Marquinhos, já falei dele por aqui, é
um maluco que ouve um rádio velho que não fala nem toca nada. Mas apesar do
silêncio do rádio, ele dança ao som de uma música imaginária. Balança as
pernas, olha através dos edifícios para algum lugar do infinito e a expressão
do seu rosto não denota qualquer prazer. Pelo contrário, a testa franzida
demonstra mau-humor permanente.
Quando não está ouvindo o rádio encostado na orelha e dançando, xinga a humanidade. Dirige a quem passa impropérios terríveis e impossíveis de se compreender, pois são proferidos numa algaravia complexa e não articulada. Mas o modo de falar e o olhar arregalado e raivoso não deixam qualquer dúvida de que são palavras de ofensa e condenação.
Marquinhos não respeita ninguém e, de um lado da Barata Ribeiro, esculhamba quem passa na outra calçada. As vítimas dificilmente percebem que estão sendo atacadas numa linguagem proferida em outra dimensão pois o ódio de Marquinhos é abafado pelo barulho da rua. E também porque as pessoas nunca enxergam os que são feios, velhos ou diferentes.
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