhinhos gays. Costumavam sentar-se no botequim da esquina e nas manhãs de sábado concentravam a atenção na saida do metrô. Deleitavam-se alegremente com a chegada dos jovens que vinham do subúrbio. E trocavam comentários sobre a beleza da juventude que desfilava em direção à praia.

Um deles aparentava estar doente. Muito pálido, apoiado na bengala, mas não parecia disposto a se entregar. Fumava e bebia muito. Outro, bem vestido, elegante, olhava em volta como se estivesse entediado com a mediocridade e a falta de classe de Copacabana. Percebi que na conversa entre eles costumava mencionar lugares de Paris que conhecera quando jovem.


Este ainda está presente nos lugares de antes. Caminha com dificuldade, apoiado ao braço de uma acompanhante e às vezes senta-se a uma mesa do mesmo botequim. Permanece calado e ausente, como se não houvesse ninguém a seu lado, apenas as brumas cinzas que misturam presente e passado na solidão dos velhos.

Um comentário:

Unknown disse...

Celso, muito bonito seu texto sobre os quatro amigos que experimentam a tragédia da velhice. Na sociedade mercadológica tem valor o que vende, o que é trocado,o que pode ser útil nas transações comerciais. Nas amizades, nos círculos familiares, no mundo universitário, nas religiões o novo é sempre o mais desejado, o mais aplaudido.talvez nenhum exemplo seja tão bom da sociedade líquida de que fala Balm do que este despreszo pelo antigo e este endeusamente do que é novo.Parabéns .Jales e Otaviana