segunda-feira, 27 de abril de 2015

Anjo negro

Sem perdão, o anjo decaído vaga do lado de fora dos portões do Paraiso. Do lado leste, onde pássaros estranhos, escuros, rondam os passos notívagos dos condenados. Em sua volta eles voam, grasnam, levantam as asas e misturam sua penas com a linha de um horizonte onde as sombras levantam-se e cobrem as primeiras manchas tingidas da aurora.

O rumo das serpentes, a viração doentia de um vento úmido prenunciam enchentes, destruições e palavras sem sentido de sacerdotes cegos de fúria clamando arrependimento. Só restam traços da caminhada em fuga da vingança.


Anjo negro destituído de aura, feio, olhos ausentes, rosto encovado dos vampiros, exibindo sua angústia do lado de fora das igrejas, mendigando nada. Traz consigo só meditação sombria, eterna indagação sobre o destino das coisas intangíveis e a surpresa dos que foram desprezados às margens do Aqueronte.

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